07/03/2017

RAQUEL CARRILHO

.




Não devia valer tudo

Dia de trabalho aparentemente normal no Parlamento Europeu. Corria o debate sobre a desigualdade salarial entre géneros na Europa, no qual se discutiam dados do Eurostat que indicam que as mulheres dos países da União Europeia ganham, em média, menos 16% que os homens.

Em plena discussão, o eurodeputado polaco de extrema-direita Janusz Korwin-Mikke, tomou a palavra: “Sabem que posição as mulheres ocupavam nas olimpíadas gregas? A primeira mulher, digo-vos eu, ocupou a posição 800. Sabem quantas mulheres há entre os primeiros cem jogadores de xadrez? Eu digo: Nenhuma”, disse, para logo concluir. “Claro que as mulheres devem ganhar menos do que os homens porque são mais fracas, mais pequenas e menos inteligentes”.

De imediato um coro de protestos se fez sentir, liderado pela eurodeputada do PSOE Iratxe García: “Senhor deputado, segundo as suas teorias, eu não teria o direito de estar aqui como deputada, E sei que lhe dói e que o preocupa que hoje nós, mulheres, possamos estar aqui a representar cidadãos em igualdade de condições. Mas venho aqui defender as mulheres europeias de homens como você”. Já o líder dos socialistas italianos, Gianni Pittella, pediu “uma sanção exemplar contra as vergonhosas declarações de Korwin-Mikke, que vão contra os princípios de igualdade de género desta casa”, e Antonio Tajani, presidente do Parlamento Europeu, anunciou uma investigação.

Infelizmente, esta não foi a primeira vez que Korwin-Mikke deu ‘um ar de sua graça’. Em 2015, fez a saudação nazi ao entrar no hemiciclo, e durante o ano passado chamou os refugiados de “lixo humano” e queixou-se do facto de as mulheres poderem votar. Por todos estes gestos foi sancionado. E isto foi apenas no Parlamento Europeu. Fora dele, o polaco de 74 anos - que vai já no terceiro casamento e ter oito filhos - aproveitou uma candidatura presidencial, em 2015, para defender a legalização da pornografia infantil e a proibição do voto das mulheres. Como pode este homem - que apesar de eleito personifica o oposto daquilo que são os valores da instituição para que foi eleito - sentar-se no Parlamento Europeu? Por mim sei bem qual seria a sanção ideal: substitui-lo por uma mulher.

IN "SOL"
O4/03/17

.

Sem comentários: