06/05/2012

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BRAGANÇA
DISTRITO DE BRAGANÇA




Bragança  é uma cidade portuguesa, capital do Distrito de Bragança, Região Norte e sub-região do Alto Trás-os-Montes, com 20 309 m² na cidade e 25 mil habitantes, no perímetro urbano. 

É sede de um dos municípios portugueses com maior área, com 1 173,6 km² de área, e 35 341 habitantes (2011), subdividido em 49 freguesias. O município é limitado a norte e leste por Espanha (províncias de Ourense e Zamora), a sueste pelo município de Vimioso, a sudoeste por Macedo de Cavaleiros e a oeste por Vinhais sendo das cidades de Portugal Continental aquela mais setentrional (que fica mais a Norte). 

Os celtas baptizaram a cidade, fundada no século II a.C., com o nome de Brigantia, que se foi latinizando até passar a ser Bragança. Este nome é a origem do gentílico mais comum: brigantino. 


GEOGRAFIA 
Bragança pertence à região denominada de Terra Fria Transmontana. Para fins estatísticos integra-se na NUT III do Alto Trás-os-Montes, da qual fazem parte mais treze Concelhos. 
As suas ligações com a região onde se insere estão patentes nas diferentes entidades e associações regionais existentes, nomeadamente a Associação de Municípios de Trás-os-Montes e Alto Douro, que integra a Associação de Municípios da Terra Fria (constituída pelos Concelhos de Bragança, Vinhais, Vimioso e Miranda do Douro), a ACIB (Associação Comercial e Industrial de Bragança) que é uma associação distrital, o NERBA (Núcleo Empresarial do Distrito de Bragança), a Região de Turismo do Nordeste Transmontano (da qual fazem parte os Concelhos de Alfândega da Fé, Bragança, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Torre de Moncorvo, Vila Flor, Vimioso e Vinhais) e o Parque Natural de Montesinho, que engloba parte do Concelho de Bragança e Vinhais. 

Bragança também pertence à Associação do Pacto do Eixo Atlântico, juntamente com mais 17 Concelhos do Noroeste Peninsular, a qual objectiva uma aproximação de relações apostando na implementação de estratégias sócio-económicas e sócio-culturais comuns entre o Norte português e a Galiza. 

Constituiu-se em 1999 a nível político, uma importante ligação de cooperação com a vizinha Espanha, através da qual Bragança se assume como uma Cidade-chave de um espaço europeu particular inserido noutros de maior dimensão, o Arco Atlântico e a União Europeia. A localização no extremo mais nordeste do país faz com que Bragança tenha tido ao longo dos anos uma dupla posição geográfica periférica, a nível nacional e a nível regional. 

Esta perificidade foi atenuada pelo facto de ser capital de distrito e sede de Concelho, o que conduziu a uma polarização sobre a sua envolvente externa como centro político, administrativo e populacional, encontrando-se em Bragança a sede de algumas entidades e associações de cariz regional e delegações e direcções regionais da Administração Central. No entanto, só com uma boa acessibilidade e com a melhoria das condições urbanas e ambientais, que promovam a sua competitividade, é que a localização de Bragança pode deixar de ser um factor de constrangimento, para se tornar um factor de potencial desenvolvimento. 

HISTÓRIA 
Pensar o espaço urbano é também pensar o património histórico e os valores culturais e patrimoniais já que estes assumem uma importância vital no estabelecimento de uma identidade territorial: “Se a cidade é o reflexo da sociedade, não é menos verdadeiro que, por sua vez, a cidade afeiçoa a sociedade.” Os aglomerados urbanos guardam sinais do seu passado remoto, quer na sua localização, quer nas suas estruturas e aspecto, quer, ainda, nas suas tradições. 
BRAGANÇA INÍCIO SEC XX

Em Bragança actuaram, desde os primórdios da história dois vectores de suma importância: a influência mediterrânea e o contributo europeu. Os achados arqueológicos efectuados permitem concluir que a ocupação humana no distrito de Bragança remonta ao Paleolítico final. Contudo, no Neolítico, com o surgimento de comunidades produtoras de alimentos, com a domesticação de algumas espécies animais e o aparecimento formas de culto já bem documentadas, ter-se-á assistido a um acréscimo de povoados e comunidades. Da ocupação humana nestes períodos existem diversos vestígios, sendo que alguns constituem parte da colecção existente no Museu do Abade de Baçal, designadamente cerâmica variada, machados de pedra polida, pesos de tear, pontas de seta e, já posteriores, machados de talão, alabardas, braceletes, fíbulas e, ainda, vários artefactos em pedra polida.
Marco de delimitação do termo da Casa de Bragança
Parte deste espólio foi encontrado em contextos religioso-funerários, como é o caso da mamoa de Donai, actuamente destruída. Contudo ainda é possível encontrar diversos exemplos de monumentos megalíticos. Julga-se que as comunidades proto-históricas terão surgido em maior número na Terra Fria transmontana, provavelmente do final da Idade do Bronze (1000-700 a.C.). 
Estes povoados – castros -, eram, em geral, estruturas urbanas fortificadas, por vezes com diversas linhas de muralha, e situavam-se em locais elevados e com bom alcance da paisagem envolvente, o que facilitava a sua defesa. As comunidades praticavam uma economia de subsistência. 
  Carreirão dos Judeus já praticamente irreconhecível devido a densa vegetação

A colonização romana, que se foi impondo de forma muito lenta, veio actuar sobre as civilizações existentes, contribuindo para minorar as diferenças étnicas e culturais resultantes dos primitivos povoamentos e para homogeneizar as culturas indígenas. As mudanças operadas foram profundas, inclusivamente nas zonas de montanha, por isso menos acessíveis, tendo afectado as paisagens e os modos de viver. A presença romana contribuiu, em parte, para a passagem do regime de exploração colectiva dos solos para o da propriedade privada e, muito provavelmente, para um recuo da floresta. Os romanos são também responsáveis por significativas alterações de índole administrativa, material e cultural. São inúmeros os vestígios arqueológicos (e alguns únicos) que atestam a presença, a disseminação e a influência deste povo na região. 

