21/11/2012

JOÃO MARCELINO


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Um problema à esquerda

1 O compromisso assinado com os credores internacionais delimita com clareza o sentido de responsabilidade dos partidos portugueses. 

De um lado - do PSD, do PP e do PS - há divergências quanto às estratégias a adotar, tanto internamente como no palco europeu, mas existe uma certeza comum quanto ao que se quer: União Europeia, moeda única, confiança dos mercados e dos seus investidores, financiamento da troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) para que o País possa vencer este período que é, de facto, de recuperação de uma falência do Estado. Pode discordar-se do peso relativo da austeridade versus medidas para crescimento, mas existe um quadro de valores políticos que merece consenso.

Para lá desta linha, o recente congresso do Bloco de Esquerda mostra que não há alternativa à esquerda do PS. Bloquistas, como os comunistas, que também brevemente se reunirão em congresso, insistem em "rasgar o memorando" sem nunca conseguirem apresentar uma alternativa para o financiamento do País.
Percebe-se que a esquerda radical insista no argumento de que, nunca tendo governado, não contribuiu para a atual crise do Estado português - tudo culpa da direita, dos bancos, do patronato, enfim, do capitalismo. O problema está em que, tendo Portugal chegado a esta triste dependência de terceiros para assegurar o normal funcionamento do País, não basta dizer o que se não quer. É preciso dizer qual é a alternativa. Como é que, se se prescindisse deste documento e simultaneamente se perdesse o financiamento, o País continuaria a funcionar? Como se evitaria o colapso, se pagariam aos funcionários públicos, se manteriam os hospitais a prestar cuidados de saúde, etc., etc.? 

Este é o drama da extrema-esquerda nacional. Quer sintonizar-se com a contestação, estar ao lado das pessoas necessitadas, mas não tem mais nada para oferecer do que palavras, emoções, intenções. Parece ainda estar longe o momento em que, de verdade, conseguirá ter uma estratégia alternativa para colocar à consideração dos eleitores. E, assim, aspirar ao poder.


2 Do pecado dos partidos estão os sindicatos isentos. Aí percebe-se que não seja fundamental existir uma alternativa articulada. Basta o protesto, a reivindicação - sendo que o movimento sindical português, até aos dias de hoje, sempre foi uma peça importante, e responsável, do sistema. Como se viu na última quarta-feira, frente à Assembleia da Republica, os sindicatos e os seus dirigentes sabem recusar a companhia da marginalidade e do delito comum, da desordem e da provocação.
Há muito tempo que o Portugal não aparecia unido em torno de um acontecimento, preocupado com a ordem, solidário na autoridade que os cidadãos de um Estado de direito delegam no aparelho policial.
3 Ao apuro profissional mais uma vez demonstrado pelo corpo de elite da PSP é justo associar a ação política do ministro Miguel Macedo, que desde a primeira hora no cargo deu sinais de preocupação com a imagem das forças de segurança e o seu relacionamento saudável com os cidadãos.
Miguel Macedo foi logo muito rápido a reagir aos incidentes do Chiado, há alguns meses, nos quais a polícia se excedeu na resposta às provocações de que foi alvo. Daí para cá, a polícia evoluiu no controlo das manifestações, como vem ficado provado por diversas vezes nas últimas semanas. É um caso em que o Governo personifica trabalho e tem o reconhecimento pelos resultados.

A visita de Angela Merkel a Portugal foi diplomaticamente positiva, sobretudo nas consequências para fora de Portugal. É preciso combater na Europa a ideia de que a gente do Sul quer viver à custa do trabalho e das poupanças dos povos do Norte. Sem essa perspetiva, será difícil a esta débil União conseguir combater a crise que começou aqui e terá de ser ganha aqui se se quiserem evitar males maiores.


DIRECTOR

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

17/11/12


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