04/06/2013

MARIANA VIEIRA DA SILVA

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Unidos no não, e agora?

 Mário Soares encheu a aula magna, encheu mais uma sala de gente, encheu sala de diversas esquerdas e até atribuiu o epíteto de “nosso camarada” a Pacheco Pereira.

O momento que vivemos dá sentido à reunião magna, por mostrar que somos muitos, mais do que nós, a olhar à volta - um pouco à esquerda, um pouco à direita - e a pensar o mesmo. Pensar que não suportamos mais decisões tão desesperadas quão desesperantes, que não aguentamos mais um orçamento de Gaspar, que não toleramos nem mais um discurso alienado de Passos. Juntos, para dizer que o Governo tem que sair, e que tem que ser já. E, para este efeito, a união à esquerda é útil, mas já não chega, porque são muitas as vozes imprescindíveis de outras áreas _políticas que se juntam a este protesto.

António Nóvoa dizia no seu discurso -antecipando as reações - que sim, isto é apenas um encontro, mas se for um encontro de união, de reunião e de vontades poderemos agir em conjunto.
E este é o ponto essencial.
Há uns meses, o PS e o BE de Caminha reuniram-se e decidiram passar das palavras de união ao ato de coligação. Conciliaram divergências, identificaram _o adversário comum, definiram políticas concretas em torno das quais fariam campanha, primeiro, e governariam a cidade, depois. Semanas mais tarde, a mesa nacional do BE chumbou essa proposta.

À esquerda, não se trata tanto de resolver a equação se é mais o que nos une ou aquilo que nos separa. Une-nos muito, sempre que a direita governa. Separa-nos muito, também: a visão do Estado Social, ora como conquista, ora como vítima dos últimos 39 anos; a Europa, ora como projeto ora como fatalidade; uma agenda económica que ora nada quer reformar, ora nem sempre soube ser uma alternativa às direita (e convive demasiado bem com uma regulação fraca, com paraísos fiscais). Resolver estes bloqueios: o da visão do Estado social, o da Europa, o de uma agenda alternativa e progressista seria essencial para passar da união no protesto, para a união no projeto.

Mas talvez fosse mais fácil começarmos numa qualquer Caminha.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
03/06/13

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