01/04/2015

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HOJE NO 
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Saiba o que o seu filho vai ter de aprender para ser o melhor aluno de português

Ler 150 palavras num minuto, falar durante quatro minutos para uma audiência e, mais que isso, conseguir manter a atenção dos ouvintes durante todo esse tempo, ou “fruir” a estética de um texto literário, de tal forma que o gosto pela leitura ganhe raízes e cresça.

O governo lançou as metas curriculares para o ensino do português do primeiro ao nono ano do ensino básico. O i fez o raio-X aos objectivos que os alunos portugueses vão ter de cumprir 

1º Escutar e esperar pela sua vez para falar
Respeitar o princípio da cortesia, escutar discursos breves e reconhecer padrões de entoação e ritmo (exemplo: perguntas, afirmações), assinalar palavras desconhecidas, cumprir instruções. Saber falar de forma audível, articular correctamente as palavras, usar vocabulário adequado ao tema e à situação, construir frases com graus de complexidade crescente. 

Soletrar e contar as sílabas
Fonemas: contar o número de sílabas numa palavra de duas, três ou quatro sílabas, decidir qual de duas palavras apresentadas oralmente é mais longa (referentes de diferentes tamanhos, por exemplo “cão” – “borboleta”), indicar desenhos de objectos cujos nomes começam pelo mesmo fonema, reunir numa sílaba os primeiros fonemas de duas palavras (por exemplo, “lápis usado” —> “lu”), demonstrando alguma capacidade de segmentação e de integração de consoante e vogal. 

O alfabeto de trás para a frente e vice-versa
Recitar o alfabeto na ordem das letras, sem cometer erros de posição relativa. Escrever as letras do alfabeto, nas formas minúscula e maiúscula, em resposta ao nome da letra ou ao segmento fónico que corresponde habitualmente à letra. 

Quem é mais rápido a ler?
Ler pelo menos 45 de 60 pseudopalavras monossilábicas, dissilábicas e trissilábicas (em quatro sessões de 15 pseudopalavras cada). Ler pelo menos 50 em 60 palavras monossilábicas, dissilábicas e trissilábicas regulares e cinco de uma lista de 15 palavras irregulares. Ler correctamente, por minuto, no mínimo 40 palavras de uma lista de palavras de um texto apresentadas quase aleatoriamente. Ler um texto com articulação e entoação razoavelmente correctas e uma velocidade de leitura de, no mínimo, 55 palavras por minuto. Ler pequenos textos narrativos, informativos e descritivos, poemas e banda desenhada. 

Ler só não basta. É preciso compreender
Relacionar diferentes informações contidas no mesmo texto, de maneira a pôr em evidência a sequência temporal de acontecimentos e mudanças de lugar. Identificar o tema ou o assunto do texto (do que trata). Interpretar as intenções e as emoções das personagens de uma história. 

O que significa esta palavra?
Sublinhar no texto as frases não compreendidas e as palavras desconhecidas e pedir esclarecimento e informação ao professor e aos colegas. 

Para que serve o ponto de interrogação?
Identificar e utilizar adequadamente o ponto final e o ponto de interrogação. 

A hora dos contos infantis
Ouvir ler e ler obras de literatura para a infância e textos da tradição popular: “Corre, Corre, Cabacinha”, de Alice Vieira, “Vai Ver o Mar”, de Alves Redol, ou “O Coelhinho Branco”, de António Torrado

4º Debater ideias e adaptar o discurso aos diferentes interlocutores
Ao longo do quarto ano, os alunos devem estar particularmente atentos ao que ouvem. Devem construir conhecimentos através do discurso oral e conseguir distinguir quando uma pessoa lhes transmite um facto ou quando está a dar uma opinião pessoal. Mas também já devem conseguir separar o essencial daquilo que é acessório, de entre toda a informação que ouviram dos colegas ou dos professores. Mais: é importante que consigam distinguir “diferentes graus de formalidade” das intervenções que ouvem e, quando falam, têm de saber adaptar o seu discurso ao objectivo da conversação (informar, explicar, perguntar, convidar, etc.). Além disso, devem ser capazes de fazer uma apresentação oral de cerca de três minutos sobre um tema previamente definido. Outro desafio: “debater ideias”, apresentando “prós e contras” de uma determinada posição, ao mesmo tempo que terão de conseguir “calçar os sapatos” de um entrevistador, um porta-voz, um entrevistado. 

Ler um texto de 125 palavras num minuto? o relógio está a contar!
Os alunos têm de ler um texto em voz alta “com articulação e entoação correctas e uma velocidade de leitura de, no mínimo, 125 palavras por minuto”. Os professores também vão estar atentos à capacidade dos alunos para “reconhecer o significado de novas palavras”. Voltamos aos números? Uma criança do quarto ano tem de “identificar, por expressões de sentido equivalente, informações com que se depare em textos narrativos, informativos e descritivos” de cerca de 400 palavras. E porque o contexto é tudo, quando lêem um texto, os alunos deverão demonstrar capacidade para o relacionar com conhecimentos adquiridos anteriormente. Também serão os seus próprios avaliadores: terão de perceber que segmentos do texto que leram não foram capazes de entender. Depois há, claro, os ditados. “Sem erros” e com particular atenção às palavras “homófonas mais comuns”. 

Gramática A sério
Ok, são os primeiros passos. Mas, nesta altura, um verbo é um verbo e não um substantivo próprio. Em suma, cada palavra no seu galho (que é como quem diz, junto com a sua classe de palavras). Género? Check. Número?Check. Identificar prefixos e sufixos? Check e check! 

