19/04/2015

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497.
Senso d'hoje

  MARIANA MAZZUCATO
 ECONOMISTA, DEFENSORA
 DO INVESTIMENTO PÚBLICO  
SOBRE O LIVRO
"O ESTADO EMPREENDEDOR"

 Na verdade o meu livro fala sobre um "problema discursivo" que temos quando falamos do setor público. Até a esquerda romantiza, por exemplo, as parcerias público-privadas, sem qualquer debate direto real sobre o que significa a parte "pública". Terá apenas a ver com reduzir os riscos, facilitar, regular e administrar? Ou implica também ter uma verdadeira visão do valor público e social (não apenas a noção limitada usada pelos economistas de "bem público") - e de como uma tal visão deve conduzir também essas parcerias, ou seja, dirigi-las em vez de apenas as servir.

É evidente que tanto em Itália como em Portugal, a produtividade não tem estado a aumentar e, consequentemente o PIB também não, porque não investimos em nenhuma das áreas que o fazem crescer: a formação do capital humano (para lá da simples educação), investigação e desenvolvimento e nas instituições fundamentais que permitem as ligações entre a ciência e a indústria (como os centros Fraunhofer alemães, por exemplo). Isso é, claramente, o que faz a diferença na competitividade entre os países do sul (os difamantes PIGS) e a Alemanha, não é a história que costumamos ouvir de que de alguma maneira a Alemanha apertou o cinto enquanto os PIGS perdulários gastaram demasiado. 

Sem dúvida, a razão para empresas alemãs como a Siemens ganharem contratos por toda a Europa é precisamente porque fazem parte de um ecossistema de inovação muito bem aprovisionado, onde o lado público investiu diretamente em todas as espécies de áreas que aumentam não só a produtividade, mas também a inovação. Isto inclui, por exemplo, ter um banco público, o KfW que continua a ser um dos maiores investidores mundiais nas áreas inovadoras, como a tecnologia verde.

"O diagnóstico errado do problema na Europa está a trazer-nos o remédio errado" 


 * Excertos de entrevista ao "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

** É nossa intenção, quando editamos pequenos excertos de entrevistas, suscitar a curiosidade de quem os leu de modo a procurar o site do orgão de comunicação social, onde poderá ler ou ver a entrevista por inteiro.  
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