Os vestígios dos castros luso-romanos formam uma malha evidente no actual concelho de Bragança. Refiram-se, a título de exemplo, os castros de Sacoias e o de Castro de Avelãs. Aí têm aparecido lápides funerárias, moedas e material votivo. Castro de Avelãs (a 3 quilómetros de Bragança) teria mesmo constituído um importante centro de passagem na estrada militar de Astorga, como o atestam os marcos miliários que aí se encontraram. É ainda de realçar a existência de divindades locais de que é exemplo o deus Aerno. A secção epigráfica do Museu do Abade de Baçal, particularmente rica, reúne uma excelente colecção de lápides funerárias. Os vestígios da presença romana têm surgido um pouco por todo o concelho (Alfaião, Aveleda, Carrazedo, Castro de Avelãs, Donai, França, Gostei, Meixedo, Pinela, Quintela Lampaças, etc.). Com efeito, no local onde hoje se ergue a cidade de Bragança têm aparecido alguns vestígios romanos, como por exemplo telhas e algumas moedas, uma das quais em bronze, encontradas em diversas escavações, como nas obras da Igreja de S. Francisco. 
PEDRA ESCRITA DE REDIVES
Têm sido efectuadas outras escavações mais recentemente na cidade de Bragança que permitiram confirmar a presença romana nesta área. O distrito de Bragança parece ter sido dominado por duas comunidades étnicas - os Zoelae, pertencentes ao povo astur, com a capital em Castro de Avelãs, e uma civitas lusitana pertencente ao povo Baniense, já na zona Sul do distrito. A cartografia latina - Atlas de Gotha, de Justus Perthes – menciona apenas três povoações: Aquae Flaviae (Chaves), Veniatia (Vinhais) e Zoelae (sede dos Zoelas, actual Castro de Avelãs) não havendo qualquer referência a um povoado com toponímia próxima de Bragança. Neste período do domínio romano a região bragançana integrava a Gallaecia e dependia, do ponto de vista administrativo, de Astorga. As primeiras referências a um povoado (pagus), antepassado toponímico de Bragança, surgem nas actas do Concílio de Lugo (569 d. C.) sob a designação de Vergancia. Posteriormente, já na divisão administrativa de Wamba (666 d. C.) surge já uma referência a Bregancia. Salvaguarde-se, contudo, que esta referência pode não corresponder toalmente à verdade um vez que a cópia das actas a que se teve acesso é de elaboração posterior, podendo ter sido alvo de interpretação. O domínio de suevos e visigodos, acerca dos quais tão pouco se sabe, veio contribuir para que se acentuasse a ruralização da economia. Com efeito, supõe-se que alguns traços da vida pastoril e comunitária desta região se ficam a dever à ocupação destes invasores.
ABADE DO BAÇAL

 O centeio, cereal realmente importante que o mediterrâneo recebe da Europa média e que através dos séculos tem desempenhado um papel tão importante na economia das terras altas, foi, muito provavelmente, introduzido pelos suevos. Orlando Ribeiro, refere que as afinidades desta zona da Terra Fria com a “Europa Média, marcadas no clima e na floresta de folhas caducas, e na decorrente economia rural e pastoril, recebeu um contributo nórdico que embora mal conhecido não é lícito menosprezar”. 
PELOURINHO DE REBORDAINHOS
É ainda sob o domínio dos visigodos que se estruturam os grupos sociais que vão caracterizar, de forma geral, a sociedade medieval. Uma sociedade, essencialmente, trifuncional. Refiram-se ainda alguns topónimos locais, cujas terminações parecem ser herança destes povos: Gimonde, Guadramil e Samil. Finalmente, o último povo invasor: os mouros, a quem a tradição popular tende a atribuir uma grande soma de vestígios. Como foram os últimos “intrusos” e como foi marcante o ambiente de prolongadas lutas e conflitos entre a civilização cristã e a muçulmana, a memória dos povos islâmicos permaneceu no imaginário popular. São diversas as lendas e tradições que lhes atribuem muito do que deixaram os povos anteriores, sobretudo os romanos. Ainda que a toponímia pareça acusar a sua influência (Alfaião, Babe, Baçal, Bagueixe, Mogadouro, etc.) não foram encontrados vestígios materiais dos mouros que permitam comprovar a sua presença. 

Note-se que a influência da civilização islâmica parece ter sido pouco marcante nas regiões a norte do Douro e ainda menos relevante nestas áreas montanhosas do interior. Mesmo sem aceitar a tese do ermamento, é bem provável que o actual Trás-os-Montes, bem como toda a região do Nordeste, tenha experimentado, no início do domínio muçulmano, uma acentuada rarefacção do povoamento. Devido ao movimento da Reconquista a região de Bragança, integrada que estava no reino das Astúrias (ou de Leão, como passa a ser conhecido a partir do século X), acaba por sofrer a influência leonesa, traduzida em alterações ao nível da economia, da organização eclesiástica, da arquitectura, da cultura e, até, da própria língua, cujas influências perduraram até à actualidade. Senão, repare-se nos falares mirandês e guadramilês. 

Foi ao longo do lento processo da Reconquista que se presenciou um gradual germinar da nação e do estado português. Portugal e os portugueses nascem, indiscutivelmente, da simbiose entre o Norte cristão e o Sul muçulmano. É precisamente o movimento da Reconquista que permite a compreensão de muitas das especificidades das sociedades ibéricas no contexto da Europa medieval. 

Voltando à questão da origem de Bragança e do seu topónimo, sabe-se que nos séculos XI e XII, segundo os Livros de Linhagens, existiu a família dos Bragançãos, provavelmente fixada em Castro de Avelãs (na altura sede de um mosteiro beneditino que dominava uma área geográfica apreciável do actual distrito de Bragança, tendo sido um dos seus abades, D. Mendo, que deu origem a esta genealogia). 
D. SANCHA
Diz-se que Fernão Mendes, um dos Bragançãos mais ilustres, teria raptado e casado em segundas núpcias com D. Sancha, filha de D. Henrique e D. Teresa, tendo desempenhado um papel importante na defesa desta região. Bragança teria passado a constituir propriedade da coroa por falta de descendência nesta união. Segundo E. Carvalho “a família dos Bragançãos contribuiu para a fundação de um povoado que viria a ser denominado de Bragança, do nome da região e da alcunha familiar”. 

Este povoado teria ganho importância com as disputas para formação do novo reino, uma vez que Bragança funcionaria como primeira linha de defesa. O valor estratégico terá conduzido a que D. Sancho efectuasse uma troca com o Mosteiro de Castro de Avelãs, recebendo a Quinta de Benquerença para acrescentar, segundo o Abade, à área do povoado existente. 
JANELA NO CASTELO

 O Elucidário de Viterbo, por exemplo, assume que Bragança teria sido fundada e povoada pelo segundo Rei de Portugal, depois de a obter ao Mosteiro do Castro de Avelãs. Albino Lopo corrobora esta tese: «”(...) el-rei D. Sancho I mandou para a Quinta de Bemquerença uma colónia, a que deu privilégios especiaes, com o fim de a desenvolver e tornar importante (...)”, apontando as condições topográficas e militares como o motivo principal para a sua fundação ou engrandecimento da quinta, à qual teria sido depois mudado o nome para Bragança. As interpretações anteriores foram profusamente refutadas pelo Abade de Baçal que conclui que “(...) Bragança já então existia como povoado importante, pois gosava do privilégio de cobrar direitos de portático sobre as mercadorias que ahi vinham vender-se (...) não acreditamos na fundação de Bragança em 1187; mas sim que a sua população é muito anterior, e só o documento de escambo ou troca feito entre os monges de Castro de Avellãs e o rei nos falia em tal quinta, sendo que por esse mesmo documento se evidencia a coexistência da civitate Bragancia e da quinta de Bemquerença, somos levados a crêr que esta era realmente uma quinta, na verdadeira accepção da palavra, ou propriedade contigua a Bragança, pertencente aos frades, e como o seu território fazia falta para dar mais ambito à cidade, elrei tratou de o obter» (1975-1989: I, 234). 
D. SANCHO I

