27/07/2014

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 A ROTA DO AÇUCAR

NOS SEC XV E XVI


Na IDADE MÉDIA o açúcar era fabricado na China e transportado até á Europa, numa rota terrestre pela Ásia e depois pelo Mediterrâneo até aos centros de comércio da altura. Nessa altura o açúcar era uma guloseima de ricos e um remédio.
O AÇÚCAR era o resultado da refinação da seiva adocicada de uma planta existente na china que foi designada por CANA DE AÇÚCAR.

Em 1419, no inicio da sua expansão marítima, os Portugueses descobriram a Ilha da Madeira utilizando uma pequena embarcação.

Nesse novo pedaço de terra, de clima ameno, acharam por bem plantar a CANA DE AÇUCAR, trazida secretamente da China e transformaram-se nos novos fornecedores da tal iguaria.
Por essa razão a Madeira foi dotada de ENGENHOS para esmagar a cana. Esses engenhos tinham como força motriz a água e um sistema semelhante ás Azenhas utilizadas, ainda há poucos anos, nas margens da Ria de Aveiro

A Ilha foi então recortada por um sistema de levadas, semelhantes ás  já utilizadas no continente, destinadas a levarem a água das nascentes existentes aos locais onde existiam os engenhos.

Nesses engenhos, autênticas fabricas de refinação de açúcar, a cana era esmagada e a sua seiva trabalhada de acordo com os ensinamentos recolhidos na China, sendo utilizados  uns potes de barro de forma cónica em determinado momento  da refinação.

É nessa altura que a Ria de Aveiro (então em rápida evolução), e as suas populações ribeirinhas parecem ter entrado na ROTA do AÇUCAR como se vai referir a seguir.

Dos muitos navios que ao longo de muitos séculos encontraram nas lamas e areias da Ria a sua ultima morada, foram descobertos no Canal de Mira, em «Aveiro A», os restos de uma embarcação semelhante á referida BARCHA, da qual podem observar fotos do achado ainda no fundo do curso de água e da sua réplica em exposição.



No achado de «Aveiro A» foram encontrados, entre outros artefactos, grande quantidade de cerâmica medieval que possivelmente iria ser transportada para outro porto.

No leito da Ria de Aveiro têm sido encontradas por pescadores furtivos de amêijoa e também por entidades oficiais grandes quantidades de artefactos em que é possível distinguir o pote cónico que participa na refinação do açúcar.

No fim do século XV Portugueses e Espanhóis descobriram as Américas e novos horizontes surgiram na cultura da cana de açúcar, permitindo que a Europa fosse inundada do precioso néctar.


Uma prova da vontade dos portugueses produzirem açúcar  no Brasil logo no inicio da sua colonização é, por exemplo, o ENGENHO DE ERASMUS. 
Segundo alguns historiadores a sua construção aconteceu juntamente com a formação do povoamento local por volta de 1534. O donatário da Capitania de São Vicente, Martim Afonso de Sousa, funda o então chamado Engenho do Senhor Governador.
Em 1958, o terreno foi doado à Universidade de São Paulo (USP) por Octávio Ribeiro de Araújo, da firma que urbanizou a Vila São Jorge, sendo as suas instalações restauradas e reabertas em 2005.
Segundo os pesquisadores da USP, foram encontradas formas de pão de açúcar sob camada de cinzas.

Uma forma de «pão de açúcar» exposta num museu de São Paulo

No Novo Mundo a solução encontrada para fazer funcionar os engenhos de açúcar foi o transporte maciço de escravos da costa africana, sendo muitas vezes utilizados como autênticos motores humanos na tarefa de esmagar a cana.

Se adoçais a boca com açúcar, não é doce o que tomais, mas é fel, e verdadeiro e humano; e se o tendes posto em alguma bebida, o que bebeis é sangue.
(dizia o Padre António Vieira)

Também para o Brasil as formas de «pão de açúcar» eram levadas da Ria de Aveiro, mesmo quando esta ficou bastante assoreada, chegando mesmo a fechar desde o século XVII ao  XIX.
Entretanto chegou a industrialização e com ela os equipamentos mecânicos, a maquina a vapor, as beterrabas sacarinas, a abolição da escravatura e a produção de açúcar acompanhou a inovação deixando de ser utilizados os velhos «pães de açúcar» em cerâmica.
As muitas FORMAS de «PÃO de AÇUCAR», que não chegaram a partir a caminho do Brasil, foram então utilizadas noutras tarefas, como por exemplo um muro existente na margem de um jardim de Aveiro onde, entre a vegetação existente, elas ainda espreitam.

Por diversas razões tudo leva a pensar que RIA DE AVEIRO pode ter no seu leito lodoso e de areia um grande espólio, desde os povos FENÍCIOS até aos nossos dias.
 infelizmente sabe-se, que além de algumas acções pontuais  das entidades oficiais, só os pescadores furtivos da amêijoa têm, ilegalmente, nas suas casas e de amigos, grandes quantidades de artefactos sem que se conheça o local e o ambiente onde foram encontrados.
Julga-se que está na altura de arranjar uma  solução para reaver tais artefactos e, de uma forma mais cuidada e activa, desenvolver trabalhos de arqueologia na Ria e nas suas margem para melhor conhecermos o passado que temos mantido como TRADIÇÃO.


IN "Clube Natureza e Aventura de Ílhavo"

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