08/02/2014

XAVIER RODRIGUES MARTÍN

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“Melhor” não é suficiente

Quem se atribui o mérito da chuva não se pode surpreender de ser culpado pela seca. Não é uma boa política exaltar as aparentes melhorias da posição do País nos mercados financeiros porque, como a recente instabilidade dos mercados demonstra, os países periféricos acabam por ser considerados os emergentes da Europa.

Não tenho dúvida sobre o início da melhoria do País, após seis anos de quedas sucessivas dos indicadores mais relevantes. Mas não é suficiente. Apesar da recuperação financeira, possivelmente circunstancial e frágil, não conseguimos uma verdadeira recuperação económica porque, para isso, o dinheiro deve ainda chegar às empresas e as famílias e não só aos mercados de mão dos intermediários financeiros e dos grandes investidores, quebrando o circuito fechado de dinheiro barato entre bancos centrais e comerciais em que na atualidade circula.

Para conquistar uma verdadeira recuperação económica temos, no mínimo, três trabalhos hercúleos: limpar os restos da velha economia, construir os fundamentos da nova e criar mecanismos para diminuir a possibilidade de recriar os cenários que provocaram a situação atual. Os dois primeiros desafios são fundamentalmente internos, mas o terceiro é global. Até não sermos bem sucedidos nesta transformação, estaremos provavelmente condenados a viver num cenário de estagnação económica com rajadas de aparente melhoria económica, em contraposição a um cenário pré-crise em que a normalidade residia no crescimento permanente interrompido por crises de duração limitada no tempo. O único antídoto para este cenário de estagnação global, suportado em níveis excessivos de desemprego, dívida e deficit, é o crescimento económico que só pode ser suportado em investimento produtivo que procure uma verdadeira inovação. Esse é o único salva-vidas com o qual as economias podem navegar num mundo com níveis de dívida tão elevados.

Mas além do atraso nos desafios internos de reformas económicas, surpreende-me o conformismo global em relação à ausência de medidas reais e efetivas para prever novas crises. Para minimizar o impacto das próximas bolhas especulativas. Parece que apagar incêndios é mais glamoroso do que evitá-los e que nos interessam mais as histórias sobre os desastres do que a química dos materiais ignífugos.

Nas últimas semanas, a crise dos emergentes tem-nos colocado diante do espelho. O rei ainda vai nu e os mercados estão-nos a alertar. Por isso, não se deveria fazer do regresso aos mercados bandeira de nada.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
07/02/14


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