11/08/2013

ANA RITA GUERRA

.




Timberlake, o que é 
que fizeste ao MySpace?

Apareceu-me um anúncio ao novo single de Justin Timberlake, Suit & Tie, e lembrei-me que ele fez parte do consórcio que comprou o MySpace. Timberlake, o artista, actor e investidor, costuma ter sucesso em tudo o que faz. Por curiosidade, fui à rede social ver o que se passava. Não reconheci absolutamente nada.

A minha conta foi migrada para a nova plataforma, que custou cerca de 15 milhões de euros, e tudo o que eu tinha antes desapareceu. Mensagens, foi um ar que lhes deu; publicações, era uma vez; nem as fotos sobreviveram à viagem. Sobraram 19 amigos, ou ligações como lhe chamam agora. Tudo bem, não era rede que usasse com frequência, portanto não me chateou muito. O mesmo não dirão os utilizadores frequentes.
Francamente, o novo MySpace parece um derivado de pedaços do Google+, Windows 8 e Spotify, tudo misturado. O design está bom, mas muito diferente do que era antes, e todo o histórico desapareceu. Timberlake, que se passou? O que fizeste ao MySpace?
Percebe-se a necessidade de actualizar a plataforma e aproveitar aquilo que sempre foi a sua força, a música. A ideia é atrair novos utilizadores, aqueles que nunca tiveram perfil na rede e que se calhar estão fartos do Facebook, por exemplo. Só que há 25 milhões de pessoas que continuam a utilizar o MySpace, os fãs que resistiram a tudo. Tirar-lhes anos de publicações, fotos, comentários, vídeos e blogues em prol de um visual janota é um erro tremendo. Ainda mais sem qualquer aviso prévio.
Os utilizadores que se revoltaram obtiveram uma resposta oficial do MySpace, que diz o seguinte: “A mudança não é fácil e há muitas coisas a acontecer. Compreendemos que esta informação é muito importante para vocês. Por favor entendam que os vossos blogues não foram apagados. Os vossos conteúdos estão salvaguardados e temos estado a discutir as melhores formas de vos devolver os vossos blogues.”
Certo. O problema é que pode ser tarde demais quando chegarem a uma solução. No “Ask MySpace” há uma publicação intitulada “ I want my blogs and classic MySpace back” e dezenas de outras com queixas de utilizadores.
“Partilhei abertamente momentos íntimos que não podem ser revividos ou recontados, porque foram vividos. Eu revisitava o meu MySpace religiosamente por causa dos meus blogues... o MySpace deu a última facada nas costas”, escreveu um. “Mantivemo-nos fieis quando o MySpace quase se afundou”, escreveu outro, “porque é que nos tiraram os jogos?”. E uma utilizadora limitou-se a isto: “DEVOLVAM AS MINHAS FOTOS.” Sem pontuação nem bonecada, para saberem que está mesmo zangada.
Por mais dificuldades que a equipa que está a tentar reavivar o MySpace enfrente, e compreendo que deve ser difícil, não percebo como é que acharam que limpar as contas de toda a gente ia ser pacífico. No mínimo, tinham avisado com antecedência, garantindo que tudo estava guardado e ia ser devolvido. A não ser que não soubessem que o historial seria formatado. O que é bastante mais grave.
Quem nunca teve conta no MySpace talvez ache o site bastante interessante, apesar de ser um pouco estranho ao início – não se percebe onde é a pesquisa, onde é o stream, onde se escrevem actualizações. Mas se nunca experimentou a versão antiga, não vai ter choque nenhum. Até pode inscrever-se sem grandes demoras usando a conta do Twitter ou a do Facebook, e usar o site para ouvir música.
Para quem estava habituado à versão antiga, a novidade cai mal. Não é por ser diferente, é porque apagou a história – e essa, sem dúvida, era a grande força do MySpace. 

IN "DINHEIRO VIVO"
08/08/13

.

Sem comentários: