14/08/2015

JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS

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Das listas e 'arredores'

O PS aprovou um indispensável Código de Ética, que todos os candidatos devem subscrever; o PSD aprovou uma deplorável disciplina de voto, sempre que o grupo parlamentar o decida

Conhecidas as listas dos candidatos a deputados dos três maiores partidos, estão feitas as contas ao número de novos candidatos, cabeçasde lista, etc.: há mais ampla renovação no PS do que na coligação PSD/CDS. Os números podem, porém, ser enganadores. Mas comparando as pessoas, no concreto, vê-se que as diferenças até são maiores. Expressivos os exemplos dos dois principais círculos, depoisde Lisboa, onde pontificam os respetivos líderes. Assim, no Porto, o PS tem como n.º 1 um independente, prof., cientista e homem de cultura (o 2.º já é o líder da distrital...), enquanto na coligação o n.º 1 é o contestado ministro da Defesa, do PSD e agora indefetível de Passos Coelho, sendo n.º 2, pior, o chefe do "aparelho" do partido, alegadamente a ser investigado. Em Braga, o n.º 1 do PS é um independente, prof. de Economia da Un. do Minho, o do PSD o seu vice-presidente. E, num círculo mais pequeno, Viana do Castelo, o PS consegue ter à frente da lista um jovem investigador de Cambridge, de prestígio internacional.

Outra diferença: o PS aprovou um indispensável Código de Ética, que todos os candidatos devem subscrever; o PSD aprovou umadeplorável disciplina de voto, não só em compreensíveis e previstos casos especiais como sempre que o grupo parlamentar o decida. Por outro lado, e sem diferenças: se das listas de ambos saíram atuais deputados que já que não o deviam ser, nelas continuam outros que lá não deviam estar. (E não continuam uns poucos que deviam continuar, de que é flagrante exemplo Mota Amaral.)

Três notas avulsas sobre outras listas:
a) As do PCP/CDU como de hábito sem grandes surpresas, mas com a preocupação de uma constante renovação geracional. Sublinhe-se o facto de agora ser Jorge Machado, 39 anos, advogado, deputado desde 2005, o n.º 1 pelo Porto;
b) No BE, o destaque maior é Mariana Mortágua à frente da lista de Lisboa. Uma muito boa escolha, que pode ter reflexo na votação na capital, sendo certo parecer ultrapassada a sensação de que o partido se vá desagregar ou esvaziar;
c) O "estreante" Livre/ Tempo de Avançar teve o mais original e participado processo de escolha das listas. E, mau grado alguns problemas, terá alguns cabeças de lista com currículo em vários domínios, como Rui Tavares, Isabel do Carmo, José Reis e Ricardo Sá Fernandes.

OS PARTIDOS, AS PESSOAS
 Neste contexto, quando se fala tanto dos partidos, impõe-se dizer que para lá deles está a fundamental importância das pessoas. Que ao nível do poder local, mas não só, são o decisivo. Vem isto a propósito de dois exemplos: a) o de JoséMacedo Vieira, presidente da Câmara da Póvoa de Varzim durante 20 anos, eleito pelo PSD - e que a mudou radicalmente, para melhor: o seu livro Póvoa Nova, agora editado e que com muito gosto prefaciei, bem o "documenta "; b) o de Miguel Albuquerque, novo presidente do Governo da Madeira, do PSD, que após os 37 anos de poder e desmandos de A. J. Jardim pôs cobro ao óbvio, mas pelo PSD invariavelmente "desmentido", défice democrático na região.

HOJE HÁ PALHAÇOS 
Mas Jardim continua a mexer, e até a querer-se candidato a Presidente da República. Como sempre e com o palavreado de sempre, a começar pelo que chama combate à Constituição e ao regime. Seria o quarto militante e ex-dirigente do PSD eventual candidato, se alguém o levasse a sério. Leva? Julgo que não. Ainda consegue, no entanto, o seu tempo de antena, numa comunicação social que privilegia o espetáculo bocas, bitaites, disparates. E que esquece os seus desbocados ataques aos jornalistas e os processos no Funchal, com os muitos custos que mesmo absolvidos tinham de suportar.

COM E SEM PULSEIRA 
José Sócrates está preso há nove meses e já critiquei aqui o juiz de instrução por não o ter passado, pelo menos, para o regime de prisão domiciliária. Sem pulseira eletrónica, após ele a ter recusado, como já anunciara faria. A lei não impõe tal vigilância eletrónica, no máximo seria um (embora errado) critério do juiz impô-la. Afinal, nem isso: agora, o mesmo juiz, Carlos Alexandre, determinou (aliás para além do proposto pelo Ministério Público) a prisão domiciliária de Ricardo Espírito Santo, mas... sem pulseira. Como é? Que se passa?

IN "VISÃO"
06/08/15

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