07/08/2013

VERA GOLDSCHMIDT FERREIRA

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Gostar de Portugal

Gosto de Portugal, Gosto dos Portugueses! Estou fora de Portugal há 6 anos e meio e sou filha de mãe alemã com alma Portuguesa, o que me permite olhar para Portugal com alguma distância intelectual; a emocional torna-se mais difícil.
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Ser português é fácil quando se está fora. Somos uma nacionalidade mundialmente bem recebida, sem conflitos com nenhuma nação, que se integra bem onde chega e de trato fácil, além de sermos considerados trabalhadores. Quem já visitou Portugal tem normalmente só comentários positivos a fazer, com os quais eu concordo. A simpatia, a humildade e o bem-receber dos portugueses são características que me enchem de orgulho e das quais sinto muito falta. Temos um País pequeno cheio de contrastes paisagísticos e gastronómicos que o tornam maior. Um País cheio de sol, de luz, de boa comida, de bons vinhos e que sabe aproveitar o lado bom da vida. Há, quando conseguimos, uma leveza no nosso estilo de vida.
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Somos um País com serviços de alta qualidade e por vezes temos de sair para perceber quanta. Tive um problema com a minha conta de electricidade em Portugal e bastaram dois telefonemas e a leitura correcta do contador para o resolver. Em Bruxelas, onde vivi durante 6 anos, isto seria impensável. Teria pela frente uma batalha burocrática de pelo menos 3 meses. O nosso sistema multibanco poupa-nos anos de vida...na Suíça para carregar o telemóvel há que ir aos correios ou à empresa e pasme-se, para comprar um bilhete de comboio temos de ter um computador ou ir à estação. Já nem falo do célebre jeitinho português que tantas vezes no salva quando estamos perdidos na burocracia e que pouco ou nada existe em certos países.
Outro ponto positivo é o nosso horário do comércio. Poder fazer compras tarde e ao fim de semana é algo de sinto muita falta. Tanto em Bruxelas como em Genebra o Sábado é dedicado às compras uma vez que durante a semana os horários não são compatíveis com quem trabalha.
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Gosto de Portugal e gosto tanto que tenho muita pena dos nossos defeitos colectivos, que infelizmente nos prejudicam tanto como a nossa beleza natural nos beneficia.
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Para quem está fora uma das primeiras constatações é a nossa falta de capacidade de desenvolver métodos de trabalho. Reuniões começam à hora, têm agendas pré-definidas e hora de término igualmente definida. Os prazos são meramente indicativos e as tarefas deverão estar terminadas com a antecedência necessária para uma revisão final. No local de trabalho trabalha-se e uma vez terminado o dia ainda há tempo para outras actividades. Produtividade conta e não a quantidade de horas que se passa no emprego. Este é para mim um dos grandes erros na nossa organização enquanto Pais. Se trabalharmos todos mais depressa e melhor, teremos mais tempo para nós e para outras actividades que, não só nos darão prazer, como eventualmente nos permitirão crescer em outras áreas que não só a profissional. Basta ver que somos aparentemente os europeus que brincam menos com os filhos. Aqui sim precisamos de uma maior inteligência emocional até por parte dos empregadores que devem incentivar que os seus trabalhadores/ funcionários tenham uma vida privada que os preencha, o que certamente terá um efeito positivo na sua produtividade e eficácia. Portugal tem de começar a apostar na produtividade eficaz, com objectivos concretos, mensuráveis e verificáveis.
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Enquanto colectivo temos uma incapacidade de pensar a médio ou longo prazo. Somos uns eternos Peter Pan com necessidade de recompensa imediata. Temos muita dificuldade em perceber que existem determinados esforços, estratégias, investimentos, que só produzirão resultados a longo prazo. Isto impede-nos de planear a médio e longo prazo e em sermos capazes de perceber que há sacrifícios e esforços que se fazem em nome do colectivo e que poderão garantir o futuro de gerações vindouras. Esta nossa incapacidade afecta todo o nosso espectro societário e é independente do nível educacional. Este tem sido um dos nossos maiores problemas desde há vários séculos. O ganho imediato supera qualquer tentativa de visão futura e será mal recebido quem remar contra a maré. 
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Precisamos de começar a premiar a inteligência em detrimento do "chico esperto" que vive de esquemas e cunhas.
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Somos pouco unidos e vítimas de um complexo de inferioridade colectiva que nos persegue há séculos. Não há nada de errado em termos orgulho do nosso País e dos nossos feitos colectivos, da nossa cultura, língua, forma de estar e viver. E sim, lá fora outras nacionalidades, que não a nossa, protegem-se, unem-se e juntas defendem os interesses do seu Pais, sem vergonha. Vivi esta realidade na Comissão Europeia e posso dizer que essa união não é mal vista mas sim encarada com normalidade.
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Muito mais haveria a analisar mas termino dizendo que, embora por vezes me pergunte como seria a minha vida se tivesse outra nacionalidade, ainda tenho esperança que esta crise que agora atravessamos, não seja só mais uma mas que nos ajude a conseguir fazer as alterações de mentalidade necessárias para transformar o nosso País num local ainda mais agradável para se viver.
Volto ao início...Gosto de Portugal!

Licenciada em Direito, tem 44 anos e trabalha na Organização Internacional das Migrações em Genebra depois de 6 anos na Comissão Europeia em Bruxelas.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
02/08/13

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