18/06/2012

CARLOS FIOLHAIS




E no final 
      ganha a Alemanha


O antigo jogador inglês Gary Lineker explicou uma vez: «O futebol é um jogo para 22 homens, 11 de cada lado. Os jogadores chutam a bola de um lado para o outro. A bola tem de entrar numa baliza, defendida por um guarda-redes. O jogo demora 90 minutos e no final ganha sempre a Alemanha». Mais uma vez se cumpriu esta ‘regra do jogo’ no recente Portugal-Alemanha no Campeonato da Europa. 

De nada valeu o violento pontapé de Pepe à barra que ressaltou para o chão sem a bola ultrapassar a linha de baliza. A jogada, embora mais clara (ninguém reclamou desta vez o golo), fez-me lembrar o famoso ‘golo de Wembley’, na final de 1966 do Campeonato do Mundo entre a Inglaterra e a Alemanha. Aos 11 minutos do prolongamento, o inglês Geoff Hurst chutou forte contra a barra e a bola ressaltou para a linha de golo. O árbitro ficou na dúvida. Olhou para o juiz de linha soviético e este validou o golo, que daria a vitória à Inglaterra em nítida violação da regra de Lineker. 

A jogada é uma das mais discutidas de sempre. Foi analisada por físicos e engenheiros, incluindo uma equipa da Universidade de Oxford que publicou um artigo sobre o assunto. Apesar desse artigo ser inglês, a conclusão foi favorável à Alemanha (o fair play é inglês!). A bola não entrou na baliza completamente, como exigem as regras do futebol: o diâmetro da bola tem de ultrapassar totalmente a linha de baliza e, no caso, faltaram 6 cm. Este caso é discutido num livro da autoria de um físico alemão, Metin Tolan, Professor na Universidade de Dortmund, que tem o título Por vezes ganha o melhor (Piper, 2011), uma frase que bem pode rivalizar com a de Lineker, e o subtítulo A física do jogo de futebol. 

Este livro não está ainda traduzido em português, mas, num país que, em profunda crise, procura a salvação no futebol, bem poderia estar. Aprende-se lá não só a ciência do futebol, incluindo toda a complicada mecânica que descreve a trajectória de uma bola com efeito, mas também a filosofia do jogo. 

A frase que achei mais interessante não foi a de Lineker, mas sim a de Max Merkel, um jogador e treinador austríaco: «No futebol é como no amor. O que acontece antes pode ser muito bonito, mas não passa de um namorico. A bola tem de entrar lá dentro».


 IN "SOL" 
17/06/12 .

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