21/04/2015

SARA FALCÃO CASACA

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A armadilha do trabalho
  a tempo parcial

A frase do ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social – publicada aqui no i no passado dia 25/03 – não esconde uma orientação conservadora: “A nossa preocupação é garantir que os jovens pais e, acima de tudo, as jovens mães possam, durante mais algum tempo, quando acaba o seu período de licença de maternidade, acompanhar os seus filhos.” E prossegue com a promessa de canalizar fundos “nacionais e comunitários” para o incentivo ao trabalho a tempo parcial (TTP), garantindo o financiamento de parte do salário e a não penalização em termos de antiguidade. 
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Tenho, porém, bem presente que o TTP está frequentemente associado à precariedade laboral, que as pessoas tendem a auferir salários baixos, a ter menos oportunidades de formação e de progressão na carreira profissional. Trata--se, ainda, de uma modalidade de trabalho fortemente feminizada, dado que não é isenta (como a citação bem evidencia) das tradicionais ideologias de género. Por conseguinte, o TTP é hoje, na Europa, um dos mais marcantes vectores de segregação sexual no mercado de trabalho. Portugal dispensava-o bem... A frase proferida por Mota Soares é bem ilustrativa da representação em torno do papel acessório dos homens na vida familiar e do papel secundário das mulheres na esfera profissional. Se a redução generalizada do tempo de trabalho poderia ser um sinal de progresso e contribuir para uma melhor articulação trabalho-família, já a promoção do tempo parcial representa uma armadilha para muitas mulheres, não resolve o problema da natalidade e agrava as assimetrias de género.

Professora no Instituto Superior de Economia e Gestão – U. Lisboa

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15/04/15


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