20/06/2016

MANUELA NIZA RIBEIRO

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A ameaça

À parte o já batido “ Somos…” que assume o nome do mais recente ataque – Paris, Bruxelas, Orlando – o cidadão comum pergunta-se qual a resposta efetiva dada até ao momento pelas Autoridades competentes. Estou em crer que ela exista de forma discreta e que até seja eficaz. Afinal por um ataque infelizmente bem sucedido outros dez são evitados.

O problema está na informação ou melhor, na falta dela, que acaba por funcionar em efeito boomerang dando origem a sentimentos de insegurança que, em última análise fazem aumentar o terror e concedendo-lhe, por essa via, novas vitórias. Saber se o atirador de Orlando era ou não um “ lobo solitário” é irrelevante. Discutir se se tratou dum crime de ódio homofóbico ou um acto terrorista, de pouco importa, e discuti-lo em praça pública é contraproducente já que lhe concede os tão almejados 15 segundos de fama.

A arena privilegiada deste novo terrorismo são os media e as redes sociais. Através deles disseminam-se ideias, recrutam-se novos terroristas, espalham-se imagens e palavras, cujo único fim é incutir e aumentar o terror. A partir de agora qualquer louco homicida se auto proclamará emissário do estado islâmico. Concedeu-se-lhes um estatuto mediático irresistível.

É bem sabido que a grande maioria dos agressores, sobretudo os que protagonizam crimes de sangue, deseja o reconhecimento público, tanto ou mais que alcançar o objectivo dos seus actos. O nome no jornal, o rosto que passa de incógnito a vedeta por algum tempo, torna-se não raras vezes na espoleta da granada.

Ora se aliado ao acto em si, ainda se lhe juntar o estatuto de terrorista islâmico, o impacto é exponencial e de imediato aproveitado por quem, mesmo que alheio a todo o acontecimento, não se inibe de o reclamar, já que tal representa mais um degrau na escala do medo.

Nunca como agora os media e a informação, tiveram um papel tão importante quer na prevenção quer no combate a uma ameaça.

Perante este inimigo difuso, transversal e imponderável, que usa as novas tecnologias da informação para alcançar os seus fins, qualquer acção de combate tradicional é irrelevante e desadequado.
A guerra tem que ser travada no mesmo terreno: na informação!

E é aqui que todos em geral, e os jornalistas em particular, são chamados a cerrar fileiras e a concentrar-se na comunicação de risco que há que fazer.

Há que se cingir aos factos eles são neste último acontecimento, drasticamente simples: 50 mortos e 53 feridos num vulgar lugar de diversão, como existem milhares nas nossas cidades.

De pouco interessa o tipo de frequentadores, suas escolhas, futebolísticas, sexuais, religiosas ou partidárias. Foram mortos 50 filhos de alguém, choram-se 50 vidas perdidas, temem-se por outras tantas.

O que deveria importar era a forma perfeitamente simples, fácil, como se entra num local público e se massacra indiscriminadamente. Essa sim deveria ser a preocupação e a discussão pública, o objetivo da resposta.

Centrando-se o debate e a informação na problemática da lei das armas nos Estados Unidos esvaziar-se-iam grande parte dos diferentes discursos que nada acrescentam e que servem apenas de eco de terror e focar-se-ia a questão onde ela tem que ser colocada: na legislação adequada e na prevenção de atos semelhantes. Tudo o resto é terrorismo doméstico levado a cabo pelas potenciais vítimas.
 
* Presidente do Sindicato dos Funcionários do SEF e professora universitária

IN "OJE"
16/06/16

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