14/04/2013

BERNARDO PIRES DE LIMA

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'Pajarito chiquitito'

Os venezuelanos vão pela terceira vez às urnas em seis meses. Dizem-me alguns que campanha permanente é democracia fortificada. Lamento, mas não compro a receita. 

Democracia também é medida em qualidade, liberdade e solidez das propostas políticas. Certo é que, em outubro, a participação e o resultado da oposição atingiram um pico histórico, tendo Chávez registado o pior resultado em presidenciais. Em dezembro, já com Chávez em Cuba, o PSUV dizimou a oposição, conquistando vinte dos vinte e três estados nas regionais. Hoje, sem Chávez mas com o seu "fantasma" por perto, Capriles tem praticamente todas as sondagens contra si, algumas dando-lhe menos vinte pontos do que Maduro. 

De acordo com isto, parece ser mais fácil a Capriles enfrentar Chávez vivo do que morto. É a diferença entre uma disputa cara a cara, com dois adversários definidos, e uma contenda a três, sendo que dois fazem equipa, um dos quais é mais do que candidato político, corporiza um processo. Não interessa se nos identificamos ou não, se a avaliação é positiva ou negativa: estou apenas a traçar as regras do jogo. Que questão levanta? Que já nem só de carismáticos vive a Venezuela ou a América Latina, mas que ainda hoje é possível recorrer ao misticismo para travar lutas eleitorais. Confesso que julgava a política latino-americana mais próxima da maturidade do que da infantilidade democrática, mas voltei a enganar-me. 

Quando um candidato a líder de uma nação com a importância da Venezuela diz que Chávez teve dedo na eleição do Papa, que lhe apareceu em forma de um pajarito chiquitito e que quer montar gabinete junto aos seus restos mortais, entramos num filme de animação de baixo custo, estupidificante para os eleitores. Maduro pode vencer com facilidade esta eleição, mas não significa que ganhe o país, lhe dê coesão e maturidade. Maduro, só mesmo o apelido.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
13/04/13

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