15/03/2012


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HOJE NO
"JORNAL  DE NOTÍCIAS" 
 
Lucro excessivo na energia tira 
“3500 milhões à economia 
e às famílias até 2020”

No discurso que não chegou a ler, Henrique Gomes alerta para o disparo de mais de 10% da factura da luz em 2013

Palavras claras, mensagem dura. A manutenção dos lucros excessivos decorrentes das garantias dadas pelo Estado ao negócio da energia desviará das famílias e das empresas mais de 3500 milhões de euros até 2020, alerta o ex-secretário de Estado da Energia. Num discurso que não chegou a ler numa conferência na semana passada, Henrique Gomes é demolidor na análise da protecção estatal à produção de energia, deixando um aviso: mesmo com acumulação de mais défice tarifário, os portugueses têm uma surpresa desagradável à espera no próximo ano.

“O crescimento global dos preços de electricidade de 2012 para 2013 não será inferior a 11%”, refere o discurso a que o ex-secretário de Estado tinha preparado e a que o i teve acesso. Mais à frente, quando se refere à subida dos preços da electricidade até 2020 caso não haja medidas para reduzir a protecção estatal aos produtores, Henrique Gomes expressa preocupação: “Isto significa uma perda incomportável de competitividade da nossa economia e uma sobrecarga socialmente insuportável pelos consumidores”.

O ex-governante demitiu-se na semana passada – uma demissão confirmada há três dias – depois de ter visto cair no governo a sua proposta para criação de um imposto especial sobre os produtores eléctricos. Henrique Gomes deveria ler o discurso numa conferência do ISEG, mas segundo o “Público” enviou uma nota a meio da manhã para a audiência pedindo desculpa pelo cancelamento “por motivos não previstos” – nessa altura já não era secretário de Estado, tendo o primeiro-ministro Passos Coelho aceite o seu pedido de demissão, que terá ainda sido feito no ano passado.

O discurso não lido mostra o que pensava o anterior titular da pasta da Energia sobre o negócio em Portugal. “As opções tomadas conduzem a que todo o sector electroprodutor exerça a sua actividade num ambiente económico de risco muito mitigado. É um sector protegido!”, denuncia.

A protecção dada até aqui pelo poder político – “na expectativa de se obterem impactos indirectos positivos na economia”, interpreta Henrique Gomes – vem agarrada a um preço alto a pagar por toda a economia. Na apresentação simula-se o aumento da factura eléctrica no orçamento das famílias (ver ao lado) para realçar o aumento de 60% no preço em dois anos. E nota-se que a não resolução do problema levará a um aumento de 4,7% por ano até 2020, minando a competitividade da indústria, o rendimento das famílias e o acesso a crédito para a economia.

A saída do ex-secretário de Estado acentuou a pressão política e mediática sobre o governo de Passos Coelho no sentido de rever contratualmente as condições dadas aos produtores de energia (com a EDP à cabeça). Também a troika tem pressionado o governo desde o ano passado para o cumprimento do memorando neste ponto. Pressionado ontem no Parlamento pela oposição, o secretário de Estado Adjunto Carlos Moedas garantiu, sem dar qualquer detalhe, que o memorando será cumprido na área da energia. Ao final do dia, Passos Coelho – para quem a saída de Henrique Gomes se ficou a dever a “razões de ordem familiar” – garantiu que agirá. “Há rendas que existem nesta altura e que vão ter de parar”, afirmou. Até aqui a privatização da EDP aos chineses da Three Gorges, a resistência da EDP e a complexidade dos contratos tem feito derrapar o prazo de cumprimento das medidas.


* E porque este senhor pôs o dedo na ferida e o patrão não gostou, foi p'rá rua e vai saír do nosso bolso o pagamento desta gula da "TÁ-XU-LÁ"/EDP.


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