05/04/2015

EVANTHIA BALLA

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A lista de Tsipras

No passado dia 23 de março, Alexis Tsipras realizou a sua primeira viagem a Alemanha como primeiro-ministro. A lista de assuntos a tratar era curta mas tortuosa: o programa de resgate grego e a exigência de Tsipras para que a Alemanha pague as indemnizações reclamadas pela Grécia para reparação do sofrimento do povo grego durante os anos dramáticos da ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.
A Grécia calcula que o valor das indemnizações reclamadas à Alemanha a preços atuais poderá oscilar entre 162 mil milhões de euros e 274 mil milhões de euros, dependendo do cálculo dos juros, enquanto o programa de resgate atual ascende a 240 mil milhões de euros.

O objetivo moral das reclamações gregas é de fazer justiça ao terrível sofrimento do povo grego durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, existem outros objetivos de natureza mais pragmática, e de caráter político-financeiro, atrás das exigências gregas. A Grécia pretende aliviar o peso do seu atual endividamento, ou pelo menos ver concedidos no imediato os fundos de emergência que vem reclamando ao Eurogrupo. Por outro lado, a Grécia quer enviar uma clara mensagem aos dirigentes europeus de que a política imposta à Grécia pelas instituições europeias, e nomeadamente pelo seu Estado-Membro mais forte, a Alemanha, é insustentável. A renegociação da dívida grega e as medidas de austeridade impostas no país deixou claras dúvidas sobre a sua viabilidade, dado o contínuo agravamento da situação económica, e das condições de vida do povo grego.

Contudo, Tsipras não tem conseguido comunicar a sua mensagem e apelo para um entendimento construtivo e solidariedade entre parceiros, e certamente não o conseguirá se insistir em despertar traumas antigos e velhas exigências pelos crimes que o regime nazi cometeu há mais de 70 anos. De facto, esta iniciativa de Tsipras evidencia falta de inteligência política, pois mais parece uma reação emocional e vingativa do David (Grécia) contra o Golias (Alemanha) do que uma diligência realizada com a requerida elevação político-diplomática. Ninguém na Europa acreditou nas intenções de “reparação moral” evocadas pelo governo grego, pelo que na prática o mensageiro falhou dramaticamente na sua missão, promovendo uma maior clivagem de posições com os seus parceiros.

Não podemos esquecer que o projeto europeu nasceu com o principal objetivo de garantir a paz e segurança no continente europeu, superando o passado sangrento e devastador da II Guerra Mundial, e assegurando a dignidade, e prosperidade económica e social para todos os europeus. E, não há dúvida que a Europa conseguiu atingir estes desígnios. Em menos de sessenta anos, a construção europeia permitiu superar ódios indizíveis e promover a manutenção de paz e segurança no continente europeu, e um nível de prosperidade socioeconómico impensável num espaço marcado por fortes identidades nacionais e grande fragmentação do mercado. A UE é um projeto criado nos antípodas do nacionalismo, e da desconfiança. Um facto adquirido que os líderes alemães e gregos parecem por vezes esquecer.

A União deve continuar a promover a sua coesão económica, social e territorial, e a solidariedade entre os Estados-Membros. Para o bem de todos nós, os povos da Europa.
Ai está a mensagem que tanto os dirigentes gregos, a começar por Tsipras, como os dirigentes alemães deveriam propagar, a nível europeu, mas acima de tudo, nos seus próprios países!

Professora universitária

IN "OJE"
02/04/15

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