29/07/2015

VIRIATO SOROMENHO MARQUES

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O vazio como política

As propostas de Hollande para a criação de uma vanguarda política dentro da zona euro, formada pelos seis países iniciais da CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), foram recebidas, para ser benevolente, com um incomodado silêncio por parte dos governos de toda a União Europeia. A proposta tem ideias antigas (instituir uma governação económica), e novas (ressuscitar a Comunidade dos Seis). O problema é que no seu conjunto o resultado é lamentável. 

Numa caricatura, poderia dizer-se que o ministro Schäuble tinha proposto a saída de um país da zona euro (sendo corrigido pela chanceler e pelo Bundestag). Paris parece propor acentuar a divisão na zona euro, separando um diretório de seis e uma periferia cinzenta de 13 membros (incluindo aí a Espanha, a Áustria e a Finlândia...). Esquecendo completamente a Grã-Bretanha e os países da UE não aderentes ao euro. A proposta de Hollande inquieta pelo vazio, pela ausência de pensamento estratégico consistente. Um país com a história de França. Com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Com uma force de frappe nuclear que a torna uma força militar temível, não deveria fazer propostas que causam um calafrio na espinha dos seus parceiros. 

Não se pode criticar a solidão alemã na gestão da crise europeia, apenas para pedir que Berlim se encoste para o lado para que mais cinco se sentem na fila da frente, quando o que seria necessário seria mudar de rumo e de método. Por este caminho, Hollande arrisca--se, por iniciativa e demérito próprios, a deixar o PSF no estado do PASOK grego. Só que em vez do Syriza, o legado da derrocada socialista gaulesa poderá ser a Frente Nacional. E contra isso a integração europeia não conhece qualquer espécie de antídoto.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
28/07/15


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