03/06/2012

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ESTA SEMANA NA
"SÁBADO"
Fazem a revolução totalmente nua
Sejamos honestos. Você não acordou hoje preocupado com o estado do movimento dos direitos das mulheres na Ucrânia. Nem tem sentido angústia por ser um país onde as mulheres estão sub-representadas no Governo e nos empregos, onde a violência doméstica está generalizada e a indústria do sexo é florescente. Fotos de mulheres nuas? Foi isso que o levou a ler... E é assim que um grupo de feministas da Ucrânia consegue fazer coisas impensáveis, tornando outra vez espectacular o movimento feminista. 
As manifestantes em topless do Femen são politicamente inteligentes e seguidas internacionalmente, até por não conhecerem fronteiras. Em Roma, protestaram contra Berlusconi em topless, mas com o corpo pintado com as cores da bandeira italiana, e aos gritos de “A Itália não é um bordel!” Em Paris, invadiram o apartamento de Dominique Strauss-Kahn vestidas (bem, meio vestidas) de empregadas de limpeza, depois de ele ter sido acusado de tentativa de violação de uma empregada de hotel em Nova Iorque. No Vaticano, usaram hábitos transparentes enquanto exigiam “liberdade para as mulheres” e denunciavam a misoginia do Papa. Em Milão, invadiram desfiles de moda para protestar contra a exploração sexual das modelos. 
No Fórum Económico Mundial, em Davos, com cartazes onde se lia “Crise: feita em Davos”, despiram-se na neve para protestar contra a sub-representação das mulheres na política (isto foi um ano depois de o primeiro-ministro ucraniano Viktor Ianukovich ter dito que os delegados deviam visitar a Ucrânia na Primavera, quando as raparigas começam a tirar a roupa). O novo alvo principal do Femen é o Euro 2012, o campeonato de futebol que começa em Junho e é organizado a meias pela Ucrânia e pela Polónia. O grupo defende que o governo ucraniano pretende na prática legalizar a prostituição para tornar o país atractivo para turistas sexuais. 
Em Outubro passado, perante 60 mil fãs que tinham acabado de ver a actuação da cantora Shakira, as manifestantes invadiram o fosso do estádio olímpico de Kiev, exigindo um “Euro 2012 sem prostituição”. 
 A sede do Femen é o Café Kupidon, em Kiev (Cupido é o deus romano do desejo, filho de Vénus, deusa do amor, e de Marte, deus da guerra). É um bar fumarento, num buraco pouco iluminado. Canos industriais atravessam o tecto cinzento; cadeiras de madeira que não combinam riscam o chão de cimento. Cheira a fritos e banha, como na maioria dos cafés ucranianos baratos. No meio do fumo de cigarro, com uma brisa a perfume, e rodeado por portáteis e telemóveis, encontrei Anna Hutsol, de 27 anos, Oleksandra Shevchenko (conhecida como Sasha), de 23, e Inna Shevchenko, de 21, as principais activistas do Femen. Fundaram o grupo em 2008 com Oksana Shachko, que tem 25 anos e está nesta altura na prisão em Moscovo. Foram-me descritas como “boazonas” e, bem, é o que são. 
Na Ucrânia há muitas louras magras, de feições eslavas, com o cabelo pelo rabo e a usar sapatos de salto alto na neve, mas poucas são tão glamourosas como as do Femen. Sasha, uma loura frágil, estudante de Economia, usa um vestido preto curto de cabedal com um corte da moda. Inna (que era assessora de imprensa do presidente da Câmara de Kiev antes de ter sido despedida por causa dos seus protestos) está enfiada num vestido justo preto e tem botas de cano alto, com fitas a apertar atrás. Estão perfeitamente produzidas, da sombra dos olhos de Sasha aos pequenos brincos de cristal debaixo do cabelo louro comprido de Inna. Fundaram o Femen, dizem, porque as jovens precisavam de um novo tipo de feminismo. “O feminismo clássico já não funciona”, insiste Inna. Oksana acrescenta: “No início estávamos a fazer um grande esforço para nos mantermos afastadas da palavra ‘feminismo’. 
Somos populares, atraentes, bonitas, estamos a tentar chamar a atenção para os problemas, para encontrar soluções. Oferecemos um novo feminismo.” Começaram por fazer campanha pelos direitos das mulheres ucranianas (sobretudo contra o turismo sexual e a prostituição), mas agora o seu âmbito é mais alargado – incluindo a defesa do socialismo, na crença de que a igualdade para as mulheres depende da igualdade para todos. 

Na verdade, não andaram sempre em topless, fizeram alguns protestos vestidas, mas ninguém prestou atenção. Então, um dia de Agosto de 2009, durante uma manifestação em Kiev, Oksana arrancou a camisola espontaneamente. A imprensa ficou doida – e as raparigas repararam nisso. “Podemos ver muita exploração do corpo feminino. Nas panfletos das pizzas, nos cartazes, há sempre uma mulher. Por isso decidimos usar o corpo para promover as nossas ideias. O meu corpo é uma arma poderosa, e eu vou usá-lo”, diz Sasha. 


* FEMEN quanto baste... 

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