Posteriormente, António José Teixeira remete a fundação para Fernão Mendes: “Nessa luta porfiada e gigantesca, nessa luta de séculos entre Mouros e Cristãos, foi esta terra várias vezes talada e saqueada e é no ano de 1030 que D. Fernando Mendes, cunhado de D. Afonso Henriques, grande senhor de Trás-os-Montes, achando-a a rasada e despovoada, principiou a sua nova fundação pela quinta chamada de Bem-querença, isto é, pelo lugar por onde hoje se estende a cidadela (…)”. Desta forma, só após as invasões bárbaras surgem referências a estes topónimos. Eduardo Carvalho refere que o actual topónimo – Bragança - derive do étimo Berge (do germânico monte) que, assim, significaria Terra dos Montes, negando as opiniões que associam o topónimo a Brigo (rei lendário de Espanha) ou a Briga (significando cidade). Este topónimo, teria desaparecido ou caído em desuso com a invasão árabe para aparecer associado, posteriormente, a uma região, como o prova, um documento de Ramiro III (967-982) que diz pertencerem ao bispado de Astorga “as igrejas que existem em Bragança pelo rio Tuela e segue até que entra no Doiro em frente de Zamora na parte do oriente”. As origens de Bragança, enquanto região, talvez se possam atribuir ao século X ou XI. As origens da povoação são mais duvidosas - como, aliás, acontece no caso de outras cidades. Tudo parece indicar que no local onde se ergue a cidade teria existido um castro, eventualmente romanizado, que poderia ser a origem do povoado. 
CARTA DE FORAL

Só a realização de prospecções arqueológicas poderá fornecer pormenores que permitam datar com maior certeza a origem de Bragança. A importância estratégica de Bragança, sobretudo ao nível militar e do controlo das vias de trânsito, resultante, em grande parte da sua localização, permitem contextualizar e perceber as medidas administrativas instituídas pelos monarcas, especialmente durante as duas primeiras dinastias, e que visavam garantir um mínimo de operacionalidade da praça. D. Sancho outorga carta de foro em Junho de 1187, que seria sucessivamente renovada por D. Afonso III, em Maio de 1253 e, mais tarde, por D. Manuel em 11 de Novembro de 1514. 
O primeiro foral atribuído não seguiu nenhum dos modelos já aplicados o que demonstra a importância específica atribuída à vila, a primeira em Trás-os-Montes a ter carta de foral. image1 Os privilégios concedidos a Bragança pelos diversos monarcas são de vária ordem.
MOEDAS DE D. AFONSO III

 D. Afonso III cria a feira anual em 1272 e D. Fernando dá carta de feira franca em 1383, situação que seria sucessivamente renovada - e reformulada, por vezes - por D. João I em 1392 e 1413, pelo regente D. Pedro em 1439 e por D. Afonso V em 1455. A referência explícita e frequente à necessidade de atrair e fixar novos povoadores na vila denuncia a pouca eficácia deste instrumento jurídico e, sobretudo, a importância particular que lhe era atribuída pela coroa. Assim sendo, não é de estranhar um crescimento da urbe, ainda que lento, a partir de meados do século XIII, apesar de ser referenciado um despovoamento cíclico, usualmente relacionado com as crises epidémicas e as exigências arbitrárias dos alcaides e governadores, obrigando a coroa a transformá-la em couto de homiziados desde cedo. Bragança é entendida por Amorim Girão como mais uma das “cidades-fortaleza, sentinelas de fronteira, com boa posição estratégica, cujo desenvolvimento ainda relacionado com a nossa organização territorial metropolitana ou com momentos críticos da nossa independência”, pertencentes ao período que este autor designa de português. 
D. AFONSO III

“A fronteira, assolada por guerras frequentes, era um lugar de insegurança onde permaneceram grandes tractos desertos”, por isso, os soberanos criaram, como se referiu, coutos de homiziados (onde se refugiavam criminosos, gozando de impunidade) “para promoverem a fixação de gente em torno dos seus castelos, ou em locais onde pretendiam edificá-los.” Esta disposição criou ao longo da fronteira uma série de lugares fortes, povoados por homens inabaláveis na defesa da sua liberdade. O foral de Bragança (1187) criou um couto de homiziados. Ainda assim, Bragança vai, a pouco e pouco, consolidando a sua posição dominante na região, do ponto de vista administrativo, militar e religioso.

 Em meados do século XIII Bragança conta já com quatro freguesias: Santa Maria (na “vila”), São Tiago (também no intramuros e hoje já desaparecida, provavelmente situada na zona do actual pelourinho), São João (no extramuros, situada em frente do actual Governo Civil, no local da implantação do edifício hoje pertença da Câmara) e São Vicente. Nesta altura, Bragança seria muito semelhante, no que se refere ao seu desenvolvimento, a outras cidades do interior: “as cidades do interior, viradas para o comércio interno, para o comércio com Castela, para a produção agro-pecuária e para a administração eclesiástica e militar, achavam-se ainda bem situadas na hierarquia urbana” (Oliveira Marques in Monteiro, 1988).
LEONOR TELES

 As Terras de Bragança foram pertença da coroa até ao reinado de D. Fernando, altura em que este as deu a João Monso Pimentel como dote de casamento de Joana Teles de Menezes, irmã bastarda da rainha D. Leonor Teles. 

Até 1401 Bragança mantém-se em poder de Castela. Pouco depois, já como ducado e elevada a título nobiliárquico (Casa de Bragança), é doada pelo regente D. Pedro a D. Afonso, sétimo conde de Barcelos e filho ilegítimo de D. João I. Com D. Fernando, segundo duque de Bragança, em 20 de Fevereiro de 1464, e a pedido deste, é concedido o título de cidade à vila de Bragança, pretendendo, assim, “estes poderosos senhores rivalizar, em títulos e privilégios, com os filhos legítimos de D. João I» (Monteiro, 1988). Volta provisoriamente à coroa no contexto das conspirações contra D. João II e, pouco depois, por carta de D. Manuel em 1496, regressa à posse dos antigos senhorios até ao seu último titular, futuro D. João IV, sendo definitivamente anexada à coroa no tempo de D. Afonso VI. Nos séculos XIV e XV o crescimento demográfico é já mais visível, sobretudo no extramuros. 
CÂMARA MUNICIPAL

Nos séculos XVI, XVII e XVIII assiste-se a um maior dinamismo e crescimento urbano - obviamente resultado da conjuntura económica, política e militar – patente na construção e/ou remodelação de todas as igrejas, conventos e casas brasonadas. Muito terá contribuído a dinâmica económica relacionada com a transformação da seda - cujos produtos finais eram exportados e vendidos em todo o reino com grande fama -, além das indústrias que os documentos e a toponímia da cidade indicam ter existido (ruas dos Prateiros, dos Sineiros, dos Oleiros, da Alfândega, Ponte das Tenarias, das Ferrarias, etc.), mais vocacionadas para o mercado regional. De facto, a área urbana da cidade nos inícios do século XX era quase coincidente com a que existia nos finais de seiscentos, exceptuando uma ou outra artéria periférica, então em inícios de urbanização. No numeramento de 1530, Bragança, contava com cerca de 2000 habitantes, sendo o maior aglomerado de Trás-os-Montes. 
CATEDRAL

