27/02/2016

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ESTA SEMANA NO 
"OJE"

Agressividade de Salgado
 para Costa sobe de tom

Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, entrou ao ataque e fez acusações ao governador do BdP. A situação do NB, com elevados prejuízos, decorre da decisão de Carlos Costa. Salgado chamou-o à pedra. Costa, em nota, limitou-se a elogiar a gestão de Stock da Cunha, no dia em que é anunciado um despedimento coletivo de 500 colaboradores. 
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A frase mortal foi feita esta quinta-feira, aquando da apresentação de contas do Novo Banco (NB). Eduardo Stock da Cunha, o CEO da instituição, afirmou que os resultados negativos do banco foram “fortemente influenciados pela má herança do BES”. E ainda que o NB foi a instituição com o maior nível de provisões de imparidades, 1058 milhões de euros, dos quais 592 milhões de euros herdados do ex-BES”. Este foi o ponto de ignição para uma resposta do ex-CEO do BES.

Ricardo Salgado fez acusações diretas ao governador do BdP, Carlos Costa, que desenhou o modelo de resolução da instituição financeira. Costa, por seu lado, e no final da tarde de ontem, veio elogiar a reestruturação e a capacidade da equipa de gestão e dos colaboradores do NB, exatamente um par de horas depois de ser conhecida a intenção de um despedimento coletivo de 500 trabalhadores do grupo Novo Banco.

Esta operação está dentro do âmbito da reestruturação do NB e foi acordada com o Direção Geral de Concorrência Europeia, a DGCom. Recorde-se que o entendimento com a DGCom contempla mil trabalhadores, mas fonte do banco citada por vários órgãos de comunicação, indicou que será inferior, sendo que há outros colaboradores que sairão por mútuo acordo e por reformas antecipadas.

As relações entre Ricardo Salgado e Carlos Costa já tinha “azedado” há muito tempo, mas a divulgação das contas do NB e o envolvimento da antiga administração, depois de ter saído da instituição há ano e meio, levou o ex-gestor a emitir uma nota que considerou de “defesa”, mas que envolveu um ataque direto ao governador. Na nota de duas páginas, conclui ser tempo do governador do BdP “assumir a responsabilidade pelos seus atos”.

O que levou a este extremar de posições foram as declarações de Stock da Cunha que frisou as surpresas nos créditos do NB e que levaram a um prejuízo de 980,6 milhões de euros. Referiu o gestor que o peso do crédito mau significou cerca de 78% dos prejuízos de 2015, ou seja, 764 milhões de euros, sendo que esta é uma carteira de crédito que continuará a ter impacto em 2016, e possivelmente em 2017. Referiu o CEO do NB que o reforço de provisão para imóveis e para as 50 maiores exposições a clientes e que já existiam à data da resolução do BES, totalizou 592,3 milhões de euros.

Ricardo Salgado reagiu a estas conclusões e atribuiu a responsabilidade ao Governador por ter optado pela medida de resolução e diz taxativamente que “os clientes tinham mais confiança no BES do que têm no NB. O BdP, por seu lado, elogia a equipa de gestão e colaboradores pelo facto de terem conseguido garantir o retorno do banco à normal atividade bancária e em preservar a confiança dos depositantes e clientes da instituição”.

Salgado aproveita para sublinhar a mais recente decisão do supervisor, afirmando que “o BdP é responsável pela transferência para o BES de obrigações sénior em parte comercializadas já pelo Novo Banco, assim pondo em causa a confiança no Novo Banco junto de investidores institucionais de grande relevância a nível internacional”. Recorde-se que, no final do ano passado, a supervisão tomou a decisão de retirar do ativo do NB cinco linhas de obrigações no montante de dois mil milhões de euros de dívida sénior e enviá-la para o BES “mau”. Este opção afetou grandes investidores institucionais que tentaram em Londres criar um evento de crédito para acionarem os seguros correspondentes, os CDS, e se tal tivesse acontecido toda a dívida do NB teria de ser reembolsada. O CEO do NB, Stock da Cunha, que deverá deixar a instituição no verão e regressar aos Lloyds Bank, deixou entender que teria preferido que os credores recebessem ações do NB e não a solução encontrada.

Recorde-se que, sobre Ricardo Salgado, recaem suspeitas de crime de burla qualificada, abuso de confiança, fraude fiscal, corrupção e branqueamento de capitais. Refere a nota do ex banqueiro que, em 30 de junho de 2014 e antes da resolução, “o BES constituiu provisões, sem contar com as associadas aos “eventos tóxicos ou extraordinários”, superiores em quase 20% às provisões que o NB registou no final de 2014”, sendo que as referidas provisões foram aprovadas por uma administração onde Salgado já não estava e que “foram impostas pelo BdP e certificadas pela KPMG”.

* Em Portugal é normal um vigarista dizer mal dum incompetente, apesar de honrado.


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