20/10/2012

PEDRO MARQUE LOPES


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Incompetência e 
         irresponsabilidade
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Tenho de dar um desconto nas declarações que vêm do Governo e em especial do Ministério das Finanças, porque tem-se verificado que um dia é uma coisa e no dia seguinte já é outra." As palavras são de Mota Amaral e podem ser aplicadas ao processo de elaboração do Orçamento do Estado para 2013.
Mota Amaral consegue dar um desconto, mas é muito difícil para um qualquer cidadão a quem este Governo se prepara para retirar mais uma parte dos seus rendimentos ou mandar para o desemprego compreender tanta desorientação, tanta incompetência, tanta irresponsabilidade
Começou com o anúncio ao País duma medida que seria a pedra angular da política do Governo: os trabalhadores transfeririam parte dos seus rendimentos para as empresas, de forma que estas investissem mais e criassem mais emprego. Segundo as más línguas, um dos conselheiros do primeiro-ministro teria tido essa luminosa ideia trinta e seis horas antes de o próprio Passos Coelho a comunicar ao País... O resto é do conhecimento geral: os portugueses, esse bando de ignorantes, repudiaram a ideia e essa medida foi esquecida.
Pouco tempo depois de ter aparecido publicamente a defender a dita mexida da TSU e pré-anunciar umas "alterações" nas tabelas do IRS, Vítor Gaspar veio anunciar um enorme aumento de impostos. Estranhamente, ou talvez não para alguém que pertence a um Governo sem o mínimo dos mínimos de estratégia, as empresas viam os impostos sobre elas aumentados. Ou seja, uma semana antes, as empresas iam ver os seus encargos diminuídos, para uma semana depois os verem violentamente acrescidos.
Entretanto, entre anúncios do fim de deduções fiscais, sobretaxas, taxas de "solidariedade", cortes na educação, na saúde, cortes nas pensões, aumentos nos transportes, fim de apoios sociais, redução dos escalões do IRS para cinco, veio também uma fortíssima subida no imposto sobre imóveis. O Governo não deixava entrar em vigor uma lei que a sua maioria aprovara e que limitava o crescimento desse imposto. Abandonava essa cláusula de salvaguarda e permitia que o seu crescimento fosse ilimitado. Não só o aumento desse imposto seria brutal para a maioria da população, como os que de seu pouco ou nada mais têm que uma casa estariam sujeitos a um crescimento do imposto igual ao de uma pessoa com outros meios económicos.
Bom, passados uns dias, esta alteração no IMI, com certeza fruto de estudo aturado, caiu. Um engano, provavelmente...
Mas como é que soubemos que essa medida foi abandonada? Porque o Governo, um dia antes do debate parlamentar, enviou para todos os órgãos de comunicação social um relatório preliminar em que constavam as novas tabelas de IRS, cortes nas pensões acima dos 1350 euros, entre outras medidas que visam destruir o País, também com a nota de que a dita alteração tinha sido abandonada. Curiosamente, aos partidos representados na Assembleia da República nada chegou.
Pronto, já tínhamos à nossa disposição as principais medidas do Orçamento do Estado? Nada disso. Afinal, ainda não sabemos se o que consta neste documento se confirma.
Apesar das infindáveis reuniões do Conselho de Ministros dos últimos dias, a fazer lembrar os alunos cábulas que não tendo estudado durante o ano colam a cuspo a matéria nas vésperas do exame, o primeiro-ministro não garante que são exactamente aquelas as normas que vão figurar no orçamento. E o CDS, que às segundas está no Governo e às terças na oposição, recusa-se mesmo a comentar aquilo que diz desconhecer. Ou seja, das duas uma: ou o CDS não aprovou em Conselho de Ministros o Orçamento e esta versão preliminar apareceu para condicionar os centristas ou quer-nos convencer de que ainda nos vai arranjar umas migalhas que depois devemos agradecer atentos e venerandos. Enfim...
Amanhã, pelos vistos, vamos ter uma outra versão do Orçamento para 2013. Vai ser a quinta ou a sexta.
Já não bastava sabermos que, mais medida, menos medida, este orçamento vai destruir o que resta da nossa economia, aniquilará completamente a classe média, levará o desemprego a taxas impensáveis, conduzirá Portugal ao caos social (político já está), fará as instituições ruírem, ainda temos de assistir a este vergonhoso espectáculo de incompetência e irresponsabilidade.
Este Governo talvez soubesse gerir uma sociedade recreativa, não um país.
Para compor este ramalhete de incompetência e irresponsabilidade só faltava mesmo assistir ao comportamento do PS e de António José Seguro, que no meio disto tudo não arranjaram melhor do que falar da populista e demagógica proposta da diminuição de deputados e duns carros para o grupo parlamentar.
Estamos bem tramados.
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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
14/10712

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