No final do domínio filipino, mercê da pouca importância estratégica que lhe era concedida detinha 2400 habitantes e, em meados do século XVIII, a população cifrava-se à volta de 3500 pessoas e era já assumida como capital da província. A este dinamismo e crescimento não terá sido estranha a actividade despoletada pelos judeus aqui sedeados, em grande número após a sua expulsão de Castela pelos Reis Católicos nos finais do século XV, estimulando o comércio e a indústria, sobretudo a sericícola. Mas já o século XVIII seria um século de contrastes, marcado por várias crises e tentativas de arranque no sobretudo campo industrial. No domínio agrícola as transformações encetadas iriam também contribuir para a grande crise de inícios de oitocentos, altura em que os grandes industriais abandonam a cidade. Se setecentos é um século de crescimento económico, sobretudo com Marquês de Pombal - onde só a indústria bragançana da seda ocupava directamente cerca de mil operários -, é, também, na fase final deste século e inícios do seguinte que ocorre o processo de ensimesmamento, encarregando-se o século XIX de o institucionalizar e reproduzir até à actualidade. Os séculos XIX e XX - salvo breves períodos de tempo em que as crises na produção de matérias-primas em países industrializados como a Inglaterra, a França e a Itália, permitiram um renascer momentâneo das produções desta região, sobretudo no domínio sericícola - são marcados pela ruralidade, estagnação e crescente interioridade. 
EMIGRANTES

No século XIX, ainda, são bem visíveis três fases na economia bragançana, essencialmente comerciais agora, sem o suporte industrial da última década de Setecentos e já totalmente dependentes da procura conjuntural do mercado europeu. A resolução da crise da produção da seda nos mercados dos países industrializados - com o consequente impacte negativo na débil economia, agravada de imediato pela devastadora crise da filoxera e, pouco depois, da castanha (tudo na década de 80) -, abre caminho ao início do movimento de emigração, iniciado mais tarde face a outras regiões do País mais próximas do litoral. Grande parte desta torrente migratória, já na transição do século, vai beneficiar da instalação do caminho-de-ferro que, no dizer de Orlando Ribeiro, outra finalidade não teve senão estimular e acelerar a migração dos nordestinos para os grandes centros do País e para o exterior. Efectivamente, até finais do século XIX, Bragança nunca suplantou o limiar dos 6000 habitantes enquanto que, por exemplo, Chaves o ultrapassou. De facto, a economia da região ruraliza-se e torna-se dependente dos mercados exteriores, abastecendo-os de mão-de-obra barata. Até meados do século XX, o Nordeste Transmontano permanecerá sob um regime demográfico com características predominantes de Antigo Regime. Os processos de estagnação ou até de retrocesso instalam-se.

 PATRIMÓNIO

 CONSIDERAÇÕES GERAIS
A história do progresso humano é a história das relações do homem com o meio onde vive, o domínio dos materiais e a sua utilização, de modo a melhorar as suas condições de vida. É a herança dos seus antepassados, a estrutura da sua identidade, os valores materiais e espirituais que unem um povo e um país. 
D. FERNANDO

 O Homem criou, ao longo dos tempos, obras que constituem um património que importa estudar, proteger e divulgar. Nas últimas décadas assistiu-se à destruição massiva deste património, por ignorância, abandono ou desprezo, em detrimento das novas formas de cultura importadas e estandardizadas que não conseguiam dialogar em harmonia com as formas tradicionais próprias do meio envolvente. Felizmente, há uma consciência crescente da importância que assume a defesa do património cultural e construído assistindo-se, não só a intervenções pontuais, mas também à salvaguarda de conjuntos e locais com valor próprio ou de enquadramento. Quanto à legislação existente sobre esta matéria, o conceito e o âmbito de Património Cultural vêm definidos na Lei n.º 107/2001 de 8 de Setembro, que actualizando a Lei n.º 13/85, estabelece as bases da política e do regime para a sua protecção e valorização desta realidade da maior importância para a compreensão, salvaguarda e estruturação da identidade nacional e para a democratização da cultura. 
MONTEZINHO

No âmbito da legislação aplicável, consideram-se imóveis com valor cultural os que, do ponto vista histórico, arqueológico, artístico, científico, social ou técnico, são particularmente notáveis pela sua antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade, e por isso devem ser objecto de especial protecção e valorização. Assim sendo, a protecção legal destes bens tem por base a sua classificação e inventariação, podendo ser classificados de acordo com a seguinte hierarquia: de interesse nacional, sejam monumentos, conjuntos ou sítios, adoptando-se a designação “Monumento Nacional”, quando representam um valor cultural de significado para a Nação. Podem ainda incluir bens culturais imóveis incluídos na lista do património mundial; de interesse público quando representam ainda um valor cultural de importância nacional, mas para os quais o regime de protecção inerente à classificação como de interesse nacional se mostra desproporcionado; de interesse municipal quando representam um valor cultural de significado predominante para um determinado município. A protecção legal dos bens com valor cultural classificados é fixada por Decreto, quando se trate de monumento nacional, por Portaria quando se trate de um bem com interesse público, e por competência da Câmara Municipal quando são de interesse municipal. 
BANCO DE PORTUGAL

 Estes bens imóveis classificados ou em vias de classificação, beneficiam na sua envolvente de um zona de protecção de 50 m contados a partir dos limites externos do imóvel, fixada automaticamente com o início do procedimento de classificação, bem como de uma zona especial de protecção (ZEP), fixada por Portaria, onde é indicada a área sujeita a servidão e os encargos por ela impostos. Esta ZEP pode incluir zonas non aedificandi. No concelho de Bragança existem vinte e nove imóveis classificados, seis como monumentos nacionais, vinte e um como imóveis de interesse público e dois como imóveis de interesse municipal. Existem, também, diversos edifícios e vestígios arqueológicos que urge proteger. Todo este conjunto de valores culturais foi identificado na peça desenhada referente ao património.


Listagem dos sítios arqueológicos inventariados (alguns)

Nº                  Designação do sítio                                Tipo de sítio                                  Freguesia
I                    Alto do Outeiro                                       Necrópole                                    Alfaião
II                   Cabecinho dos Mouros/Cabeço de Alfaião Povoado Fortificado                  Alfaião
IV                  Fraga da Ferradura                                Arte Rupestre                                Alfaião
IX                 Cabeço dos Mouros                          Povoado Fortificado                           Aveleda
X                   Fonte do Chorro                                 Arte Rupestre                                   Aveleda
XI                  Fragas do Cabril 1                          Povoado Fortificado                             Aveleda
XVI               Castro da Sapeira                            Povoado Fortificado                             Babe
XVIII             Fonte de Megilde (**)                              Inscrição                                     Babe
XX                 São Pedro/Sagrado                                  Igreja                                         Babe
XXVII            Bragança - Largo General Sepúlveda      Estrutura                           Bragança (Santa Maria)
XXVIII           Bragança - Rua dos Batocos                   Muralha                           Bragança (Santa Maria)
XXX               Bragança -                            Túnel do Castelo Estrutura                 Bragança (Santa Maria)
XXXVIII         Mata de São Sebastião                        Sepultura                            Bragança (Santa Maria)
L                     Castelo das Olgas/Urreta Formosa Povoado Fortificado                         Calvelhe
LI                    Castelo dos Mouros/Urreta do Castelo Povoado Fortificado                  Calvelhe



IMÓVEIS CLASSIFICADOS 

 DOMUS MUNICIPALIS
Ex-libris da cidade de Bragança, é um dos mais insólitos monumentos tardo-românicos portugueses do século XIV. A função aparentemente civil para a qual foi concebido, a sua peculiar organização em pentágono irregular, a sucessão de arcarias de volta perfeita que ritmam os alçados, o espaço interior organizado num amplo salão profusamente iluminado, e a associação a uma cisterna, são características que conferem a este edifício um carácter único no nosso país, sem paralelos imediatos na restante arquitectura medieval nacional. Tendo integrado os paços do concelho de Bragança desde o início do século XVI até meados do século XIX, altura em que a ruína iminente determinou o seu abandono, aparenta um aspecto fortificado, que aponta para a sua dupla função - cisterna e sala de reuniões da câmara. A cisterna é de alguma dimensão e tem abóbada de berço assente em três arcos, e a sala de reuniões, tem no interior um amplo salão, profusamente iluminado por janelas, e um banco corrido a toda a volta do recinto. As janelas de arco de volta perfeita sobrepujado por uma cornija com modilhões, surgem numa sucessão de arcarias que ocupam horizontalmente a totalidade dos alçados. No início do século XX, a importância deste edifício foi destacada, tendo-se procedido ao seu restauro nos anos 20. 

