28/03/2016

CRISTINA FONSECA

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Startup quê?

Um investidor internacional com quem me cruzei dizia que “as startups portuguesas precisam de mais ambição”. A visibilidade cria falsas expectativas.
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Temos startups nacionais a dar cartas lá fora, o Web Summit vai acontecer em Lisboa e respira-se empreendedorismo! Numa altura em que há muitos olhos postos em Portugal, vai haver cada vez mais startups a estabelecer-se cá. Com a competição a crescer, como será que podemos manter-nos na primeira liga?
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Um investidor internacional com quem me cruzei há pouco tempo dizia que “as startups portuguesas precisam de mais ambição”. Não creio que seja o caso mas a verdade é que a visibilidade que se tem dado ao empreendedorismo em Portugal cria, por vezes, falsas expectativas. De repente parece que todos os negócios podem ser “mascarados” de startup.

Pessoas diferentes têm definições diferentes para startup mas há um denominador comum: o fator crescimento. Do ponto de vista de um investidor, o mercado das startups é atrativo pelo potencial de retorno, que é muito maior do que investindo em produtos financeiros tradicionais. Esquecemo-nos de que, no momento em que nos colocamos na corrida ao investimento, estamos a criar a promessa de uma multiplicação de valor considerável que podemos não querer (ou não conseguir) pagar. Daí que este caminho faça sentido quando o potencial de negócio for claro.

Potencial de negócio significa clientes ou utilizadores, logo mercados grandes são necessários para se ter sucesso. Quer isto dizer que não chega ter-se uma equipa de sonho, uma capacidade de execução brilhante e um modelo de negócio sólido. Esta é uma das razões pelas quais a América, a China e outros mercados têm maior propensão a ter sucesso, quando uma empresa surge para resolver um problema de um destes mercados o potencial de escala é maior.

Queremos muito que sejam as empresas e os negócios portugueses a tirar partido do imenso talento que há em Portugal e não podemos condenar a nossa falta de ambição. Um ecossistema mais competitivo vai mostrar-nos que os próximos tempos serão daqueles que melhor souberem capitalizar esse talento com desafios interessantes. 
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Para isso temos de deixar de chamar startup aos lifestyle businesses que não têm alto potencial de crescimento (não há problema absolutamente nenhum nisso, nalguns destes casos isso resume-se a ter ambição na medida certa. Não podemos é confundir isso com criar uma startup e o que isso exige). E, com recursos cada vez mais limitados, temos de aprender a não desperdiçar tanta energia a tentar procurar um problema para a solução que encontrámos num mercado de 10 milhões de pessoas.

Cofundadora da startup portuguesa Talkdesk.
 
IN "DINHEIRO VIVO"
26/03/06

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