16/12/2015

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HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"

Café à antiga portuguesa

O aroma a café perfuma a Travessa do Pasteleiro, em Lisboa,  à segunda-feira de manhã. Uma família alemã sai da Flor da Selva com vários lotes de café e um sorriso de missão cumprida na cara. Esta antiga torrefacção é um dos raros locais onde ainda se torra o café à maneira antiga.

E Jorge Monteiro é o orgulhoso proprietário deste negócio que passou de pai para filho e que agora se prepara para passar à terceira geração da família. Ganhou novos clientes desde que a luso-descendente Lourdes Picareta realizou o documentário “Lisboa, Cidade Feita de Luz e de Fado”. O filme, produzido em 2014 para o canal de canal de televisão alemão ARD e o canal francês ARTE (versão Francesa), exibia as instalações desta antiga torrefacção de café instalada na Madragoa há 65 anos. A moda pegou e até hoje já tem dois pontos de venda no país de Angela Merkel, além das vendas na Amazon.
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“Estamos a perder o culto do café, mas ainda há quem aprecie a tradição e as coisas boas da vida”. No interior deste armazém com pouco mais de 20 m2, as sementes continuam a ser torradas a lenha. “Em toda a Europa, só há duas máquinas da torra como esta. Uma está aqui e a outra na Suíça”. Jorge Monteiro é um apaixonado pelo café. Sabe distinguir o café pelo cheiro e pela cor da mistura, e recorda os tempos em que só havia meia dúzia de casas na Baixa com máquinas expresso. “O meu pai começou por fornecer todas as salas de espetáculos de Lisboa, que na época serviam o chamado café de saco – que era muito bom e tinha um sabor muito característico”.

Os anos foram passando e a Flor da Selva cresceu com Lisboa, tornando-se uma referência no comércio especializado, abastecendo ainda hoje as mais célebres e tradicionais lojas da cidade, como a centenária Casa Macário. Com o marketing em torno do café e das grandes marcas, foram muitos os que tentaram convencer Jorge Monteiro a modernizar a Flor da Selva e mudar para gás, mas, felizmente, sem sucesso. Aqui a torrefação mantém-se totalmente manual. Nada é automatizado. Produz-se um café verdadeiramente artesanal, sem qualquer aditivo. É o forno a lenha que lhe dá um paladar completamente diferente. “Nasci no meio disto. Gosto do culto do bom café, por isso não faz sentido mudar o nosso método de trabalho. Só assim é que nos distinguimos dos outros”.

Tal como a empresa que gere, o Sr. Jorge é conhecido de todos os que vivem e frequentam o bairro, um dos mais antigos da capital. É capaz de falar durante horas a fio sobre as características das sementes, Robusta ou Arábica, vindas de todo o mundo: Timor, Angola, Uganda, Malawi, Nicarágua, Brasil ou Costa Rica. São elas que, depois de cozinhadas, vão fazer parte dos lotes Flor da Selva – Estrelícia, Magnólia e Orquídea – também eles fiéis à tradição e ao verdadeiro aroma e sabor a café. Cada mistura é preparada à mão e, se o cliente desejar, também é possível personalizar o café e fazer misturas a gosto. Um verdadeiro luxo.

* A qualidade não devia ser um luxo.

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