16/12/2015

MANUEL ASSUNÇÃO

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Soberania do conhecimento
 e missão da universidade

Ainda há menos de mês e meio, o professor Adriano Moreira afirmava na Universidade de Aveiro, numa reflexão sobre o desenvolvimento humano, que "nesta permanente luta entre textos e a realidade, acontece que esta está a levar de vencida os projetos, exigindo uma enérgica e esclarecida intervenção universitária". E são muitos os exemplos onde a dinâmica do real parece ser mais rápida do que a nossa capacidade para a antecipar e lhe dar resposta à altura do que a Humanidade necessita.

Como tirar o melhor partido da 4.ª revolução industrial, com a customerização em massa que a caracteriza? A exigência de mais trabalho intelectual, inerente ao uso de máquinas e processos mais sofisticados, constitui mesmo uma oportunidade para inverter a quebra de empregos? Sendo certo que os negócios à escala global trazem maior acumulação de riqueza que a primitiva revolução industrial, como melhor a redistribuir? O estado social é, ainda, a solução apropriada?

E sendo o êxito associado a novos produtos e invenções precedido por muitos falhanços, como fazer coabitar uma cultura de assunção do risco com a perceção social de que o sucesso tem de ser garantido e imediato?

Como não inibir o desenvolvimento dos países mais pobres ao mesmo tempo que se enfrentam as alterações climáticas? Como definir e "atacar" prioridades nacionais, como o mar e a plataforma continental, a nossa atuação no quadro da CPLP, a evolução demográfica e suas consequências, a correção das assimetrias?

Que caminhos, afinal, construir, tendo em conta as tensões e conflitos inerentes às múltiplas escalas e perspetivas: individual e coletiva; local e regional; nacional e global; de curto prazo e de longo termo?

São questões que refletem a importância crescente do conhecimento temático, mas, sobretudo, integrador de todas as disciplinas. E que evidenciam a importância da apropriação daquele e do bom uso pelos decisores institucionais e por cada um de nós, possibilitando escolhas mais fundadas e a participação efetiva de cada vez mais pessoas, num exercício de plena cidadania e corresponsabilização.

Este não é um desafio exclusivo das academias, mas é bom que as universidades portuguesas estejam atentas porque contribuir para a resposta àquelas e a outras questões faz parte da sua missão.

A estratégia do saber aparece hoje, claramente, como um fator decisivo à escala mundial; e como um fator de soberania e identidade nacionais. Era bom que o país não estivesse distraído!

* Reitor da Universidade de Aveiro

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
15/12/15

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