14/09/2013

SOFIA SANTOS

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Erro sistémico

A esperança média de vida em Portugal é de 80 anos de idade. Aqueles que iniciam hoje a reforma com 65 anos, irão viver, pelo menos mais 15 anos.

Daqui a 30 anos, em 2040, o Eurostat estima que cerca de 48% da população portuguesa terá mais de 65 anos de idade. Ou seja, Portugal tem uma população bastante envelhecida e que vai, nos próximos 30 anos, exercer um peso significativo ao nível das pensões e das despesas de saúde. Com o incentivo que tem existido em estimular a emigração dos jovens de valor acrescentado, e que irão produzir riqueza e realizar descontos noutros países, está criado o cenário para se compreender que o Estado irá ter no futuro graves problemas em assegurar as prestações sociais necessárias ao bom funcionamento de uma economia com estas características.

A título de curiosidade não resisto partilhar uma situação que vivi em 2000 aquando de uma entrevista que tive no Banco de Portugal. Uma das perguntas que me fizeram foi "Qual é o maior problema que vê na economia portuguesa?". Eu respondi "As pensões futuras e a inexistência de um mercado privado de pensões". Foi uma entrevista ao mais alto nível para o departamento de estudos, e a resposta de um dos entrevistadores foi "Não vejo qual é a relação entre a pergunta e a resposta". Existiam três vagas e dois candidatos. Eu não entrei.

Não antecipar os problemas, não compreender a realidade sistémica em que vivemos, origina respostas imediatas, injustas, erradas e possivelmente inconstitucionais. Não faz sentido portanto quebrar o acordo social que o Estado estabeleceu com aqueles que decidiram, no passado, trabalhar para ele. Faz sentido sim, criar-se novas regras para o futura e que possam incidir sobre a geração que hoje tem 40 anos, e que pode assim adaptar-se, em tempo útil, a uma realidade futura ao nível das pensões. Não é correcto incentivar o conflito de gerações, e muito menos o conflito entre o mundo "privado" e "publico". A política, a meu ver, não deve encorajar o conflito da população. Deve sim, respeitá-la e valoriza-la.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
13/09/13

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