14/02/2016

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ESTA SEMANA NA
"SÁBADO"

Cuidado, isto não é o que parece 

Pode não ser azeite mas uma mistura com óleo alimentar. A máfia italiana ganha milhões com versões duvidosas dos produtos emblemáticos

Câmaras escondidas em armazéns de comida, escutas secretas, polícias infiltrados. Este podia ser o circo montado à volta da investigação de um crime ou de uma rede de tráfico de droga. Mas, aqui, o objectivo é descobrir, afinal, quem é que anda a pôr detergente no queijo mozarela, para ficar mais brilhante, a misturar óleo no azeite virgem extra (a produção sai mais barata) ou a borrifar marisco estragado com ácido cítrico – naturalmente presente no limão e na laranja –, para esconder o mau cheiro. 
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Cerca de metade das garrafas de azeite extravirgem vendidas em Itália não correspondem aos parâmetros estabelecidos para aquele produto – e nos Estados Unidos a percentagem sobe para 75 a 80 por cento. Uma reportagem do programa norte-americano 60 Minutos, da CBS, levantou novas questões sobre um problema antigo, a chamada agromáfia – isso mesmo, a máfia do mercado agro-alimentar – ou, se preferir, os gangsters da cozinha. Para a combater, há grupos especiais, como o de Sergio Tirro, um dos mais prestigiados inspectores da indústria alimentar que trabalha com 60 polícias treinados para distinguir azeite extravirgem de azeite adulterado. Os resultados deste painel de provadores são aceites nos tribunais italianos. Nas ruas, há outros 1.100 agentes, que levam a cabo inspecções e investigações de fraude.

Porquê azeite? Porque é caro e moroso fazer um azeite extravirgem, de qualidade – e o negócio paralelo, que sai a uma ninharia, pode fazer render milhões (mais precisamente, cerca de 15 mil milhões de euros por ano). A margem de lucro chega a ser três vezes maior do que a do negócio da cocaína.

Fraude com séculos
Até na época dos romanos o azeite comercializado era sujeito a provas – precisamente para despistar casos de fraude. No século I, aliás, o negócio era comparável ao petróleo nos dias de hoje. O líquido sempre foi precioso: para usar na cozinha, fazer sabão, acender lamparinas, tratar da queda de cabelo e outras maleitas.

Estas e outras curiosidades apaixonaram Tom Mueller, um norte-americano a viver em Itália que em 2007 escreveu sobre o azeite para a revista The New Yorker. Mueller abordou a perspectiva histórica e cultural, os processos actuais do negócio e, claro, a fraude. A investigação do jornalista deu origem a um livro, publicado em 2011, Extra Virginity – The Sublime and Scandalous World of Olive Oil (ou extra virgem – o sublime e escandaloso mundo do azeite).

A escolha é sua
Para a próxima, leve estas dicas para o supermercado
Compre garrafas de vidro, de preferência escuro, porque não deixam entrar luz, o que pode tornar o azeite rançoso. Procure o DOP (denominação de origem protegida) que garante que o processo é daquela região e segue métodos tradicionais. Mais: não se deixe fascinar por um amarelo brilhante ou um verde claro. A cor não é um indicativo de qualidade mas consequência das azeitonas usadas.

Em Itália, os carabinieri (polícia) continuam, em supermercados, a investigar prateleiras suspeitas. E os casos de fraude não se ficam por aqui; a investigação estende-se a produtos como pão, manteiga e até molho de tomate – em 2013, foram apreendidas várias latas que tinham puré de tomate da China.

A Itália, que também é conhecida pela quantidade e qualidade do vinho que produz (em 2015 foi considerado o maior produtor mundial, à frente de França e Espanha, respectivamente), também registou casos de falsificação nas suas garrafas mais exclusivas. É, afinal, muito simples: a máfia enche-as de vinho barato. Depois, é só retocar o exterior e colocar um rótulo bonito, de uma marca de renome.

* Uma alerta para quem gosta de comprar alimentos nos estrangeiro, em Portugal também há mixordeiros, mas a ASAE vai cumprindo o seu dever.


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