26/12/2014

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HOJE NO
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Finlândia
Escolas dão o primeiro passo 
para acabar com a escrita manual

A partir de 2016, os alunos passam a escrever só com letra de imprensa. Governo incentiva a utilização de teclados para a produção de textos

As primeiras notícias correram o mundo de forma instantânea: a Finlândia, país de excelência e tido como modelo na Educação, ia pôr um fim à escrita manual nas escolas e os alunos iam passar a usar exclusivamente o computador, portátil ou tablet para a produção de textos. Mas não era tanto assim. O que o governo finlandês se prepara para fazer é privilegiar a letra de imprensa na escrita manual, deixando cair o ensino e o treino da letra “cursiva”, ao mesmo tempo que vai incentivar os alunos a usar cada vez mais os teclados.
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Uma coisa é certa: as horas passadas a tentar desenhar uma série infinita de ondinhas perfeitas num caderno de linhas, até as crianças perceberem que, na verdade, estão a escrever uma série de letras “m”, ou as repetições, círculo após círculo, para desenharem o “o” mais redondo possível têm os dias contados. A caligrafia é coisa do passado.

A mudança está em curso e a entrada da era digital nas escolas do ensino básico finlandesas deve acontecer já em 2016. O Conselho de Educação finlandês tem estado a preparar as alterações aos programas de ensino primário, que devem estar concluídas no final deste ano lectivo. “A capacidade de escrever fluentemente num teclado é uma competência nacional importante”, referiu Minna Harmanen, responsável do Instituto Nacional de Educação da Finlândia.

“Tinha havido um mal entendido nas notícias sobre a caligrafia na Finlândia”, explicou Harmanen ao jornal espanhol ABC. “Na verdade, a novidade é que não será obrigatório aprender caligrafia cursiva a partir de Agosto de 2016”, referiu a responsável finlandesa. A mudança justifica-se, sobretudo, por questões práticas. “Quase todos os alunos que agora terminam a sua formação básica usam principalmente a letra de imprensa quando escrevem à mão. Se só se precisa da caligrafia nos primeiros anos de escola, por que há que aprendê-la?”, questiona Minna Harmanen. Além disso, acrescenta, “na vida laboral, produzimos quase todos os textos com o computador e, por isso, a habilidade de escrever com rapidez é importante”.

ditadura da tecnologia A Finlândia travou a fundo na abolição da escrita manual das escolas do ensino básico. Mantêm-se a uniformização da escrita com letra de imprensa mas, por cá, a Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) tem um olhar crítico sobre a mudança anunciada. “Espero que não venhamos a seguir o modelo, que nos parece ir no sentido da formatação” dos alunos, diz ao i o presidente da confederação.

À memória de Jorge Ascensão vêm os cadernos de duas linhas, “um coisa que já tem meio século” usada para que os alunos treinassem a sua escrita manual. Em entrevista ao espanhol ABC, Minna Harmanen explica que a liberdade de cada aluno para apropriar-se da escrita com o seu estilo não está em causa, mesmo que todas as crianças tenham de passar a escrever com o mesmo tipo de letra. “A escrita com letras de imprensa é mais rápida e as letras podem unir-se mais ou menos, pelo que o estilo próprio da escrita vai desenvolver-se. O estilo pessoal de escrever ainda será possível”, garante a dirigente.

Os argumentos não convencem, mesmo que o discurso e a inovação pedagógica tenham origem na Finlândia – e todos querem ser como aquele país, pelo menos no que toca aos níveis de desempenho escolar. “A Finlândia tem outra cultura que não é a portuguesa, é preciso muito cuidado quando nos pomos a copiar modelos, porque isso pode ser perigoso”, alerta Jorge Ascensão. O ensino dual, tirado como que a papel químico do modelo de ensino alemão, serve de exemplo ao argumento do dirigente. “Não me espantaria nada que um ministro da Educação se lembrasse de fazê-lo cá, porque essa é uma medida relativamente rápida de pôr em prática”, refere o presidente da Confap.

A intenção da Finlândia é mais um exemplo de como a realidade digital se prepara para dar um novo passo para o interior do sistema de ensino. E não é que Jorge Ascensão não veja espaço para a tecnologia. Ela é importante no contexto escolar e até deve haver um “investimento” nesse sentido, diz o presidente da Confap. Mas, mais que isso, é preciso que haja “diversidade de instrumentos e métodos de ensino que estimulem a aprendizagem”.

Ao mesmo tempo, diz Jorge Ascensão, é preciso que a escola se solte da pressão da tecnologia e que recupere o “engenho para trabalhar os valores sociais e humanos que foi desvalorizando ao longo do tempo”.

* Temos algumas dúvidas sobre esta modernice.


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