22/04/2012

CRISTINA CASALINHO



Procura e oferta 
         condenadas a entender-se

Como o tempo urge, uma forma rápida de suprir a falta de capitais próprios é fomentar o investimento directo estrangeiro (IDE). Os casos bem sucedidos de produtores/exportadores (e.g. Alemanha e Japão) assentam em avanços prosseguidos sobre os seus produtos tradicionais.
O processo de ajustamento económico a que a economia está presentemente submetida pode ser encarada em duas fases. A primeira fase é a actual, na qual se procura corrigir o desequilíbrio externo mediante uma redução das necessidades de financiamento via contenção da procura. A desvalorização cambial como motor do encolhimento dos rendimentos domésticos é substituída por redução dos salários nominais e por agravamento da carga fiscal, implicando contracção da procura.

Deste modo, as importações diminuem e a produção local é reorientada para mercados alternativos. Cumpre-se o primeiro objectivo: debelar a crise financeira ou de liquidez. Fica por cumprir a segunda fase.

Num segundo momento, pretende-se ajustar o fluxo permanentemente e reduzir o stock – reduzir o endividamento da economia. A forma mais eficaz e eficiente de reduzir o endividamento é através do crescimento económico.

Contudo, como os processos de desalavancagem mais recentes evidenciam, estes fenómenos demoram cerca de uma década a processarem-se (ver último "Global Financial Stability Report" publicado pelo Fundo Monetário Internacional) e é imperioso que as necessidades de financiamento, o fluxo, tenham sido recondicionadas. Isto significa que a evolução da procura tem de prosseguir alinhada com a oferta, orientada para substituição de importações e exportação, de modo a evitar a formação de necessidades de financiamento externo estruturalmente elevadas.

Ao contrário do passado recente, o motor de crescimento será a oferta e não a procura. Doravante, a expansão da procura apenas poderá ser induzida por acréscimos da oferta e dos rendimentos por ela gerados. Como ampliar a oferta? Bancos, famílias e empresas apresentam níveis de endividamento elevados, que terão de reduzir. Como o tradicional canal do crédito não está disponível, a expansão da oferta será promovida com mais capitais próprios. Todavia, a taxa de poupança evolui muito lentamente, condicionando adversamente a expansão produtiva.

Neste caso, a tradicional reduzida intensidade capitalística (mais trabalhadores que máquinas) da estrutura produtiva portuguesa assume-se como vantagem, pela menor exigência de recomposição de poupança para se ampliar e pela maior capacidade de criação de emprego.

Como o tempo urge, uma forma rápida de suprir a falta de capitais próprios é fomentar o investimento directo estrangeiro (IDE).

Os casos bem sucedidos de produtores/exportadores (e.g. Alemanha e Japão) assentam em avanços prosseguidos sobre os seus produtos tradicionais. Por conseguinte, interessa capitalizar as naturais competências produtivas nacionais, buscando IDE complementar (não concorrencial), potencializando interconectividade com o tecido produtivo existente e acesso a novas tecnologias.

Tendo-se a produção nacional ancorado em baixa intensidade capitalística e exploração da localização geográfica, as competências distintivas de Portugal encontram-se em: serviços (turismo, portos, transportes, saúde, centros de "back Office", educação, investigação e desenvolvimento, consultoria,...), bens alimentares e agro-industriais (vinho, azeite, hortifrutícolas, ...); indústria ligeira.


Economista-chefe do Banco BPI


IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
19/04/12


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