06/07/2013

SOFIA SANTOS

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O princípio do fim

A recente decisão a nível Europeu relativamente à possibilidade dos depositantes com mais de 100 mil euros numa conta poderem ter de contribuir com as suas poupanças para o ‘bailou't do banco onde têm esse montante, constitiu o princípio do fim da banca como a conhecemos hoje. 

Desde sempre que os bancos têm como missão principal proteger as poupanças dos seus depositantes e exercer o seu dever fiduciário, ou seja, gerir da melhor forma o dinheiro de terceiros que lhes confiam as suas poupanças. 

Usualmente os bancos afirmam que o seu principal activo é a confiança que lhe é atribuída pelos seus clientes. Isto significa que a confiança e a segurança têm constituído os pilares do sistema bancário. 

Se a partir de 2018 os depositantes podem vir a ter de contribuir com as suas poupanças para colmatar a má gestão de investimentos dos bancos, então ter as poupanças no banco já não é seguro. 

Assim sendo, o dever fiduciário dos bancos altera-se, uma vez que agora passam a ter menos responsabilidades perante os seus clientes.
Neste contexto, os privados e empresas com mais de 100 mil euros num depósito bancário, irão dividir o dinheiro por várias contas, retirar o dinheiro da Europa ou começar a ter o dinheiro num cofre em casa. Qualquer que seja a acção, uma das principais consequências será a diminuição de dinheiro em circulação, uma vez que os bancos, em geral, irão ter menos depósitos. 

Com menos depósitos, os bancos ficam mais pequenos e por isso a consolidação torna-se ainda mais necessária; com menos depósitos há menos empréstimos. 

Esta decisão pela Comissão Europeia utiliza o argumento de que, desta forma, se proteje o contribuinte de futuras perdas bancárias. Na realidade, esta medida irá afectar todos os contribuintes uma vez que iremos viver numa economia em que se assume que os bancos já não têm a responsabilidade de proteger as poupanças dos seus clientes. 

Esta medida irá antes proteger os accionistas. Esses sim, deveriam ser os únicos a pagar por um ‘bailout', pois afinal são os únicos a receber quando há lucros.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
03/06/13

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