23/06/2012

JULIA GILLARD e LEE MYUNG-BAK


  

O evangelho 
       do crescimento 

Quase quatro anos após o início da crise financeira global, a economia mundial permanece frágil e o desemprego está inaceitavelmente elevado. Há cerca de 200 milhões de pessoas desempregadas em todo o mundo, incluindo cerca de 75 milhões de jovens. O crescimento está a enfraquecer em muitos países, o risco está a crescer e a incerteza intensificou-se, principalmente devido aos acontecimentos na Europa. Apenas uma rápida e sustentada recuperação poderá impedir o aumento dos custos humanos da estagnação económica. 

Quando o G-20 se reunir em Los Cabos, México, a 18 e 19 de Junho, o seu desafio será desviar a percepção pública, do pessimismo e da preocupação sobre o futuro, para uma mentalidade optimista de crescimento e estabilidade. Precisamos de acção resoluta para abordar a incerteza que confronta a economia global e de traçar um caminho no sentido da recuperação auto-sustentada e da criação de emprego. 

Vemos dois elementos como necessários para uma estratégia desse tipo. Em primeiro lugar, precisamos de uma mensagem clara por parte da Europa – a fonte imediata da preocupação económica global – confirmando que está a seguir passos decisivos para estabilizar e fortalecer os seus bancos, e que está concentrada no restabelecimento do crescimento ao mesmo tempo que se compromete credivelmente com a consolidação fiscal. Um elemento crucial para restaurar a confiança na Europa é o acordo relativamente a um “roteiro” para a zona euro que apoie a sua união monetária com uma união fiscal e uma união bancária, que incluam supervisão e garantia de depósitos pan-europeias. 

É essencial que a Europa se mova rapidamente para assegurar que os seus bancos estão adequadamente capitalizados e suportados. A este respeito, saudamos a recente decisão da Espanha de procurar assistência financeira da União Europeia para a recapitalização exigível dos seus bancos. São necessários passos decisivos para salvaguardar a saúde do sector bancário, não apenas para reduzir alguns dos riscos que preocupam os mercados, mas também porque a saúde das instituições financeiras é vital para o crescimento económico. 

A Europa deve ter planos credíveis de consolidação fiscal para restaurar a sustentabilidade da dívida, mas é também essencial que tenha uma estratégia de crescimento que inclua políticas dirigidas ao impulsionamento do investimento, libertando os mercados de produtos e de trabalho, desregulamentando os negócios, promovendo a competição e desenvolvendo competências. Estas reformas, que deverão incluir uma integração institucional mais profunda, serão politicamente difíceis e os seus benefícios levarão tempo a tornar-se completamente aparentes; mas a definição de um caminho claro aumentará a confiança pública no crescimento a longo prazo e na cooperação da Europa. 

Não subestimamos a magnitude das reformas que a Europa conseguiu nos anos recentes. Desde a reunião do G-20 em Cannes em Novembro passado, por exemplo, a Europa aumentou as suas barreiras de protecção financeira em 200 mil milhões de euros (252 mil milhões de dólares), reestruturou a dívida grega, avançou no sentido de fortalecer os seus bancos e regulamentações bancárias, estabeleceu regras para a disciplina fiscal e implementou uma gama de reformas nos mercados de trabalho e de produtos. 

Mas a magnitude dos desafios que confrontam a Europa implica uma necessidade urgente de reformas muito mais decisivas. Estamos confiantes de que a Europa agirá conjuntamente para vencer estes desafios, e continuaremos a apoiar tais esforços, porque a estabilidade e o crescimento Europeus interessam a todos nós. 

Em segundo lugar, precisamos de uma mensagem clara do G-20 de que todos os seus membros estão a aplicar políticas para um crescimento forte, sustentável e equilibrado. Para ter significado, a mensagem deve ser apoiada com acção: os membros do G-20 devem demonstrar que as suas políticas são claramente dirigidas à restauração do crescimento económico e da criação de empregos, e que serão responsabilizados por respeitarem os seus compromissos na totalidade. E os líderes mundiais devem ser inequívocos quanto à resistência ao proteccionismo e à abertura comercial e ao investimento. 

Em particular, acreditamos que um acordo internacional de facilitação de comércio é o passo correcto, porque reduziria os custos das exportações e importações e restauraria o alento à liberalização global do comércio. O G-20 deve demonstrar em Los Cabos que a reforma do Fundo Monetário Internacional continua. Isso significa que os países deverão cumprir o seu compromisso de aumentar os recursos do FMI em mais de 430 mil milhões de dólares, e que as quotizações e estrutura de gestão do Fundo devem reflectir as actuais mudanças globais na influência económica.O crescimento económico e novos empregos são cruciais para melhorar agora as condições de vida das pessoas e para assegurar a prosperidade das gerações futuras. As reformas necessárias para assegurar estes objectivos não são fáceis, e a mudança não acontecerá de um dia para o outro. Mas o mundo espera que o G-20 cumpra. 


Julia Gillard é a Primeira-Ministra da Austrália. 
Lee Myung-bak é o Presidente da República da Coreia. 

 Traduzido do inglês: António Chagas/Project Syndicate 


IN "PÚBLICO" 
20/06/12

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