CASTELO DE BRAGANÇA 
Construído no século XV, sobre uma edificação da época de D. Dinis, apresenta traços arquitectónicos góticos, sendo composto pela torre de menagem e por um conjunto de muralhas, que envolve o núcleo antigo e forma quatro recintos individualizados. Implantado num local elevado, e de planta oval irregular, o seu interior revela, ainda, parte de uma organização viária sanchina, com dois eixos principais a confluir para a Porta da Vila. No reinado de D. Dinis, teve lugar a primeira reforma do castelo e no século XV foi construída uma segunda linha de muralhas, com o objectivo de proteger o bairro dos arrabaldes, um conjunto eminentemente comercial e em franco desenvolvimento durante os séculos XIV e XV. A cinta de muralhas do castelo, que define o espaço intra-muralhas, é interrompida por várias portas, destacando-se a Oeste, a de Santo António, e a Este, a da Vila, revelando a racionalidade e o carácter radiocêntrico do projecto, onde os eixos viários confluem para o centro e estabelecem a ligação entre estas duas portas. A Sul, a fortaleza integra um amplo espaço, que proporcionou a defesa ao Rio, a Norte tem adossada a Torre de Menagem, uma edificação de planta quadrangular, com três pisos, com aberturas e janelas de arco apontado, e com torreões circulares nos vértices. Junto a esta torre surge a Torre da Princesa, uma construção com várias frestas de iluminação. Entre estas torres, existe a praça de armas, de onde é visível a ponte, assente em arco apontado, que liga o caminho de ronda à entrada da torre de menagem. Durante os últimos séculos a fortaleza ficou bastante degradada, tendo havido mesmo o desmantelamento das muralhas e da estrutura defensiva medieval. No século XVII, e no contexto das Guerras da Independência, muitas ameias foram retiradas para dotar os caminhos de ronda de peças de artilharia. Em 1800, uma significativa parte da secção nascente das muralhas foi aproveitada para a construção de um quartel de infantaria. Já no século XX, e no seguimento de diversas obras de restauro, as ameias foram reconstruídas e o quartel oitocentista foi demolido, repondo-se todos os troços da muralha e desafogando os muros das inúmeras construções que, ao longo dos tempos, se foram adossando.

 IGREJA DE CASTRO DE AVELÃS 
Integrada num espaço rural, rodeado por algumas casas de um e dois pisos, foi edificada no século XIII, e alterada nos séculos XVII e XVIII, apresentando traços românicos e barrocos. É uma Igreja monástica com cabeceira românica, composta por nave rectangular, por cabeceira tripla de planta circular, e por sacristia adossada ao absidíolo esquerdo. A fachada principal tem os cunhais de granito encimados por pirâmides boleadas, e um portal de vão recto encabeçados por frontão semicircular encimado por janela. Exteriormente, a igreja é revestida a ladrilhos e decorada com arcadas e janelas cegas emolduradas com dentes de serra e com frisos salientes.

 O projecto inicial do Mosteiro de Castro de Avelãs era bastante grandioso, estando prevista a construção da igreja em tijolo, dado que na área não havia granito. Das três naves antigas pouco resta, a não ser o arranque da parede Sul, mais tardia, já gótica, e a torre colocada a Sul sobre o frontispício, em ogiva, sendo a pedra o material de construção. Note-se ainda que o Mosteiro de Castro de Avelãs exerceu um papel relevante na economia e no desenvolvimento da região, sobretudo durante o século XIII. 

IGREJA DE SANTO CRISTO DE OUTEIRO 
Construída no séculos XVII e alterada no século XVIII, é representativa de uma arquitectura religiosa seiscentista, barroca, com sabor maneirista. Implantada num adro onde se localiza o Cruzeiro de Outeiro, é composta por três naves, pelo transepto e pela capela-mor, à qual se adossam a sacristia e a casa de arrumações. 
 A fachada principal, orientada a Oeste, é flanqueada por torres sineiras de planta quadrada, divididas por vários registos e com cobertura piramidal revestida a telha. Os alçados laterais, Norte e Sul, são ritmados por pilastras coroadas por pináculos, mostrando galilés de três tramos e coberturas com abóbadas de nervuras. O Portal é decorado e encimado por um óculo de grande dimensão. As capelas laterais são forradas a madeira e decoradas com talha dourada, com motivos rocaille. A Capela-mor é mais baixa que a nave e tem o retábulo principal, com acesso por 2 degraus e ricamente decorado em talha dourada. O tecto da capela apresenta um pintura mural com dourados e as janelas uma pintura decorativa a têmpera. 

ALGUNS OUTROS IMÓVEIS DE INTERESSE PATRIMONIAL

 IGREJA DE SANTA CLARA E PAÇO EPISCOPAL
 Construído no século XVI, foi ocupado pelas freiras. Durante a guerra da Restauração, as intervenções militares prejudicaram algumas dependências do edifício. 
A igreja do convento tem na fachada principal um portal renascentista, com a data de 1597, no interior da nave o tecto é pintado e o da capela-mor é em berço apainelado. Ainda na capela-mor pode-se apreciar um excelente retábulo do início do século XVIII. 

SEMINÁRIO DE S. JOSÉ 
 Situado num local sobranceiro ao arruamento que atravessa a Cidade a Sul, e numa grande propriedade localizada no seu interior, é um edifício imponente, de grande dimensão. 
Com três pisos de volumetria e de tipologia de ocupação isolada, tem na fachada principal os cunhais em pedra encimados por pilastras nos extremos, a enquadrar o corpo central. A fachada é recortada ao cimo e tem ao nível do primeiro piso uma pala a destacar a entrada para o interior. Diante da fachada principal existe um amplo espaço ajardinado.

 IGREJA DE N.S. DE ASSUNÇÃO (Carragosa) 
Construída no século XVIII, e de traça arquitectónica barroca, está integrada num adro murado, onde se localiza um cruzeiro com acesso por um portal definido por pilastras sobrepujadas por pináculos. Esta igreja, de nave única e com capela-mor, tem a fachada principal rematada por duplas aberturas sineiras. 
O portal encontra-se enquadrado por pilastras e é coroado por um frontão entrecortado. Adossado à esquerda do corpo da igreja existe uma escadaria de acesso ao campanário, formando um arco de passagem inferior. No interior, a nave é ritmada por pilastras, e o retábulo-mor é em talha policroma ao estilo neoclássico. 

