04/05/2012

FILOMENA MARTINS

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 Os donos da liberdade 

A 'cuba livre' de Jardim 
 Alberto João Jardim acha-se livre para chamar todos os nomes a toda a gente e a tudo. O presidente do Governo Regional da Madeira acha-se também livre para gastar mais do que o orçamento lhe permite, para pedir sempre mais para a sua região autónoma e até para disfarçar e esconder os buracos financeiros que entretanto foi escavando como os túneis que proliferam na ilha e que são um dos motivos para Portugal ter caído na atual grave situação em que se encontra. Tamanhas liberdades, e boçalidades, fariam esperar que Jardim tivesse, no mínimo, fair play e poder de encaixe para aceitar críticas no mesmo tom em que as faz. Para admitir que alguém queira saber aquilo que esconde. E até para que um adversário possa querer o lugar que ocupa há mais de 30 anos. Mas não. O líder madeirense processa todos os que usam contra ele os termos que ele acha que são só seus, quer parar na justiça as investigações que essa mesma justiça faz aos seus gastos, usa o seu poder para afastar qualquer opositor, e, apesar de ser o eterno rei do carnaval local, nem tem sentido de humor. Porque o título que o Ministério Público deu à investigação às contas madeirenses, que já equivalem a um BPN, pode até ser arriscado para a credibilidade do processo e politicamente incorreto. Mas tem graça. Mas a liberdade de Alberto João Jardim está pelos vistos limitada à Quinta da Vigia, nem sequer chega ao Funchal. Está muito aquém dos "cubanos" que, com criatividade, batizaram a operação madeirense de "Cuba livre".

A memória de Cavaco
Cavaco Silva é obviamente livre de escolher o tema dos seus discursos e o timing para as suas críticas. Mas sabe também que está preso ao compromisso de ser o Presidente de todos os portugueses. Ora, Cavaco esqueceu-se, neste 25 de Abril, que os limites aos sacrifícios impostos pela crise que há um ano mandara travar não só subiram como fizeram mais vítimas; e só se lembrou agora, como se os casos de sucesso do País tivessem brotado como cogumelos nos últimos 12 meses, que Portugal se deve unir em torno do melhor que tem e faz para mudar a sua imagem externa. Os portugueses precisam tanto dos estímulos e de discursos positivos neste momento como deles necessitavam no ano passado. E exigem tantos reparos às atuais medidas de austeridade de Passos quantos os que ouviram sobre as decisões de Sócrates, cujas políticas agora elogia. Só que, quando o País mais precisa que seja o garante da estabilidade e mediador de equilíbrios, as palavras do Presidente mostraram que continua preso a apoios e ideologias.

A estratégia de Seguro
António José Seguro quer, claramente, libertar-se das "amarras" que o prendem à assinatura do PS no memorando de entendimento com a troika. E está a usar a UGT para desatar esse grande nó. O líder socialista prepara o terreno para poder distanciar-se se a situação do País sofrer algum novo abalo, que pode chegar já do terra- moto que se faz sentir em Espanha. As ameaças estão feitas: primeiro foi João Proença a jogar com o acordo de Concertação social, depois Zorrinho a sublinhar a hipótese de "rutura democrática" e ontem o aviso de "não assinamos" feito pelo próprio Seguro. Só que o sentido de Estado e a oposição interna vão limitar a liberdade ao líder socialista.

 Os recursos de Isaltino
 Isaltino Morais pode continuar a gozar plena liberdade enquanto a justiça, que vai na 29.ª reforma em 30 anos, permitir milhares de diligências processuais. Depois de termos ouvido o PGR dizer que não tinha dinheiro para mandar fazer as perícias necessárias para avançar com o caso dos submarinos e de ficar calado após ser desmentido quer pela procuradora do processo quer pela ministra da tutela. Depois de termos visto mais um caso em que um processo como o "Portucale" acabou em nada porque, mais uma vez, o Ministério Público não conseguiu reunir provas suficientes de financiamento partidário, mesmo quando havia donativos de figuras como Jacinto Capelo Rego. Depois de todos os casos que têm descredibilizado todo um sector, o de Isaltino, investigado desde 2003 e condenado em 2010, já nem surpreende. Quando o último recurso sobre a prescrição dos seus crimes for decidido - e será o cada vez mais descredibilizado e politizado Tribunal Constitucional a fazê-lo - eles já prescreveram mesmo. E em vez de dois anos de prisão, Isaltino terá cumprido apenas 20 horas, e essas por erro judicial primário.


Subdirectora

 IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
28/04/12

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