A poesia quer-se lida em voz alta e em coro
Quando lêem uma obra para a infância ou textos da tradição popular, já se espera que as crianças – que, nesta fase, terão entre nove e dez anos – sejam capazes de “manifestar sentimentos e ideias suscitados por histórias e poemas ouvidos”. Poemas? Sim. As metas curriculares de português para o 4.º ano prevêem que os alunos leiam “poemas em coro ou em pequenos grupos”, em ambiente de sala de aula. Mas não se trata apenas de ler os textos. Quando o fazem, devem apreciar aquilo que estão a ler. Um dos objectivos traçados é o de que este contacto com a literatura crie um gosto pessoal.

6º Falar para ser ouvido durante quatro minutos
O segundo ciclo está quase a acabar. Foi rápido? É natural, é o mais curto de todos eles. No final dos dois anos (5.º e 6.º) espera-se que os pré-adolescentes saibam “produzir discursos orais com diferentes finalidades e com coerência”.Trocado por miúdos, os alunos são convidados a fazer uma apresentação oral de cerca de quatro minutos, separando claramente as várias fases do discurso (introdução e fecho). O recurso a tecnologias é facultativo, mas essa bengala pode ajudar a obter o resultado pretendido: “captar e manter a atenção de diferentes audiências”. Quando intervém, o aluno deve fazer valer o seu ponto de vista com argumentos com os quais vai, depois, justificar os seus pontos de vista. O desafio não fica por aí porque, logo a seguir, o professor vai pedir-lhe que defenda exactamente o ponto de vista contrário. E, mais uma vez, com recurso a argumentos. 

Eram 125 palavras? Agora o objectivo são 150
Há dois níveis distintos de leitura. Primeiro, num minuto, o aluno deve ler correctamente 120 palavras de uma lista de palavras de um texto apresentadas de forma aleatória. Segundo, deve ler correctamente um texto com uma velocidade de 150 palavras por minuto. E, entre tudo aquilo que lê, deve seleccionar as informações mais relevantes que encontrar, sejam factos ou opiniões. Mais difícil, o aluno deve conseguir “pôr em relação duas informações para inferir delas uma terceira”. Ainda no plano da leitura, se até aqui se pedia aos alunos que se apropriassem daquilo que liam, agora é-lhes pedido que tomem uma posição crítica em relação aos textos: “exprimir uma opinião crítica a respeito de um texto e compará-lo com outros já lidos ou conhecidos”, é esse o objectivo. 

Fruir a estética dos textos escritos e lidos
Está no capítulo da “educação literária”. Os professores devem pedir aos alunos para “lerem e escreverem para fruição estética”.Nos textos literários devem “aperceber-se de recursos expressivos utilizados” e também devem conseguir distinguir um conto de um poema.As adaptações de clássicos entram na lista de obras a ler. 

Gramática ainda mais A sério
A certeza é esta: a aprendizagem da gramática (como tudo o resto, na verdade) só se torna mais complexa com o passar dos anos. No final do segundo ciclo, as palavras devem, por exemplo, ser devidamente integradas na classe dos verbos principais, copulativos e auxiliares. “Transformar discurso directo em discurso indirecto e vice-versa, quer no modo oral quer no modo escrito”, é outro dos desafios, da mesma forma que as frases activas terão de ser passadas para a passiva. 

9º Fim de ciclo é sinónimo de consolidações
Estão a um passo do ensino secundário e a dois da universidade (se o caminho os levar a essa escolha). No campo da oralidade, os alunos do 9.º ano têm de saber “identificar ideias--chave” e reproduzir informação que ouviram de forma sintética. No fundo, pede-se-lhes que dêem provas de um aprofundamento e consolidação daquilo que estiveram a aprender nos últimos anos, sobretudo desde que chegaram ao 2.º ciclo. O aprofundamento da aprendizagem estende-se à interpretação de discursos orais com “diferentes graus de formalidade e complexidade”. E neste fim de linha intermédio, o objectivo do ensino é levar os alunos a “produzir textos orais de diferentes tipos e com diferentes finalidades” durante cinco minutos. Durante esse tempo, não só têm de “argumentar” para fundamentar a sua apresentação como devem “persuadir os interlocutores” do seu ponto de vista. 

Conhecimento e exposições globais
Chegar ao fim da última etapa do ensino básico traz responsabilidades acrescidas ao nível da leitura. O aluno deve reconhecer os diferentes tipos de vocabulário (clássico, léxico especializado e vocabulário diferenciado da esfera da escrita), explicitar temas e ideias principais e identificar pontos de vista e universos de referência. No final terá de “explicitar o sentido global do texto, justificando-o”. Neste capítulo da leitura e da escrita, espera-se dos alunos que terminam o 3.º ciclo que escrevam textos expositivos e argumentativos, e que “revejam”, no final e de forma autocrítica, aquilo que acabaram de produzir. Para quê? Para “reformular o texto de forma adequada, mobilizando os conhecimentos de revisão de texto já adquiridos”. E também devem ler. Ler “em voz alta”, para a turma ouvir, e ser “expressivos” na forma como interagem com as obras literárias que lhes chegam às mãos. 

Pôr-se no lugar de cada uma das personagens
A evolução na leitura e interpretação de textos literários culmina com uma tarefa complexa: os alunos terão de revelar-se capazes de “analisar o ponto de vista das diferentes personagens”, o que significa serem capazes de descodificar e entender as motivações, métodos e objectivos dos vários intervenientes na narrativa. Além de “apreciar textos literários” (não é simplesmente apreciar, porque, na verdade, pretende-se incutir o hábito de “ler por iniciativa e gosto pessoal, aumentando progressivamente a extensão e complexidade dos textos seleccionados”), os jovens deverão “situar obras literárias em função de grandes marcos históricos e culturais”.

* A língua portuguesa é a nossa "Mátria", é necessário amá-la e defendê-la.


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