TORRE DE MENAGEM 
Na "vila", destaca-se a Torre de Menagem (construção iniciada por D.João I) "...com comandamento sobre o resto das muralhas...". 
 Construída, como é habitual, no ponto mais defensável -" mais larga e robusta que as maiores torres góticas do Sul" - é, porventura, " a mais elegante e bela do país". Sustenta, nos seus ângulos, vigias de bom recorte; no seu interior, uma cisterna, que serve uma função residencial atestada, também, por aberturas de amplos vãos e de esmerado lavor (destaque-se a janela ogival geminada da fachada sul). A cintura defensiva que a protege é constituída por panos de muros e cubelos. Hoje, alberga o Museu Militar. Deve o visitante subir ao terraço ameado, para contemplar belas paisagens (Serras de Nogueira, Montesinho, Coroa e, para norte, terras leonesas e cumes da Sanábria). 

CIDADELA 
Recinto fortificado, que já fez parte de uma cerca muito mais vasta, em que se destacam as muralhas do castelo, a elegante Torre de Menagem, a "Domus Municipalis" e o Pelourinho. 

Todo este monumental conjunto, pela sua magnificência e grandiosidade, pelo seu inquestionável valor histórico e patrimonial, bem poderia fazer parte integrante do "património mundial". A sua singularidade e excelência bem o justificam. O Castelo, - que ainda hoje domina o aglomerado - vai funcionar, através dos tempos, pela massa imponente, pelo volume, pelo gigantismo arquitectónico, como presença forte de "portugalidade" junto à fronteira, como um importante espaço, simultaneamente, "segurizante" e dissuasor... Aqui se teria organizado, provavelmente nos fins do séc. XII, o núcleo humano fundacional. Depois, foi uma longa história: há já mais de 800 anos que uns e outros homens vêm fazendo a cidade de que somos herdeiros... 

MUSEUS  (alguns)

MUSEU MILITAR 
A sua fundação remonta a 1929, (na prevalência do Regimento de Infantaria 10 aqui aquartelado e, posteriormente, o Batalhão de Caçadores 3). Sob o pretexto da recuperação do Castelo e a consequente extinção do Batalhão também o Museu Militar partiu, regressando em 1983 com o acervo original enriquecido por peças de armamento ligeiro desde o séc. XII até à 1ª Guerra Mundial. 
 O Museu Militar de Bragança ocupa todo o interior da Torre impondo-se como espaço memória das vivências militares da cidade, porquanto a maioria das peças originais foram doadas pelos habitantes, participantes nas Campanhas de África e 1ª Guerra Mundial. Museu Militar Cidadela – Castelo Tel.: 273 322 378 Terça a Domingo | 09h00 – 12h00 /14h00 – 17h00 Entrada gratuita | Sextas-Feiras das 09h00 às 12h00 Encerra às Segundas-feiras e Feriados 

MUSEU DO ABADE DE BAÇAL
 É com D. Aleixo de Miranda Henriques, alguns anos depois da transferência da Sé para Bragança (1764), que o edifício é sujeito a profundas alterações e acrescentos (estruturação da fachada principal, organização do espaço interno e execução do tecto prospéctico da capela desenhada por Cardoso Borges). 
 Já antes, com o bispo D. João de Sousa Carvalho - é dele a pedra de armas da fachada -, no fim do seu episcopado (1716-37), se tinham realizado importantes obras. Foi Paço Episcopal até 1912. O Museu Municipal, para ter mais largueza, é instalado, por esta altura, nas salas do primeiro andar. Em 1935 passa a designar-se por “Museu Regional do Abade de Baçal". Fazem-se obras (1937-40) tendentes ao enobrecimento do edifício e dá-se continuidade a um período de grande actividade, visando o enriquecimento e valorização do espólio. 
O Museu constitui-se, mesmo, como um dinamizador cultural (destaque para a acção de três bragançanos: O Abade, Raul Teixeira e José Montanha), reunindo um conjunto ecléctico de colecções, com obras de grande valor documental, artístico e histórico. Intervenções recentes, a partir de 1993, foram muito para além da valorização do acervo museológico. Intervenções recentes, a partir de 1993, foram muito para além da valorização do acervo museológico, anexando e recuperando para ampliação do museu, um edifício adjacente ao solar. Morada: Rua Abílio Beça, 27 Tel.: 273 331 595 Horário: Terça-feira a Sexta-feira: 10h00 - 17h00 Sábado e Domingo: 10h00 - 18h00 Encerra à Segunda-feiras 

 MUSEU IBÉRICO DA MÁSCARA E DO TRAJE 
Inaugurado em 2007, é um espaço de divulgação das tradições relacionadas com as máscaras do Nordeste Transmontano e da Região de Zamora (parceria entre o Município de Bragança e a Diputación de Zamora – Projecto Máscaras). 

Local único onde se encontram expostas máscaras, trajes, adereços e objectos feitos por artesãos portugueses e espanhóis e usados nas “Festas de Inverno” em Trás-os-Montes e Alto Douro e em Zamora. 
Museu Ibérico da Máscara e do Traje Cidadela - Castelo Rua D. Fernão “O Bravo”, nº 24/ 26 Tel.: 273 381 008 Terça a Domingo | 10h00 – 12h30 | 14h00 – 18h00 Encerra à Segunda 

TRADIÇÕES
 FESTA DOS RAPAZES 
"Os solteiros com mais de 16 anos compram para todos, um chibo ou um vitelo, que as raparigas cozinham na noite de 5 de Janeiro. Na madrugada do dia seguinte, ai vão eles pela aldeia, fartas goladas de aguardente para afastar o frio, com o gaiteiro e velhas cantigas alegrando as ruas. 
Feito o pequeno almoço em casa que geralmente lhes emprestam, vestem-se de caretos (mascarados) e lá vão eles assustar tudo quanto é povo, especialmente mulheres e crianças, indo depois, de casa em casa, exigir o tributo dos reis - o que lhes quiserem dar -, que enfiam no surrão (saco dos pastores), após o que se banqueteiam com farto almoço. Depois, quando as moças chegam, vem o bailarico, que se prolonga até à ceia gorda e terminará com umas tantas borracheiras, das quais acordam com saudades da festa acabada." 

ARREBIANA 
 "Nas longas noites de Inverno, em que o sono espreita e o frio é muito, junta-se a garotada à lareira – uns já com os olhos piscos, outros, mais audazes, desafiando aqueles para uma arrebiana. 
Pela tarde - se for Sábado ou Domingo tanto melhor -, cortam-se as castanhas, vai-se pedir o assador quando não o há, faz-se crescer a fogueira e, castanhas já no assador pendurado nas gramalheiras, Zac-Zac, estourando uma ou outra, até que meias assadas, já os garotos vão roubando uma aqui outra ali. Descascadas, barriga cheia de castanhas e afogadas com vinho ou água, sempre sobram alguns bilhós. E eis que começa a garotada, mão fechada e cheia de bilhós, bem repinpadas no escano: Arrebiana, sobressaltada ! Sobre quantos ? Sobre cinco ! Mão aberta e não existiam cinco bilhós, mas dois – teria que pagar três." 

