30/09/2015

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HOJE NO
"RECORD"

Surf adaptado: 
Voluntários a fabricar sorrisos

Tem 7 anos e para ele a aventura do surf começou há dois. É nas ondas que se sente completamente realizado. E é lá que mostra que é uma criança igual a tantas outras. Simão sofre de nistagmo, uma doença rara que lhe traz várias complicações. "Afeta-lhe a visão, só vê um décimo do que devia ver. Tem muitas alergias. Faz terapia da fala pois não consegue pronunciar alguns sons… E tem tantas outras complicações… No coração. Ainda tem asma, rinite alérgica", enumera o pai, José Rodrigues, quando é imediatamente interrompido por Simão. "Não posso comer ovo", atira, em jeito de conclusão.
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Simão foi uma das crianças que participaram no passado sábado numa sessão de surf adaptado na praia de Carcavelos. A iniciativa, uma parceria entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e a SurfAddict (Associação Portuguesa de Surf Adaptado), reuniu mais de 70 pessoas com necessidades especiais e muitos voluntários.

Rute Soares, mãe de Simão, explica como tudo começou: "Foi na Figueira da Foz, há dois anos, através da ANIP [Associação Nacional de Intervenção Precoce] de Penacova. A psicóloga contactou-nos para que o Simão fosse a este evento experimentar surf. E foi logo um sucesso. Desde então, começámos a vir de norte a sul do país a estas iniciativas com ele."

Desta vez, a paragem foi em Carcavelos, e até teve companhia especial. "O Simão insistiu para a avó vir. Queria tanto que ela viesse... Ela não gosta muito de ver, porque se atemoriza de o ver na prancha. Mas ele tem um à-vontade extraordinário e o surf para ele é qualquer coisa que ultrapassa todas as marcas e limites estabelecidos. Ele no surf, com todas as limitações que tem, mostra-nos que é capaz de fazer tudo o que quem não tem limitações faz. É transcendental. Sente-se como peixe na água, completamente realizado", conclui José Rodrigues.

Ao longo do dia, os utentes da Santa Casa são acompanhados por voluntários durante todo o processo, desde a areia até à água. E esta é uma experiência que só traz vantagens. "O surf, o mar e a natureza são bons para toda a gente. E claro, melhor ainda para quem tem limitações e um leque reduzido de atividades que pode fazer. Por isso é ótimo haver uma organização destas. Estou aqui a ler que nas t-shirts dos miúdos está escrito ‘Olá, estou aqui a fazer sorrisos’. E é isso mesmo", completa Pedro Monteiro, reconhecido surfista e treinador da Surf Academia, mas que aqui era apenas mais um dos voluntários. Voluntários com um só objetivo: roubar sorrisos.

* Os miúdos são fabulosos, os pais idem, mas aos monitores tiramos o chapéu.

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