20/09/2015

ANA SÁ LOPES

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Não, António Costa
não perdeu o “momentum”

Os países anglo-saxónicos costumam usar a expressão latina momentum, utilizada em mecânica, para designar a capacidade de fazer o turning point de um qualquer candidato.

A ideia da vitória esmagadora de António Costa no primeiro debate, assim como a ideia de que ontem, no debate das rádios, foi esmagadoramente derrotado, são como as sopas instantâneas: satisfazem a fome imediata de uma análise rápida de cozinhar, mas são de conteúdo duvidoso.

Passos Coelho passou a um ataque alternativo, retirando José Sócrates do terreno: a matéria inflamável tinha sido decisiva para Passos perder a segunda parte do debate nas televisões, quando Costa lançou o seu grito do Ipiranga relativamente ao ex-primeiro-ministro e sugeriu a Passos que fosse debater para a Rua Abade Faria.

Costa tropeçou nos números da condição de recursos, é verdade. Foi a parte frágil de um debate em que o secretário-geral do PS se mostrou preparado, convincente, com propostas que podem ser de alcance duvidoso (a descida da TSU e o despedimento consensual) mas que fazem parte de um plano que é rigorosamente diferente do do governo que está em funções, ainda que longe de rupturas a que, aliás, Passos o tentou colar.

Costa foi eficaz a explicar que “a realidade” não se traduz exactamente nas estatísticas – por exemplo, do emprego – e principalmente conseguiu desmontar toda a doutrina que, independentemente dos mandamentos da troika, sempre presidiu ao desejo ideológico de Passos Coelho.

Os países anglo-saxónicos costumam usar a expressão latina momentum, utilizada em mecânica, para designar a capacidade de fazer o turning point de um qualquer candidato. Na realidade, independentemente das sondagens dos empates técnicos, António Costa está a viver o seu momentum.

É preciso um cataclismo político e um desastre na campanha eleitoral para evitar que o PS ganhe as eleições. Se é um facto que António Costa deixou escapar o momentum a seguir à vitória das primárias, não é crível que deixe rebentar o seu segundo e decisivo momentum. Se isso acontecesse, o que não é previsível, o céu cairia de facto em cima de várias cabeças.

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18/09/15


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