23/03/2012




HOJE NO
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Quebra de rendimentos e fosso social podem agravar tuberculose
Alerta de especialistas do Centro Europeu de Prevenção de Doenças foi publicado ontem. 
Em 2011 casos caíram 9,6% em Portugal

Dados preliminares dos casos de tuberculose em Portugal em 2011, da DGS, mostram uma quebra de 9,6%. O país está quase a entrar no patamar da baixa incidência: ainda há 21 casos por 100 mil habitantes quando o limiar é 20. Em vésperas do Dia Mundial da Tuberculose, amanhã, especialistas do Centro Europeu de Prevenção de Doenças (ECDC) avisam que a recessão pode contrariar o bom desempenho europeu e apelam ao reforço dos orçamentos.

O alerta surge no editorial do jornal europeu “Eurosurveillance”. Apesar de os dados europeus disponíveis não mostrarem um efeito da actual crise na tuberculose (de 2006 a 2010 a incidência na Europa caiu 4,4% ao ano, para 14,6 casos por 100 mil habitantes), o impacto pode não ser visível de imediato, dizem os autores, adiantando que o ECDC vai seguir o fenómeno.

“Como a tuberculose é uma doença lenta, com um período mínimo de incubação de oito semanas, pode demorar algum tempo até haver um aumento significativo de casos. Podemos até ver um declínio inicial porque os sistemas de saúde podem passar por dificuldades no diagnóstico e notificação. No entanto, foi demonstrado na Europa que há mais notificações quando os rendimentos nacionais são mais baixos e/ou quando as desigualdades de rendimento são maiores. Se a actual crise afectar estas duas variáveis, as taxas de TB podem bem aumentar.”

Os especialistas alertam que a associação é “especialmente verdadeira” nos países que já tiveram dificuldades com esta doença. Entre os factores agravantes estão a “influência previsível” da crise no funcionamento dos sistemas de saúde, maior consumo de álcool associado ao desemprego ou insegurança laboral, aumento dos sem-abrigo ou da criminalidade, com sobrelotação das prisões. Os autores alertam ainda que, no caso das tuberculoses multirresistentes a medicamentos, o problema também pode agravar-se: exige sistemas de saúde afinados, “capazes de diagnosticar e de fornecer tratamento caro e a longo prazo.”

Em Portugal os sinais escapam ao alerta. Além da quebra substancial nas notificações em 2011 (2388 casos), Miguel Vilar, coordenador do Centro de Referência Nacional para a Tuberculose Multirresistente, disse ao i que também tem havido uma diminuição dos casos desta tuberculose mais agressiva. Em 2011 foram notificados 23 casos, menos seis que em 2010. Portugal está dentro da média europeia, com 1,7% de casos multirresistentes. É na tuberculose extensivamente resistente que os indicadores são mais preocupantes. Em 2011 houve oito casos, um terço das tuberculoses multirresistente no país (em 2010 representavam 7%).

Vilar alerta ainda que dados de um estudo que será apresentado amanhã num evento da DGS que assinala o 130.º ano da descoberta do bacilo da tuberculose mostram que 64% dos casos multirresistentes surgem na região de Lisboa e Vale do Tejo, a única que ainda não tem operacionalizado um centro referência regional nesta área, que permitiria acompanhar melhor os doentes e normalizar as terapêuticas.



* Não esqueçmos os cerca de 6 mil mortos em duas semanas neste inverno seco, a maior parte dos quais se deve a graves carências económicas para suportarem despesas de saúde básica.

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