28/01/2013

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 HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"

Euro a caminho de uma guerra cambial? 

Tendo resolvido o problema financeiro mais urgente, a Zona Euro precisa agora de lidar com um dilema potencialmente tão ou mais grave: o de uma moeda valorizada, escreve Mohamed El-Erian. 
 Os problemas existenciais mais urgentes do euro terão sido resolvidos ou estarão em vias de o ser, mas a região terá agora de gerir um dilema particularmente grave em tempos teimosamente recessivos: o de uma moeda forte.

A advertência é feita hoje nas colunas de opinião do Financial Times por Mohamed El-Erian, CEO da PIMCO, uma das maiores gestoras obrigacionistas do mundo, recentemente escolhido por Barack Obama para presidir ao órgão consultivo do presidente norte-americano em matéria de política de apoio ao desenvolvimento, o “Global Development Council”.

“Tendo resolvido o seu problema mais urgente, a Zona Euro precisa de lidar com um novo dilema: o de uma moeda valorizada”, escreve o gestor, frisando que, só nos últimos seis meses, o euro valorizou 11% contra o dólar norte-americano e 8% contra o cabaz de moedas dos países com quem faz o essencial das trocas comerciais.

Ainda centrada no desendividamento e com um crescimento económico débil, que voltou a ser negativo na segunda metade de 2012, a Zona Euro “não pode comportar uma moeda mais forte”, prejudicial ao sector exportador não apenas de potências como a Alemanha, mas também de países como a Espanha, onde só a contribuição das exportações líquidas tem sido positiva.

O que fazer, então?
A melhor resposta passa por “acelerar significativamente” as reformas estruturais orientadas para o aumento da produtividade e avançar na união bancária, orçamental, concretizando o roteiro de integração política sugerido no relatório dos "quatro presidentes". Mas depois de ter evitado um problema financeiro existencial  e tendo pela frente um calendário eleitoral exigente (Itália vai a votos em Fevereiro e a Alemanha em Setembro), El-Erian diz que os políticos parecem mais interessados em “disfrutar o momento” – e, com ele, “a ilusão de estabilidade”. Pelo que voltar a bater à porta do BCE para obter ajuda “é só uma questão de tempo”.

O CEO da PIMCO antecipa, assim, que o BCE será em breve politicamente pressionado a adoptar uma política activa com olhos na desvalorização do euro, o que passará por novas descidas na taxa de juro de referência para os empréstimos (actualmente fixada em 0,75%) e até por iniciativas de “flexibilização quantitativa” semelhantes às adoptadas pelo Banco da Inglaterra,  Banco do Japão e Reserva Federal dos EUA.

“Este não é um caminho pelo qual o BCE optará com facilidade”, escreve o gestor, concluindo que, se o fizer, o banco central europeu transformará um dilema regional num global. “Sendo um preço relativo, não é possível a todos os países reduzirem as suas taxas de câmbio em simultâneo. Se o BCE for forçado a juntar-se a esta tentativa colectiva para fazer o impossível, os riscos de uma guerra cambial global e de medidas proteccionistas aumentariam significativamente”, adverte.


* Mesmo para nós, leigos em assuntos de economia, exceptuando a doméstica, era preceptível que a moeda europeia tem de desvalorizar se não importaremos mais do valor das exportações e a taxa de referência para o crédito também tem de baixar com a obrigatoriedade de se acabar de vez com os bancos agiotas, caso de Portugal.

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