19/07/2012

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Médico quebra mitos sobre a saúde 

Laranja é boa a qualquer hora do dia, café previne demências e doenças do fígado e é inútil beber dois litros de água por dia. Apenas algumas das falsas crenças sobre o que faz bem e faz mal arrasadas pela investigação científica. Saiba mais. 

 Uma das vertentes do Programa Harvard Medical School-Portugal, que resulta de uma parceria entre a Universidade norte-americana e escolas de Medicina e laboratórios portugueses, é a divulgação de informação na área da saúde relevante e validada cientificamente. O médico Vaz Carneiro expõe a verdade por detrás dos mitos. 

Exercício sem dieta não emagrece 
Fazer exercício físico sem um programa alimentar hipocalórico tem um "efeito negligenciável" em termos de perda de peso, garante o diretor do Programa Harvard Medical School-Portugal. Em estudos com adultos obesos que analisaram o efeito do exercício regular intenso e moderado verificou-se uma perda de peso muito discreta (entre 0,6 e 4,8 quilogramas aos 8 meses). No entanto, a composição do corpo melhorou, com diminuição do perímetro abdominal e das ancas. Ou seja, o exercício físico tem vários efeitos muito benéficos, como melhorar a silhueta, substituindo a gordura por massa muscular, e prevenir doenças cardiovasculares. Mas, para emagrecer, é preciso que seja acompanhado de uma dieta hipocalórica. 

Não usamos apenas 10% das nossas funções cerebrais 
Não se sabe a origem desta ideia nem como se chegou a tal percentagem, mas disseminou-se a ponto de assumir o estatuto de factoide científico, apesar de totalmente falha de sustentação. Se efetivamente só usássemos 10% do nosso encéfalo, o que estariam os outros 90% a fazer? As funções cerebrais são atividades complexas que implicam várias áreas e diversas estruturas. A memória, por exemplo, não reside num determinado ponto. As mais modernas técnicas de imagiologia demonstram que todo o cérebro está permanentemente em atividade, embora certas áreas possam estar mais ativadas em função da atividade que está a ser processada. 

 Comer laranja faz bem a qualquer hora do dia 
 É um daqueles mitos veiculados por um provérbio: "De manhã é oiro, à tarde prata e à noite mata". A crença de que o efeito da laranja pode variar de acordo com a hora em que é ingerida não tem qualquer fundamento científico. O médico António Vaz Carneiro garante que a laranja faz bem a qualquer hora, a não ser que haja algum tipo de intolerância e, nesse caso, prejudica a qualquer hora. 

Tomar banho após refeição não provoca afogamento 
 Quem não se lembra de ter de esperar três horas, sob o sol inclemente da praia, para poder ir tomar banho? Tudo por causa do medo da congestão e afogamento. Afinal, não há uma associação entre estar a fazer a digestão e risco aumentado de afogamento. "Não parece haver qualquer problema entre comer e ir para a água", explica Vaz Carneiro. Os casos de afogamento podem explicar-se por diversos fatores - como não não se saber nadar, a ação de certos medicamentos, hipotermia devido à água muito fria e grandes diferenças entre a temperatura exterior e da água. 

 Beber dois litros de água por dia é inútil 
Esta popular recomendação é acompanhada de justificações do género "temos de fazer funcionar os rins" e "limpar o nosso organismo". A verdade, porém, é que a água é uma daquelas substâncias que são estritamente reguladas pelo organismo: só se aproveita a que se necessita. Portanto, a água ingerida deve ser a suficiente para matar a sede. Mais: não só é inútil como pode ser perigoso, porque obriga os rins a trabalhar em excesso. 

Café previne diabetes, demências e doenças do fígado 
A má reputação de que o café goza, mesmo entre os profissionais, é uma injustiça que Vaz Carneiro está apostado em combater. Sendo uma das bebidas mais consumidas em todo o Mundo, foi objeto de 37 mil estudos, nas últimos 30 anos. As conclusões podem surpreender. Diz o professor da Faculdade de Medicina de Lisboa que os resultados "sugerem um efeito protetor do café na incidência da diabetes mellitus tipo 2, demência (Alzheimer ou não), doenças hepáticas (cirros e carcinoma hepatocelular) e doença de Parkinson". Mais: não existem provas que liguem o café ao cancro ou a um aumento do risco cardiovascular. Isto é válido para a população em geral e significa que os efeitos positivos aumentam proporcionalmente à quantidade ingerida, garante. Quem tiver sensibilidade aos componentes do café e ficar demasiado excitado com esta bebida, deve evitar. 

Grávidas devem vacinar-se contra a gripe
 É exatamente o contrário do que se diz. As grávidas devem vacinar-se porque quando infetadas pelo vírus da influenza (gripe) apresentam maior risco de complicações para a sua saúde e dos fetos. Sendo um grupo de risco, a vacina afigura-se como uma prática recomendável, assegura Vaz Carneiro, exceto em caso de alergia ou condição específica. 

Suplementos vitamínicos anti-oxidantes não evitam cancro 
A ingestão de suplementos antioxidantes não tem efeitos benéficos. "Se fizer uma dieta equilibrada não necessita destes suplementos vitamínicos que, no mínimo, são inúteis e, no máximo, prejudiciais", considera Vaz Carneiro. O reforço vitamínico para prevenção de certas doenças também é um mito que a investigação não apoia. 

A vitamina A não apresenta quaisquer benefícios na prevenção do cancro do cólon, do cancro da mama e no cancro em geral, apresentando mesmo um risco mais elevado de cancro do pulmão. Quanto à C, não existe evidência que previna o cancro ou doença cardiovascular. E a vitamina D é ineficiente a prevenir o cancro, a patologia cardíaca e a demência. Em resumo: é um mito sem sustentação, alimentado pela fácil disponibilização destes produtos, e que pode constituir um perigo para a saúde pública.

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
02/04/12

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