19/06/2016

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ESTA SEMANA NO
"DINHEIRO VIVO"

Trabalho afeta vida pessoal 
de 33% da população

O trabalho já afeta ou perturba a vida pessoal, privada, de 1,5 milhões de trabalhadores em Portugal, cerca de 33% do total.

Ainda assim, mais de metade desta população garante que não sente frequentemente esse tipo de interferências. Estes são alguns dos resultados que emergem do novo inquérito especial do INE feito paralelamente (ad hoc) às estatísticas do emprego de 2015. 

Com a pesquisa, o INE tenta medir a flexibilidade e a autonomia concedidas aos empregados em Portugal. Do universo alvo – 4,6 milhões de pessoas – foram “excluídas as pessoas empregadas em atividades de agricultura ou pesca para auto consumo”. A população-alvo deste estudo “corresponde às pessoas residentes em Portugal com 15 e mais anos que estavam empregadas nas semanas de referência do 2.o trimestre de 2015”. 
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O artigo que acompanha os resultados, da autoria de Sónia Torres, Daniela Ramos e Ana Luísa Neves, refere que “56,6% da população empregada indica nunca ter tido contactos profissionais fora do horário habitual de trabalho nos últimos dois meses. Esta situação é reportada mais frequentemente por mulheres (62,6%) do que por homens (50,8%)”. Ou seja, os homens são mais vezes solicitados pelo empregadores do que as mulheres por causa de assuntos de trabalho fora do horário de expediente. 

Interessante também é que, quanto mais elevada é escolaridade do trabalhador e quanto mais de “topo” é a profissão, maior a frequência dos contactos de cariz laboral fora do horário habitual. 

 Por norma, as profissões de topo são também, mostra o INE, mais bem remuneradas e trazem um grau de responsabilidade superior, o que ajuda a explicar o grau de interferência extra trabalho superior. 

Por exemplo, na profissão dos políticos, membros do governo e altos cargos da Administração Pública, bem como líderes empresariais do sector privado, apenas 34,6% diz nunca ter sido contactado com esses assuntos nos últimos dois meses. De outro modo, o INE mostra que a 60% desses políticos, gestores e dirigentes foi solicitado algum contributo laboral fora do seu expediente normal. Cerca de 33% desse grupo diz mesmo ter sido contactado três vezes ou mais para que fizesse alguma coisa rapidamente para resolver a situação, “não podendo a mesma ser adiada ou esperar pelo seu regresso” ao trabalho. 

Os profissionais dos serviços, como atividades de informática e comunicações, sector financeiro e de seguros, atividades de consultoria, científicas e técnicas ou o ramo do imobiliário são de longe muito requisitados quando não estão formalmente a trabalhar. 
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Como seria de esperar, 61% dos trabalhadores por conta de outrem diz não ter sido interrompido por questões de trabalho fora do expediente; a percentagem cai para 36,3% no caso dos que trabalham por conta própria. 

A 15 minutos do trabalho 
Pode dizer-se que a maioria dos empregados em Portugal trabalha perto ou muito perto do local de trabalho: mais de metade (51,3%) leva menos de 15 minutos para chegar ao serviço. 

As três autoras referem ainda que “dois terços da população empregada afirma não ter liberdade para determinar o seu horário de trabalho diário. Esta realidade é mais acentuada entre as mulheres”. E que “em Portugal, é relativamente fácil” o trabalhador “ausentar-se do seu local de trabalho por um curto período de tempo, principalmente no caso dos homens”. Parece haver flexibilidade quando se trata de sair uma hora ou duas do serviço por “motivos pessoais ou familiares”. 

Já a flexibilidade para tirar férias com pouca antecedência ou definir o seu horário de trabalho é reduzida. “Quase metade da população empregada considera ter dificuldade em usufruir de um ou dois dias de férias planeados com pouca antecedência”. As mulheres têm uma “perceção de maior constrangimento”. 

 “Mais de metade da população empregada regista as suas horas de trabalho” e mais de metade também “afirma sentir-se pressionada em termos de tempo no seu local de trabalho, principalmente as mulheres”. 
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As peritas explicam que enquanto quase dois terços dos trabalhadores “afirmam ter autonomia para escolher o tipo e a ordem das tarefas que desempenham”, mas o estudo realizado pelo INE também releva que cerca de 66,8% “declaram não ter influência no modo como o seu horário de trabalho diário é definido”, sendo ; este horário “determinado pela empresa, clientes ou disposições legais”. “Esta situação é mais frequente para as mulheres (71,5%) do que para os homens (62,2%)”. 

Mais de dois terços dos inquiridos admitem ter um horário de trabalho rígido ou estável, independentemente das exigências dos chefes e do fluxo de trabalho. A 68,7% da população é pedido, ; “apenas pontualmente (menos de uma vez por mês)”, um ajustamento de horários “devido a exigências do trabalho, dos clientes ou da hierarquia”. 

* Parecem ser números bons mas só confirma que a escravatura moderna no trabalho existe mesmo.

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