AR LIVRE
 PERCURSOS PEDESTRES 
A saúde é um bem inestimável da comunidade e de cada pessoa, condição primeira para uma vida mais feliz e um melhor ambiente geral de bem-estar dos cidadãos. Propusemo-nos organizar, para o período 2006-2009, um conjunto de actividades estáveis, diversificadas e abertas, dirigidas a todas as idades, que envolvem percursos pedestres turístico-culturais. 

 Os passeios pedestres realizam-se em áreas seleccionadas, por trilhos e caminhos, em permanente contacto com a natureza. Os percursos variam entre 4 a 10 km, com a duração máxima de 3h num ritmo calmo acessível a todas as pessoas que gostem de caminhar, contemplar a natureza e conhecer melhor o ambiente que nos rodeia. 

LISTAGEM
Castro de Avelãs
Viduedo 
 Rio de Onor 
 Vias Augustas 
 Caminhos de Santiago 
 Pereiros 
 Guadramil 
 Alfaião 
 Refoios 
 Carvalhal da Nogueira
 Montesinho 

* No site do município encontrará informação detalhada 

GASTRONOMIA
 A gastronomia do concelho de Bragança é em tudo semelhante à da restante Terra Fria Transmontana. Caracteriza-se, quer pela elevada qualidade dos produtos que utiliza, quer pela relativa simplicidade dos processos de elaboração. 
Assenta essencialmente nos enchidos regionais (o fumeiro), encontrando-se o presunto as alheiras (também designadas de tabafeias), o salpicão e o butelo entre os mais afamados representantes. O escritor Manuel Mendes, referiu-se de forma inigualável a um dos mais conhecidos enchidos da região: “uma alheira, com a pele fendida, tostada ao calor da fritura, a derreter aquele unto doirado e rescendente a alho, tempero de que lhe vem o bonito nome (...) – quem haverá aí, senhores, que não se tente?” É da abundância de fumeiro que resulta por ocasião das festas Pascais o “Folar” – pão de ovos recheado de enchidos. 
De entre os pratos típicos salientam-se a conhecida posta mirandesa – esse naco de vitela , generosidade natural – que pode ser encontrada nos principais restaurantes; o cabrito de Montesinho, o cozido e a feijoada à transmontana e ainda as trutas – esse digno e bravo peixe das ribeiras virtuosas – confeccionadas das mais diversas maneiras. Mas a memória da cozinha tradicional, continua presente, mesmo na restauração mais urbanizada e, sobretudo, nas mãos hábeis das donas de casa de tantas aldeias do concelho. O borralho ainda convive com o moderno fogão, as panelas continuam a alinhar-se à volta da fogueira, e o escano (de castanho) será sempre a mesa das refeições invernais. Por estas paragens, a realidade gastronómica é acrescida dos produtos cinegéticos, verdadeiros, rústicos, naturais. São os caldos de perdiz, confeccionados com a água da cozedura destas aves, presunto, nabo (ou nabiças) e cebolas; a sopa de coelho bravo marinado em vinho branco ou o arroz de lebre com repolho. 
 E, o javali à transmontana transforma-se sempre em convívios báquicos e, actualmente, em prato “obrigatório” a qualquer ementa restaurativa. Dos valentes e leais castanheiros resultou, além dos dias de S. Martinho, o caldo de castanha com batatas, nabos e unto, ou a carne de porco estufada com castanhas. E, em qualquer altura pode empaturrar-se, antes do regresso ao hotel ao abrigo de montanha, com bifes de presunto de cebolada, salpicão assado com grelos cozidos, frango albardado, bacalhau cozido com batatas e tronchos de couve penca ou bacalhau assado com pão centeio, rabas guisadas com ovos, bocados de coelho com molho vilão, leitão “torradeiro”, os rojões e os milhos à transmontana. Menos conhecida, as cascas ou casulas, prato elaborado à base de vagens secas de feijão sujeitas a uma cozedura prolongada, constituem também um excelente acompanhamento de inverno, principalmente para os butelos. Curioso é igualmente o gosto existente na região pelo polvo, que substitui, aliás, o bacalhau, como prato de honra na noite de Consoada. 

Cozinhado no pote, constitui um dos petiscos mais apreciados nas feiras e nas festas. A doçaria será porventura a faceta menos diversificada da gastronomia da região. Destacam-se, contudo, os folares da Páscoa, os ovos doces, consumidos com pão, o bolo de mel, as rosquilhas e as súplicas. Estas últimas, possuem a particularidade de serem confeccionadas à base de apenas três ingredientes: Açúcar, farinha e ovos. 

ARTESANATO 
Mãos hábeis transformam as matérias que a natureza oferece. Tem sido assim ao longo dos séculos. Antes da industrialização, apenas o trabalho artesanal supria as necessidades das comunidades rurais e embora, desde há algumas décadas para cá, materiais novos tenham invadido o pacífico quotidiano destas gentes, não se perderam, pelo menos irremediavelmente, esses saberes ancestrais.
Permanece, ainda que sem o fulgor que outrora teve, o sábio aproveitamento dos recursos naturais disponíveis localmente; falamos das fibras vegetais e animais, das peles, da madeira... cuja transformação artesanal assume real importância, sobretudo no seio de comunidades rurais, as aldeias do Parque Natural de Montesinho. 
 O artesanato tradicional produzido em algumas das aldeias ainda não perdeu o cariz utilitário que desde sempre lhe esteve subjacente, materializando-se em objectos úteis e funcionais, mas também em peças, mais ligadas aos actos festivos e à decoração, reforçando a sua expressão estética. 

A permanência das necessidades tem invalidado o desaparecimento deste tipo de actividade e do próprio artesanato. Em muitas aldeias, um casebre nocturno acolhe os vizinhos quando a usura das suas ferramentas e alfaias agrícolas os obriga a consertos ligeiros: é a forja, um espaço comunitário onde as alfaias de ferro, depois de aquecidas na fornalha espevitada por um grande fole, são trabalhadas por entre martelares, sobre a bigorna, temperados por água fria. Estas pequenas forjas comunitárias estão hoje moribundas e os ferreiros, propriamente ditos, já não usam as suas pequenas oficinas, tendo-as substituído por outras maiores e mais modernas, mais adaptadas às solicitações de um mercado que hoje já ultrapassa o horizonte das aldeias vizinhas. 
 Também os latoeiros, que ainda há poucos anos trabalhavam em algumas das aldeias da zona de Vinhais, estão em extinção. Moldavam chapas de cobre ou de zinco unidas por uma solda que, em muitos casos, é um segredo de profissão. Em cobre produzem-se essencialmente, alambiques e caldeiras, usadas na confecção de doces e enchidos ou como tachos de uso quotidiano. O repertório das formas em zinco é mais variado, incluindo, igualmente, caldeiras, para idêntico uso ao das de cobre, mas também cântaros, candeias, almotolias, funis e regadores para a rega dos hortos. Os trabalhos em madeira também foram outrora mais fundamentais na vida destas comunidades. Construíam-se carros de bois em muitas das aldeias e peças de uso doméstico, sobretudo os escanos, as masseiras e as arcas, constantes na cozinha vernácula de muitas casas rurais. Hoje, ainda há quem saiba construir um carro de bois - em Gimonde, não há muito tempo, foram executados dois - mas apenas o fazem, excepcionalmente, sob pedido. Em Guadramil, o Ti Albano, com a sua oficina-biblioteca, é um dos últimos representantes destes carpinteiros locais e deixou obra em muitas das características portas e varandas das casas pardacentas da aldeia. 

