21/01/2013

ANA RITA GUERRA

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O génio informático que 
         se enforcou aos 26 anos 

 Foi encontrado na sexta-feira. Suicidou-se, por inacreditável que seja, com uma corda na garganta. Aaron Swartz, de 26 anos, era um dos grandes génios do nosso tempo e um dos maiores activistas da liberdade na internet. Não era apenas talentoso, era uma força da natureza. 

Um breve resumo do que fez até chegar aos 26 anos inclui desenvolver uma versão inicial do RSS (rich site summary), que permitiu na altura distribuir facilmente conteúdos na internet – como vídeos, imagens e publicações em blogues. Tinha 14 anos quando o fez. No ano seguinte, aos 15, já trabalhava com o fundador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, só para dar um cheiro do quão dotado era.

 Nessa mesma altura, Swartz fez parte da equipa que criaria o sistema de licenças Creative Commons, tão essencial para facilitar a utilização legal de conteúdos e partilhá-los. Depois criou o portal Reddit, que permite aos utilizadores pontuarem diariamente as notícias que leram – praticamente o único dos seus empreendimentos que rendeu dinheiro, já que a Conde Nasté comprou o site em 2006.
Como é que um suicídio termina esta história? Swartz tinha horror à censura na internet e co-fundou o grupo Demand Progress, que em 2012 foi dos principais opositores às propostas de legislação anti-pirataria, que acabariam por falhar.  

Em 2006, conseguiu aceder a todo o arquivo de livros da Biblioteca do Congresso, porque achava injusto que fosse cobrado dinheiro pelo que estava no catálogo.Disponibilizou-o na Open Library, parte do projecto Internet Archive. Fez várias coisas do género, sem grandes consequências.
Até que, em 2011, foi preso por copiar e disponibilizar 4,8 milhões de documentos da base de dados online JSTOR, que arquivava os trabalhos académicos do campus do MIT (Massachussets Institute of Technology). Ele tinha direito a aceder ao arquivo, mas não a descarregá-lo e a disponibilizá-lo noutro lado.
Ora o caso civil foi resolvido com um acordo fora do tribunal. Mas a promotoria pública não ficou satisfeita e formalizou acusações criminais contra Swartz. Mesmo tratando-se de investigação académica. Não eram dados confidenciais do FBI nem informação sobre centrais nucleares no Irão : era investigação. Académica. 

A promotora do Massachussets, Carmen Ortiz, não quis saber disso. Queria fazer de Swartz um caso exemplar, perseguindo-o de forma implacável e dizendo que roubar é sempre roubar, quer se use um computador ou um pé-de-cabra, e quer se roube dinheiro ou trabalhos escolares. Ortiz ignorou o facto de a base de dados JSTOR ter disponibilizado abertamente os trabalhos a seguir ao acordo com Swartz.
Ortiz terá feito a vida de Swartz num inferno. Recusou um acordo que excluísse algum tempo na cadeia para o arguido, segundo o seu advogado. Ameaçou-o com trinta anos de cadeia. Se Swartz tivesse furtado um disco rígido com os conteúdos do arquivo, apanhava serviço comunitário. Mas como foi pirataria online, Ortiz tinha cobertura legal para fazer dele um exemplo. Atormentado com a possibilidade de ser condenado a 30 anos de cadeia, Swartz suicidou-se. 

A família culpa Ortiz, claro, e a sua perseguição desproporcionada, embora Swartz já tivesse lutado contra a depressão e os motivos que levaram ao suicídio possam ser vários.
Especialistas legais que se pronunciam agora sobre o caso dizem que Ortiz tinha ambições políticas muito fortes e queria um caso mediático, que enviasse uma mensagem clara. Escolheu um dos bons para o fazer, em vez de se meter os piratas claramente menos escrupulosos que infestam a internet.
Tudo nesta história é terrível. Para bem do sistema, é bom que alguma coisa mude depois da morte de Aaron. Senhora Ortiz, roubar não é sempre roubar.


IN "DINHEIRO VIVO"
16/01/13

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