08/06/2012

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HOJE NO


"JORNAL DE NEGÓCIOS"

Um planeta não chega 

A Terra leva um ano e meio para repor recursos consumidos anualmente 
Pressão demográfica | Até 2050 a população mundial crescerá para os 9 mil milhões de pessoas. 


Os seres humanos consomem, a cada ano, um montante de recursos naturais 50% superior ao que a Terra pode produzir de forma sustentável nesse mesmo período. Os dados são do World Wild Forum (WWF). De acordo com o relatório Living Planet, a Terra leva um ano e meio a repor todos os recursos que a população mundial consome a cada ano. 

Para muitos ambientalistas, a cimeira Rio+20, que será realizada no Brasil em Junho, é uma oportunidade para os países proporem melhorias para proteger a natureza e o nosso futuro. Nas quatro últimas décadas, a humanidade testemunhou um crescimento e uma prosperidade sem precedentes. Entretanto, a economia mundial triplicou e a população cresceu até aos 7 mil milhões. Esta evolução foi acompanhada pelo aumento da poluição ambiental, crescimento do efeito de estufa e degradação dos recursos naturais. 
 O actual modelo de crescimento e a má gestão dos recursos naturais pode, em última instância, minar o desenvolvimento humano. Algo tem de mudar. O relatório Perspectivas Ambientais da OCDE para 2050 coloca a questão: "O que acontecerá nas próximas quatro décadas?" Baseado em modelos conjuntos da OCDE e da Netherlands Environmental Assessment Agency (Agência de Avaliação Ambiental da Holanda), esta perspectiva lança um olhar até ao ano 2050 para descobrir o que a evolução prevista da demografia e da economia pode representar para o ambiente, se o mundo não adoptar políticas verdes mais ambiciosas. Em 2050, espera-se que a população da Terra aumente até aos 9 mil milhões e que a economia mundial cresça quase quatro vezes. 

A procura de energia e recursos naturais será cada vez maior. As projecções apontam para quase 70% da população mundial a viver em zonas urbanas em 2050, ampliando ameaças como a poluição atmosférica, o congestionamento de tráfego e a gestão deficiente de resíduos. As projecções indicam um abrandamento das taxas médias de crescimento do PIB na China e na Índia. Mas em África podem-se verificar taxas de mais elevadas entre 2030 e 2050. Nos países da OCDE prevê-se que, em 2050, a população com mais de 65 anos de idade suba dos 15% actuais para mais de 25%s. 
 Na China e a Índia também se prevê um envelhecimento, enquanto se espera um rápido aumento das populações jovens noutras partes do mundo, principalmente em África. Estas mudanças demográficas, em conjunto com padrões de vida mais elevados, implicam maior consumo e exigência de recursos, o que terá consequências significativas para o ambiente. Uma economia mundial quatro vezes maior superior à actual irá consumir mais 80% de energia em 2050. Sem políticas mais eficazes, a parcela de energias fósseis no paradigma energético manter-se-á em cerca de 85%. As economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e África do Sul (os "BRIICS") serão as principais utilizadoras de energia. 
Para alimentar uma população em crescimento, deverá expandir-se o uso da terra para fins agrícolas na próxima década, embora a um ritmo em abrandamento. No cenário de Referência do estudo da OCDE, as pressões do crescimento demográfico e de elevação dos padrões de vida sobre o ambiente ultrapassarão os progressos na redução da poluição e na eficiência da gestão dos recursos. Por isso prevê-se a degradação e erosão contínuas do capital do ambiente natural até 2050, com o risco de ocorrerem alterações irreversíveis que podem colocar em risco dois séculos de melhoria dos padrões de qualidade de vida. Agir agora é ambiental e economicamente racional. 

Por isso o relatório da OCDE sugere que, se os países actuarem agora, há uma probabilidade - embora em recessão - de as emissões globais de gases com efeito de estufa atingirem o pico em 2020, limitando o aumento da temperatura média mundial a 2 ºC. Aconselha também a fixação de um preço global do carbono, o que poderia baixar em quase 70% as emissões em 2050. Isto iria abrandar o crescimento económico anual em 0,2 pontos percentuais, em média, com custos aproximados de 5,5% do PIB em 2050. 
O preço será pouco relevante se o compararmos com os custos da inactividade, que algumas estimativas indicam poderem ascender a 14% do consumo médio per capita mundial. O melhor mesmo é a humanidade começar agora. Como apela a comissária Europeia do Clima, Connie Hedegaard, "usemos a próxima cimeira Rio+20 como pontapé de saída para a transição global para o modelo de crescimento sustentável no século XXI que o mundo tanto necessita". 


Mudanças no planeta 
- Até 2050 é provável que ocorram alterações climáticas mais perturbadoras, com o aumento da emissão de gases com efeito de estufa (GEE) da ordem dos 50%, principalmente devido ao crescimento de 70% das emissões de CO2 associadas ao consumo energético. 
 - Haverá aumento de 3 a 5 ºC na temperatura média global até ao fim do século, o que ultrapassa o objectivo internacionalmente acordado de o limitar a 2 ºC acima dos níveis pré-industriais. 
- Continuará a perda de biodiversidade, principalmente na Ásia, Europa e África Austral. 
- De acordo com o estudo Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade, a perda de biodiversidade e dos benefícios dos serviços dos ecossistemas, associados à perda global de florestas, por exemplo, tem um valor estimado entre 2 e 5 mil milhões de dólares por ano. 
 - Aumento de 55% das exigências globais de água até 2050, devido à procura crescente por parte actividade fabril (+400%), geração termo-eléctrica (+140%) e consumo doméstico (+130%). 
- Em algumas cidades, particularmente na Ásia, as concentrações de poluição atmosférica já ultrapassam largamente os níveis de segurança definidos pela Organização Mundial de Saúde. 
- Devido às suas populações envelhecidas e urbanizadas, os países da OCDE tendem a ter uma das taxas mais elevadas de mortes prematuras provocadas pelo ozono troposférico, com apenas a Índia à frente. 


* Um planeta não chega, é verdade, mas sobra  um espaço imenso para a corrupção, para a fome e para a exploração humana. 

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