À festa estão, desde há muito, ligadas as máscaras que disfarçam os rapazes nas festas de Santo Estevão, por alturas do solstício de Inverno; a peculiaridade e originalidade desta tradição ancestral motivou alguns artesãos a produzir estas máscaras com uma finalidade, essencialmente, decorativa, a qual é também patenteada na feitura de bengalas, de castanho ou salgueiro, ou no aproveitamento das raízes de urze, numa recriação dos seres mais ou menos fantásticos que lhes povoam a imaginação. A imagem idílica da cesteira sentada na soleira da porta da sua casa xistosa, entrecruzando vimes quando os afazeres do campo amainam, está cada vez mais ausente do quotidiano. Todavia, a cestaria artesanal continua viva em muitas das aldeias, da Lomba à Lombada. É uma actividade essencialmente feminina, embora fosse frequente assumir o outro género quando desenvolvida no seio de comunidades ciganas. A sua importância é óbvia numa sociedade rural: os trabalhos agricolas e as lides domésticas são as principais actividades que absorvem estas produções e os próprios materiais usados podem ser subprodutos da exploração agro-silvícola tradicional. As culturas de trigo do serôdio fornecem a palha usada na produção de escrinhos, isto é, cestos de tamanhos diversos usados, sobretudo, para guardar o pão cozido, o farelo, ou até para levedar a massa do pão antes da cozedura. A técnica básica destas produções consiste em enrolar, em espiral, tufos de palha, ligados por tiras de casca de silva, que se vão juntando até a peça ganhar forma. Com a mesma palha fazem-se frequentemente rodelas, que, como o próprio nome indica, são bases circulares para assentar caldeiros de ir ao lume ou cântaros de barro. 
 Noutros lados, e sobretudo destinados aos trabalhos agrícolas mais pesados, são executados cestos em talas de castanho bravo entrançadas e rematadas por um entrançado mais fino. Mas, talvez, o mais frequente sejam os trabalhos em vime. Os vimes, ou ramagens do salgueiro, são apanhados no final do Verão e, antes de serem postos a secar podem ser, ou não, descascados, consoante a cor que se queira obter, que também pode ser dada através de anilinas. Para uso nos trabalhos agrícolas fazem-se grandes cestos de boca larga, de aspecto mais grosseiro e pesado, designados por coleiros, enquanto que os açafates são, geralmente, mais finos, com dimensões mais reduzidas, destinando-se a usos domésticos ou a conter objectos de costura, tal como as cestas, com uma asa única que une duas extremidades opostas da sua boca, que tendo funções idênticas às dos açafates, oferecem ainda a possibilidade de transportar para o campo as merendas servidas nas pausas do labor agrícola. O trabalho artesanal feminino estende-se ainda, e talvez tenha aí a sua expressão mais interessante, à tecelagem. 
CASULOS DE BICHO DA SEDA

Desde tempos remotos, a transformação da lã e do linho assume grande importância, sobretudo, no seio de comunidades humanas que ao longo do tempo foram tendencialmente autárcicas. O linho da região assumiu notoriedade no Império Romano, sendo bastante apreciado em Roma, onde era utilizado na execução de redes de caça, e manteve-se presente no quotidiano das populações até à actualidade; a actividade continua, vestigial, é certo, na Baixa e Alta Lombada, onde se cultivam os linhos galego e mourisco. Longo e moroso é o tratamento dado ao linho após a colheita: depois de curtido, é fabicado através de um conjunto de operações que compreende a secagem, a escolha, a maçagem, a espadelagem e a assedagem; só depois de assedado, o linho se encontra pronto para ser submetido, ao soalheiro ou pela noite, junto à lareira, ao paciente rodar da roca e do fuso. Em tempos idos, organizavam-se fiadeiros, onde os rapazes acompanhavam as jovens fiadeiras em cantos nocturnos, sob um céu de luar luminoso ou junto ao vivo crepitar da fogueira. Antes do trabalho do tear, o fio de linho é pacientemente enrolado no sarilho, fazendo-se meadas que através da dobadoura eram organizadas em novelos prontos para a urdidura, isto é, para a obtenção da teia de fios que servirá de base ao posterior entrelaçar de fios no tear. Estas comunidades de montanha têm também à sua disposição um outro recurso bastante usado na produção têxtil: a lã. A genuína da região é proporcionada pelos ovinos da raça Churra Galega-Bragançana. Passados os rigores invernais faz-se a tosquia dos rebanhos - geralmente, nos inícios ou meados da Primavera -, sendo o velo (lã) enrolado em feixe e arrecadado sujo até ter serventia; a lã para ser utilizada tem de ser amolecida em água quente, de um dia para o outro, para, em seguida, ser lavada, em água fria ou na correnteza do rio, e batida, antes de secar ao sol. Depois de seca e escaramiçada, ou carmeada, está pronta para ser fiada e, depois, tecida. Ao tear tecem-se também os fios de algodão, adquiridos, já em meada, na feira ou no comércio local, e os trapos multicolores que juntos se transformam em garridos tapetes e mantas. A produção de buréis (pardos) desapareceu por completo deixando apenas rasto nas poucas peças de vestuário que possam ter ficado no fundo de uma velha arca de castanho e nas ruínas, ainda perceptíveis, de pisões que marginam alguns cursos de água, como por exemplo em Casares ou em S.Julião. Os tecidos de linho e lã, a par dos de algodão e trapos, têm aplicações diversas ligadas ao vestuário, de trabalho e de lazer, e aos usos domésticos. As produções podem apresentar a cor natural dos materiais usados, ser tingidas com colorantes naturais ou, independentemente disto, serem decoradas através do bordado de desenhos geométricos e naturalistas. O homem vestia calças de burel ou de estopa e camisa de linho ou, igualmente de estopa. Os meotos, as meias e camisolas agasalhavam, homens e mulheres, durante os dias frios de Inverno. Os xailes de lã eram peça importante na indumentária de trabalho da mulher, enquanto que os de linho eram mais apropriados ao trajar de Domingo e de festa. Porém, estes figurinos foram-se convertendo em relíquias usadas, de quando em vez, em festas e romarias ou noutras manifestações mais ou menos folclóricas. Outra parte das produções têxteis, que se mantém mais actual, prende-se com a casa. Lençóis de linho, mantas de trapos, cobertores de lã e colchas de linho, de lã ou de algodão, são as roupas de cama tradicionais produzidas localmente, nas quais a mulher aplica o seu espírito criativo e a sua sensibilidade feminina. Mas este labor estende-se ainda à confecção de tapetes de linho, de lã e de trapos, ou de trapos entrelaçados com lã, às carpetes de lã, aos sacos de linho ou de algodão, às toalhas de linho e, ainda não há muitos anos, era igualmente aplicado à produção das alforjas, de estopa ou de algodão, que vagueavam no dorso dos burros em trânsito. Neste transformar das matérias vegetais e animais ou dos metais oferece-se uma panóplia de cenários da vida quotidiana ainda possíveis de captar pelos olhares urbanos mais atentos às vivências genuínas e francas destas gentes raianas que, perspectivando o futuro, não negam a autenticidade dos saberes e da cultura que lhes foram legados. 

Fonte: João Azevedo Editor, 1998, Património Natural Transmontano “P. N. de Montesinho”, pag. 77-83.


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