16/11/2013

HENRIQUE MONTEIRO

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Pronto, 
e agora concordo com Louçã

Não é a primeira vez na vida, espero não ser a última (somos da mesma idade e a esperança de vida dar-nos-á tempo para outros encontros), mas concordo com quase tudo o que Louçã escreveu, ontem, num artigo de opinião no 'Público' sobre o populismo.

Mais do que sobre  o populismo, o ex-líder do Bloco opôs-se à ideia de eleições primárias nos partidos tal como elas têm sido propostas (o sistema americano implica coisas que em Portugal são impossíveis, como por exemplo no recenseamento declarar-se se é Republicano, Democrata ou Independente). As primárias, em Portugal, não poderiam evitar que uma pessoa como eu manifestasse a sua preferência em qualquer partido, do Bloco ao CDS. E diriam, por que razão faria isso? Bem, porque eu tenho preferências de personalidades em todos esses partidos (e provavelmente nos outros também). Como Louçã sublinha, tratar-se-ia de um confronto de personalidades e não de ideias e projetos políticos.  

Ele vai, aliás, mais longe para afirmar que o vencedor das primárias num determinado partido poderia defender o que quisesse sem controlo do próprio partido. O que, em teoria, é verdade (Louçã dá exemplos como defender a pena de morte, a expulsão dos ciganos ou um hipermercado dentro do Templo de Diana). Tem uma vez mais razão, por absurdos que, propositadamente, sejam os exemplos.

Mas eu vou mais longe. Parece-me má ideia a eleição dos líderes partidários por voto de todos os militantes. Preferia a sua eleição em Congresso depois de debates claros entre os representantes das bases. (O pagamento de 11 mil quotas no PS, feito por um militante que mora num bairro social de Matosinhos mostra como pode haver chapeladas em tais eleições). Mas os perfis que têm sido eleitos - aparelhísticos, sem passado profissional - são a melhor garantia de que o voto direto dos militantes não é mais do que a escolha dos aparelhos. Se nos Congressos os partidos quiserem alargar a representação a personalidades que lhes são próximas, para debater e, eventualmente, votar os líderes, pode abrir-se desse modo à sociedade. 

E vou ainda mais longe (e provavelmente contra a opinião de Louçã). Sou, pela mesma lógica, contra os referendos, porque sou contra a ideia de o vencedor ficar com todo o poder, de haver apenas as respostas 'Sim' e 'Não'. A qualidade das democracias verifica-se pelos direitos que têm as oposições (os que perdem) e não pela imposição desregrada dos programas das maiorias (dos que ganham). Não vejam nisto a defesa de constantes obstruções, mas apenas respeito pelas regras do jogo. 

Sou contra todas as formas de democracia direta, porque a entendo que a pureza democrática se realizada mais harmoniosamente através de representantes. Por isso, sou a favor de representantes reais dos eleitores e de círculos uninominais. Não pretendo afastar nenhum partido da AR, por isso também defendo um círculo nacional para compensar os partidos que não ganham qualquer dos círculos uninominais. É o sistema alemão.

A democracia direta, que tanta gente, sobretudo à esquerda, anda a defender, é uma forma de prometer reinos de felicidade e depois fazer o contrário.


IN "EXPRESSO"
14/11/13

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