07/03/2013

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HOJE NO
"CORREIO DA MANHÃ"

Sem-abrigo chegam a casa 

 É com o apoio dos que não ficam indiferentes a quem tem apenas a rua como morada que nasceu, em Oeiras, uma casa de transição para lhes dar um teto. A ‘Casa dos Corações’ foi inaugurada quarta-feira.

Pedro Magalhães já foi sem-abrigo. Tem 36 anos. Passou mais de metade da sua vida na rua, à procura de um teto improvisado. Este guineense chegou a Portugal quando tinha apenas nove anos. Veio sozinho, para viver com a irmã, que deixou o marido expulsá-lo de casa. Era ele uma criança indefesa. "Fiquei na rua, sozinho." Sem família, passou a dormir nos passeios de Algés, Oeiras.
Nicolas - como é tratado por todos - diz que a sociedade devia "olhar para a rua como a casa de quem não tem mais nada". Só que ao relento não há lençóis de flanela nem colchões ortopédicos. Há inimigos: "o frio, a humidade e a chuva". E o medo (muitas vezes).
Nunca casou. Se pensou em filhos, desistiu. Para Nicolas as relações são duvidosas. "Primeiro, penso em sobreviver. Penso que quero angariar, para ter, e só depois constituir família". Em muitos momentos da vida, chegou a pensar que morar numa casa abandonada - ainda que, sem teto - ou num qualquer barracão, já era ter um lar. E do mal o menos: nunca foi criminoso. "Sou uma pessoa que nunca teve problemas de droga, nem com o crime, nem com nada", frisa.
E se as ruas têm muito de mau, há sempre bons momentos. O melhor foi a ajuda que Nicolas teve das técnicas do Instituto de Prevenção e Tratamento da Dependência Química e Comportamentos Compulsivos (IDEQ), quando as conheceu, ainda adolescente. Durante mais de dez anos apoiaram-no na rua. E depois deram-lhe um teto, um quarto num apartamento para dar um verdadeiro lar a quem não o tinha.

‘Casa dos Corações' aparece como um sinal de esperança
É no Bairro dos Corações que está localizada a mais recente casa de transição do IDEQ. Aqui, num apartamento com três quartos, cozinha, casa de banho e até uma horta, irão viver quatro sem-abrigo como Nicolas já foi. Vão sair da rua e ganhar autonomia. Teresa Bacelar, técnica do IDEQ, explica que neste espaço as regras não serão esquecidas. Dependendo de cada caso, os sem-abrigo "permanecerão por um período de seis meses a um ano". Há cerca de 60 sem-abrigo em Oeiras. E se esta casa pode ajudá-los, muitos ainda terão de esperar por um lugar.

* EXEMPLAR

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