21/07/2012

EMA PAULINO



Oportunidades,
      oportunistas,
ou simples
    pontos de vista
                         
 Ninguém contesta que o produto que se transacciona – a saúde – não é um bem de consumo qualquer. Mas nem por isso, não negociável Diz-se frequentemente que opiniões, cada um tem a sua. Por isso, não é de estranhar que diferentes individualidades apreciem de forma distinta a evolução do sector privado no grande mercado que é a saúde.

Uns dirão que a presença de operadores privados introduz concorrência no sector, o que pode estimular a eficiência e promover uma maior qualidade dos cuidados que são prestados. Outros, aceitarão a existência marginal destes operadores como complemento a um Serviço Nacional de Saúde, responsabilidade do Estado, universal e tendencialmente gratuito. Outros ainda, contestarão até a afirmação de que a saúde é um mercado. Se bem que, sobre este aspecto, não há como negar que também a saúde é constituída por um conjunto de transacções entre compradores (quem recebe os cuidados) e vendedores (quem os presta). Embora também ninguém conteste que o produto que se transacciona – a saúde – não é um bem de consumo qualquer. Mas nem por isso, não negociável.
Mas não sendo um bem de consumo qualquer é sem dúvida um bem essencial. E independentemente dos constrangimentos que o país apresenta em matéria do seu financiamento, é um bem que terá sempre muita procura. E havendo procura, haverá sempre alguém interessado em oferecer. Por um preço sempre justo, ou pelo menos, ajustado ao mercado...

Sob o lema “ O seu plano de saúde anticrise – proteja-se dos cortes na saúde”, uma empresa que se afirma interessada em criar e comercializar produtos e serviços de saúde, apresenta-se hoje como uma boa alternativa a um SNS que caracteriza como oferecendo uma saúde cada vez menos gratuita, tendencialmente paga... e cada vez mais a preços altos. Também há uns meses atrás, Lisboa foi inundada de cartazes de um jornal diário, anunciando um novo cartão de saúde, ao qual os leitores poderiam aceder gratuitamente durante um ano, e que poderiam depois renovar por um valor anual. Este tipo de soluções têm vindo a multiplicar-se significativamente, e vêm juntar-se à oferta já existente de seguros de saúde privados.

Oportunidades, oportunistas, ou simples pontos de vista Por Ema Paulino, publicado em 19 Jul 2012 - 03:00 | Actualizado há 23 horas 26 minutos Ninguém contesta que o produto que se transacciona – a saúde – não é um bem de consumo qualquer. Mas nem por isso, não negociável Ainda esta semana, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos, principal accionista do grupo Jerónimo Martins (detentor dos supermercados Pingo Doce), anunciou a criação da marca Walk’ln Clinics, e entra assim numa nova área de negócio: as clínicas médicas. O seu mote: facilitar o acesso a cuidados médicos.

Já houve quem acusasse este governo de “empurrar” a população para estas ofertas privadas, havendo até quem acredite que impera uma predisposição ideológica do actual ministro da Saúde para as mesmas. Ora, na minha opinião, o que hoje impele o indivíduo a procurar soluções alternativas e/ou complementares não é claramente a ideologia, mas sim a incapacidade orçamental do SNS (e as suas consequências). E esta não foi certamente criada pelo sector privado. Quanto muito, foi criada pela inaptidão dos órgãos políticos, e instituições do sector, em antecipar soluções para um novo paradigma para a saúde. Menos centrado nos hospitais, e mais centrado na prevenção e nos cuidados primários.
Sempre que quem está instalado não adequa a sua oferta ao mercado, cria-se uma oportunidade.
E atrás de cada oportunidade, escondem-se sempre oportunistas. E retire- -se-lhe toda a conotação negativa... Afinal, o valor das suas acções dependerá tão somente do ponto de vista de cada um. Na passada segunda-feira, Luís Delgado, comentador político num canal de notícias, afirmou veementemente, a propósito do caso “Miguel Relvas”, que não acreditava em teorias da conspiração. Eu também não acredito em... oportunidades de sonho nem em saúde ao desbarato.

Farmacêutica

IN "i"
19/07/12

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