22/12/2014

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ONTEM NO
"OBSERVADOR"

Divulgado manual da CIA que 
ensinava aos espiões como se 
infiltrarem no aeroporto de Lisboa 

Wikileaks revelou guias da CIA que explicam aos espiões como podem evitar serem descobertos quando se infiltram em países da União Europeia. Aeroporto da Portela, em Lisboa, na lista com detalhes.

A Wikileaks divulgou este domingo mais documentos classificados como secretos pela CIA, neste caso guias práticos para os agentes secretos norte-americanos manterem o seu disfarce quanto se tentam infiltrar em países da União Europeia e do espaço Schengen, passando as verificações de segurança dos aeroportos.


“A CIA realizou uma série de sequestros de cidadãos oriundos de países da União Europeia, incluindo da Itália e da Suécia, durante a Administração de Bush. Estes manuais provam que, sob a Administração de Obama, a CIA continua com intenções de se infiltrar nas fronteiras da União Europeia e conduzir operações clandestinas em Estados-membros da UE”, garantiu o líder da Wikileaks, Julian Assange.

Num dos manuais divulgados – intitulado “Sobreviver ao Segundo Interrogatório” – a CIA explica aos agentes secretos como devem ultrapassar os desafios causados pelas perguntas das autoridades que controlam as fronteiras e como manterem o seu disfarce. O essencial, escreveu a CIA a 21 de setembro de 2011, é ter ” um disfarce consistente, muito bem ensaiado e plausível”, pode ler-se no guia, que contém, ainda, vários detalhes sobre os métodos utilizados nos diferentes aeroportos dos países-membros.

“Os viajantes devem-se assegurar, também, que, antes de viajarem, tudo o que trazem com eles deve ser consistente com o disfarce - os passaportes, a história da viagem, a bagagem, os aparelhos eletrónicos, o lixo que têm nos bolsos, as reservas de hotel, o registo nas redes sociais“, sob o risco de os funcionários do aeroporto os considerarem suspeitos, avisa a agência de inteligência norte-americana.

CIA ensina espiões como se infiltrar em Portugal 
O aeroporto da Portela, em Lisboa, figura naturalmente na lista: os agentes secretos que se pretendem infiltrar em Portugal devem saber que o segundo interrogatório é um procedimento comum quando a origem dos passageiros é Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique e países do ocidente africano. Por isso, e caso o falso perfil do agente faça referência a estes países, os agentes da CIA são treinados para responderem corretamente às perguntas das autoridades portuguesas.
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A CIA fez, também, uma lista de comportamentos suspeitos que podem valer aos espiões – ou como a CIA os designa no documento, “viajantes dos Estados Unidos não-identificados” – um segundo interrogatório. Os agentes são instruídos a não permitirem que exista uma “pausa significativa” entre o momento em que foi feita a questão e o momento da resposta, a não usarem sons que atrasam a resposta, como ‘ah’ ou ‘hum’, e a não apresentarem sinais evidentes de nervosismo – como engolir em seco, morder o lábio, transpirar, respirar profundamente ou ajustar a roupa frequentemente.

O segundo documento, um guia para os espiões norte-americanos que procuram entrar em países do espaço Schengen, explica os vários sistemas eletrónicos de identificação de passageiros utilizados pelos diferentes aeroportos e os riscos que representam para os disfarces dos agentes secretos.

O Sistema Europeu de Informação sobre Vistos (VIS) – uma base de dados criada para permitir uma troca rápida dos dados relativos aos vistos de curta duração entre os países Schengen e que contém informações e dados biométricos dos passageiros (incluindo as impressões digitais) – é uma das maiores preocupações da agência de inteligência norte-americana, que teme que os seus agentes fiquem demasiado expostos – é que o novo sistema tecnológico põe em risco as identidades falsas criadas pelos espiões.

Estes manuais agora divulgados são apenas a ponta do icebergue: a Wikileaks vai continuar a disponibilizar documentos secretos da agência de inteligência norte-americana ao longo do próximo ano, pelo que se esperam novas revelações sobre os métodos utilizados pela CIA.

* Comentários de dois leitores muito atentos do OBSERVADOR e que reproduzimos .

JOSÉ ESTEVES PEREIRA
“Infiltrar” é uma palavra totalmente inadequada. Quem ler os dois manuais não encontra quaisquer instruções para “infiltração”. Os dois documentos são monografias — talvez bem informadas — dos sistemas de controlo de fronteira implementados na UE, tal como o eram em 2011.

PEDRO PESTANA
A única vez que Portugal, Lisboa e a Portela são mencionados neste relatório é na página 9, a par da Venezuela e Indonesia, como países susceptíveis de efectuarem um segundo escrutínio do passageiro, para além do tradicional tratamento do passaporte e respectivo visto à chegada, quando existem indícios de possibilidade de emigração ilegal e, sobretudo, quando a origem é dos países designados como “antigas colónias”. Portanto, o título utilizado para esta notícia parece-me “demasiado” sugestivo e induz os leitores, como eu, em erro, antes de lerem a notícia pois fica-se com a ideia de que a CIA dá indicações para que a entrada na UE seja feita preferencialmente em países “fracos” numa perspectiva de segurança nacional, como Portugal.
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