05/03/2012

SÍLVIA DE OLIVEIRA



O festim da banca



Quarta-feira é dia de festa para a banca. É dia da segunda edição do multimilionário leilão do Banco Central Europeu (BCE), no qual os bancos poderão ir buscar dinheiro barato - juros de 1% - a três anos. Em meados de Dezembro, foram 500 milhões de euros e para agora os analistas estimam que os pedidos dos bancos possam variar entre 350 mil milhões de euros e um bilião de euros.

O montante que os bancos de cada país levantarem nesta quarta-feira pode ser indicativo da resistência do sector, mas também do estado das respectivas economias. O resultado do leilão terá ainda consequências na estabilidade dos mercados nos próximos meses, sobretudo enquanto a Europa continuar embrulhada a tentar resolver alguns dos muitos problemas desta crise.

Quarta-feira é um dia importante. Esta liquidez artificial proporcionada por Mario Draghi está longe de ser a cura, mas não deixa de ser um eficaz anti-pirético, pelo menos a febre passará por uns meses e a pressão sobre a dívida de Portugal, Espanha e Itália aliviará. Agora, a infecção continua lá. A economia europeia está em desaceleração. É a própria Comissão Europeia que prevê para 2012 uma contracção de 0,3% na zona euro e a estagnação na União Europeia. O PIB português vai cair 3,3%. E o o problema da dívida não se esfumou.

Seria por isso vital que o dinheiro - barato - que os bancos vão buscar ao BCE na quarta-feira conseguisse passar para a economia real, ou seja, que chegasse às famílias e, sobretudo, às empresas; seria indispensável que não ficasse pelo caminho, nos Estados, através de compras de dívida pública - que, no longo prazo, se podem revelar explosivas para os próprios bancos -, nem pelas empresas públicas, e que também não seja acumulado pelos próprios bancos, desconfiados dos outros bancos e do que está para vir.

Se a partir de quarta-feira voltar a ser tudo igual ao que se passou em Dezembro - entretanto, atingiram-se valores recorde de depósitos dos bancos no BCE -, continuamos num ciclo vicioso do qual se demorará a sair e com custos sociais enormes. Os bancos não emprestam dinheiro e a economia não cresce, logo não se cria emprego; e a recessão continua e os pedidos de crédito diminuem, ou seja, o negócio da banca mingua.

Os bancos e a troika bem podem dizer que não há um credit crunch, mas não pode ser verdade, só se for para eles. O que aconteceu é que os bancos apertaram os critérios de análise de risco e só não há credit crunch para meia dúzia de empresas. O crescimento não se consegue apenas à custa das exportações.

A construção é um dos sectores em pior situação e, nesta conjuntura, só resistem as empresas que se internacionalizaram. A Edifer, por exemplo, perdeu um contrato com a ANA porque não conseguia responder às exigências da obra, e agora tem salários em atraso, não paga aos seus trabalhadores. Pergunto: Acham os bancos que a Edifer deve ir à falência, assim sem mais nem menos? Talvez sim, mas se assim for, o desemprego vai rebentar e a economia continuará nesta probreza, porque o crédito está bem guardado pelos bancos sabe-se lá para quê e para quem. Pode ser assim, mas custará mais a todos, aos bancos também.


IN "DINHEIRO VIVO"
27/02/12

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