27/11/2015

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HOJE NO
"DIÁRIO  ECONÓMICO"
Conheça a nova equipa das Finanças

Um especialista no mercado de trabalho, um ‘geek’ da modelização económica, uma mente brilhante da academia, uma técnica com experiência na máquina do Estado e um professor de Direito que estuda a fiscalidade. É esta a nova equipa do Ministério das Finanças, que tem no Orçamento do Estado para 2016 o primeiro grande desafio.
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Em Novembro de 2012, durante uma das avaliações da ‘troika’ ao resgate português, os chefes de missão reuniram-se com equipas do Governo e do Banco de Portugal (BdP), para discutir o mercado de trabalho. Em concreto, o FMI queria forçar nas indemnizações por despedimento: havia acordo para as reduzir, mas não em que dimensão. A reunião começara há já algum tempo e o então secretário de Estado do Emprego, Pedro Martins, fazia uma longa exposição sobre os constrangimentos com que o Executivo se deparava.

Foi então que um dos membros da equipa do BdP, reconhecido por ser um dos maiores especialistas do país em questões laborais, pediu a palavra. Começou de imediato a apontar incorrecções nos dados e a contestar algumas das observações de Pedro Martins, deixando os membros do Governo à beira de um ataque de nervos. Quando o encontro terminou, o então secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, teve um acesso de fúria e disse que “nunca mais” queria um episódio daquele género, com um qualquer técnico a contestar um ministro ou um secretário de Estado.

Um qualquer técnico que era, afinal, director adjunto do departamento de estudos económicos do BdP, cargo a que chegara pela mão de Vítor Constâncio - com o apoio de Teodora Cardoso - e que viria a abandonar, entretanto, em choque com Carlos Costa.

Passados três anos dessa fatídica reunião com a ‘troika’, o técnico em questão, Mário Centeno, tomou ontem posse como novo ministro das Finanças.

Os ‘geeks’, o aliado de Costa e a renegada de Rosalino
Consta que, ao longo de anos, os técnicos do BdP e os das Finanças sempre se olharam de soslaio e foi só com Vítor Gaspar como ministro que a situação se normalizou. 
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Agora, Centeno leva para seu braço direito nas Finanças outro técnico do BdP, Ricardo Mourinho Félix, um verdadeiro ‘geek’ da modelização económica, responsável pelo modelo “Pessoa”, que o departamento de estudos do Banco continua a utilizar.

Um ‘geek’ que é primo do outro Mourinho, o treinador, e que desde cedo mostrou interesse na política: é militante do PS desde os 18 anos e arranjou tempo para dividir as horas de estudo na faculdade com a direcção da associação de estudantes. 
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A paixão pelo associativismo partilhou-a, aliás, com o novo secretário de Estado do Orçamento, João Leão. Professor no ISCTE - tal como o seu irmão Emanuel -, Leão também trabalhou no Ministério da Economia. Quando se ausentou do ISCTE por alguns anos, para concluir o doutoramento no MIT, nos Estados Unidos, já tinha ganho a fama de uma das mais brilhantes mentes daquela faculdade. Uma das grandes frustrações dos alunos que chegaram naquela altura ao curso de Economia do ISCTE foi, aliás, não terem oportunidade de ter como professor aquele de quem os anteriores alunos tanto falavam. É a ele que compete desenhar em tempo recorde o OE/16.

De Carolina Ferra, a nova secretária de Estado da Administração e Emprego Público, fala-se um pouco menos. É das caras menos conhecidas do novo Governo e não é fácil encontrar fotografias suas na imprensa. Mas a verdade é que Ferra está há muitos anos a lidar com a máquina do Estado. Entre 2005 e 2007 foi adjunta de António Costa na Administração Interna.

Em 2008 foi nomeada pelo então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, directora-geral da Administração e Emprego Público (DGAEP), cargo que deixaria em 2013, ficando no ar a dúvida sobre a influência da sua cor partidária na hora da saída: passou pelo novo processo de recrutamento de dirigentes do Estado e ficou na ‘short list’ de três nomes da CRESAP, mas foi preterida pelo então secretário de Estado da coligação, Hélder Rosalino, que escolheu a sua chefe de gabinete para liderar a DGAEP.

A nova equipa das Finanças fica completa com Fernando Rocha Andrade, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. 
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É um homem do aparelho socialista, fiel aliado de Costa, mas também um especialista em direito e fiscalidade. “Não vamos fingir que o PS tem uma varinha mágica e que, de repente, resolve os problemas do crescimento” disse ao Económico, após o congresso que consagrou Costa como líder do PS, muito antes de ser conhecido o cenário macroeconómico de Centeno, que aposta numa economia mais forte para equilibrar as contas públicas. Será ele a anunciar aos portugueses quanto vão ter, afinal, de devolução na sobretaxa no próximo ano.

* Vão usufruir do benefício da dúvida de muitos milhões de portugueses, não por muito tempo.

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