27/04/2013

CRISTINA AZEVEDO

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Não é esquisito?

1. Que o ano letivo ainda nem tenha acabado e já ouçamos outra vez falar de um novo programa de Matemática para o Ensino Básico?
2. Que se encontre como justificação para as mudanças que encerra a ideia de que (afinal) a memória não é inimiga da compreensão!?
3. Que se comemore o Dia Mundial do Livro e o Porto fique sem a sua Feira do Livro?
4. Que tenha de suportar as corridas da Boavista economicamente rentáveis?
5. Que a execução orçamental só se componha quando se consegue à cabeça capturar a fundo o imposto sobre o rendimento das famílias?
6. Que se remodelem dois secretários de Estado e se abra uma Comissão Parlamentar de Inquérito alegadamente pela mesma razão sem que se explique a alegada conexão?
7. Que por causa disso se instale uma dúvida sobre a idoneidade dos dois ex-governantes provavelmente injusta?
8. Que se decida estender os horários de atendimento nos centros de Saúde até às 22 h sem se perceber se tal se justifica em todo o lado?
9. Que, depois de aplicada a medida, tenhamos de a "revirar" porque haverá centros de Saúde «às moscas» com custos adicionais?
10. Que ouçamos um banqueiro dizer que o primeiro dever de um banco é proteger os depósitos e portanto nada de forçar a concessão de crédito não vá alguma coisa correr mal?
11. Que pouco depois o Governo afiance que vai forçar a descida dos spreads praticados pela Banca?
12. Que se almeje o "licenciamento na hora" e se invetive o comportamento dos "obscuros" funcionários públicos que a toda a hora "metem os processos na gaveta" sem se perceber que na grande maioria dos casos estão apenas a cumprir prazos que estão consagrados na lei, essa sim da responsabilidade de um qualquer Governo?
13. Que se insista (e bem) no aumento das exportações, mas não se perceba quais os resultados da "diplomacia económica" nessa outra vertente crucial que é a captação de investimento estrangeiro?
14. Que se oscile entre o navegar à vista - provavelmente o mais acertado - e os sete cabalísticos anos para o crescimento?
15. Que nos dispersemos por 50 medidas que se vão tornando vagas logo a partir da 3.ª?
16. Que Bragança seja o único distrito do país sem um Km de autoestradas e, ainda assim, se tarde em terminar o que tarde se começou?
17. Que não havendo dinheiro (deve ser essa a razão do atraso) tenha havido ainda assim para indemnizar a Câmara Municipal de Lisboa pelos terrenos do aeroporto? Paga-se sempre primeiro a Lisboa e a ordem, como sabemos, nunca é arbitrária.
18. Que não haja nenhum conselheiro de Estado de Trás-os-Montes ou do Minho?
19. Que a maioria esmagadora seja mesmo e só de Lisboa?
20. Que o programa de ajustamento da Madeira tenha consequências na adequada sinalização e equipamento da sua rede de túneis pondo em causa a segurança pública?
Vinte questões que simplesmente me atravessaram os ouvidos nos últimos 10 dias e que me deixaram a pensar. Na verdade, a perguntar: Não é esquisito?
Se procurar encontrarei muitas explicações. Mas nunca há uma oportunidade como a primeira para conseguir mobilizar. É preciso explicar, logo e melhor!
Ainda assim e ao contrário uma decisão política e uma intervenção pública resgataram-me deste sentimento de perplexidade. Nos últimos dois dias!
A decisão política de convidar Castro Almeida para secretário de Estado do Desenvolvimento Regional. Vir buscar alguém que conhece a fundo o território e o peso da centralização política e administrativa do país dá garantias de uma leitura assertiva da pasta e de uma utilização consistente dos instrumentos da Política de Coesão de que dispõe.
A intervenção de Félix Ribeiro no programa "Olhos nos olhos" da última segunda-feira. A sua capacidade de apreciação estratégica dos problemas levantados e a irredutibilidade em se deixar envolver na reação de curto prazo reavivou a confiança que devemos manter no quadro técnico superior da nossa Administração Pública (sistematicamente preterida por outsourcings da moda). Sistematizou aliás esta atitude numa frase cristalina: "Eu trabalhei 30 anos na Administração Pública. Não espere que comente governos!".

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
26/04/13

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