10/02/2017

MIGUEL GUEDES

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TAP a preço de caramelos

A cidade do Porto vive um momento de exuberância pela forma como é olhada pelo mundo e visitada pelas pessoas, o que se comprova pelo molde apaixonado dos que saem do Porto levando a cidade nos olhos. A TAP, utilizadora nacional do aeroporto Sá Carneiro, é uma companhia aérea de referência, ideia que alguns indicadores reforçam (veja-se a sua inclusão no "ranking" das preferências do portal de viagens eDreams e as críticas abonatórias no jornal norte-americano "Huffington Post"). Para factos pouco subjectivos, sobram perguntas e pedras rubras na calçada.

O que explica que a TAP despreze - até do ponto de vista económico e de rentabilidade - o momento extraordinário que a cidade vive, repleta de reconhecimento e referências e, uma vez mais, forte candidata ao prémio de "Melhor Destino Europeu 2017", galardão que já alcançou em 2012 e 2014? 

O que justifica que uma companhia de bandeira nacional com 50% de participação pública, olhe com desdém para a cidade portuguesa que mais visivelmente cresce aos olhos do turismo global, lesando os seus bolsos, as suas obrigações implícitas e o devido respeito pelo interesse nacional, versão coesão e versão desenvolvimento? Como se explica que a TAP continue a fazer tudo o que tem feito, há mais de uma década, para tentar arruinar - com dinheiros inteiramente públicos ou parcialmente privados - o aeroporto Sá Carneiro? Urge que o Estado ponha um fim aos "voos nocturnos" da TAP. Em nome do interesse de todos, a única solução que ganha caminho é a da recapitalização da empresa pela sua gestão pública de forma a readquirir o seu controlo estratégico.

Centralização, terceira travessia sobre o Tejo, novo aeroporto na margem sul. Capitulação ou revolta. Porto/Vigo: com 120 km em distância e 147 km em rota, a TAP foi a primeira companhia a fazer voos internacionais no aeroporto de Vigo... e agora, muitos deles, quase ao preço dos caramelos do "passado-pesetero" de Vigo ou Ayamonte. O preço a pagar: depois da extinção das rotas para importantes cidades europeias, espera a TAP contar com a bonomia da cidade do Porto quando se percebe que é bem mais dispendioso sair do Porto na companhia aérea para diversos destinos, comparativamente aos preços praticados pela TAP nas saídas do aeroporto de Vigo? Haverá alguns exemplos inversos, obviamente, mas esses fazem parte da sua obrigatória normalidade de encargos e das legítimas expectativas e interesses do país face à participação pública na empresa.

A Assembleia Municipal do Porto cuidou dos interesses da cidade ao aprovar, maioritariamente, uma moção contra as decisões da TAP e da ANA, reforçando a posição que Rui Moreira tem vindo a defender. Mas tal como na TAP, pouca vergonha e meia de letra. Lamenta-se que a CDU - concordando eu com a sua posição de fundo - não tenha sido capaz de esvaziar o seu voto da ideologia, preferindo continuar a aterrar na sua pista de sempre.

MÚSICO E ADVOGADO

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
08/02/17


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