07/03/2012

ANA RITA GUERRA



FACEBOOK
DESAMIGAR É O VERBO

O tempo em que rejeitar um pedido de amizade nos deixava desconfortáveis acabou. Como também acabaram aquelas reticências em desamigar alguém que, sabes Deus porquê, está na nossa lista de amigos.

Isto tem uma razão de ser. A maturidade nas redes sociais não equivale a um relaxamento das restricções de privacidade – pelo contrário. Mark Zuckerberg estava tão errado quando disse, há uns dois anos, que a era da privacidade tinha acabado que nem ele ainda acredita nisso.

Tenho visto cada vez mais pessoas a fazerem purgas nas suas listas de amigos, e o meu primeiro pensamento é: mas como é que deixaste que isso chegasse aos 1500 amigos? Ninguém tem 1500 amigos.

No entanto, também eu sou obrigada a fazer limpezas gerais de tempos a tempos. Motivo: alguém comenta uma publicação de forma desagradável, e de repente penso: "porque é que esta pessoa é minha amiga no Facebook?". Dois segundos depois está desamigada. Subscrevam se quiserem.

O problema é que algumas pessoas levam a mal quando são excluídas da rede. Não percebem que o Facebook não é o Twitter nem o MySpace. Alguém que conhecemos por cinco minutos no jantar de Natal de uma empresa não é um amigo. Pessoas que têm os seus perfis abertos (públicos) e escrevem coisas íntimas nunca deixam de me surpreender. São as mesmas pessoas que depois se queixam de que toda a gente se mete na sua vida.

Também há os casos em que alguém ligado à nossa vida profissional nos envia um email de trabalho cheio de smileys e a comentar algo que viu no Facebook. O efeito é o contrário do pretendido: em vez de forjar um sentimento de intimidade, leva a pessoa a ir ao Facebook desamigar o tal contacto. Para isso há o LinkedIn. E o Twitter. Ou o Tumblr. O Facebook é para os amigos e para a família.

Enquanto as pessoas não perceberem isto, não vão saber gerir a sua privacidade e vão arranjar problemas. Por algum motivo existem a subscrição e as páginas públicas – para quem quer promover uma vida social sem escrever o que não deve. Não me esqueço daquela senhora que escreveu no Twitter que tinha recebido uma óptima proposta de emprego na Cisco, com um grande salário mas um trabalho que odiava. Obviamente a Cisco respondeu-lhe: como boa empresa tecnologia, também usamos o Twitter.

O Facebook é cada vez mais uma ferramenta de filtro antes da contratação e também diz muito da pessoa enquanto trabalhador, enquanto amigo e até cidadão. O estudo da Pew Research que saiu na semana passada, referindo que a tendência é para que as pessoas reduzam a sua lista de amigos, identifica uma viragem na era desta rede social específica que é o Facebook. Acima de tudo, as pessoas começam a perceber que os seus perfis não são uma democracia: não têm de albergar todo e qualquer pedido de amizade e não têm de admitir comentários maldosos ou inapropriados.

Quem for desamigado ou perceber que um comentário seu foi apagado não tem nada que ficar chateado. Tem que perceber que cada um governa o seu Facebook e que isto é muito mais sério que um simples perfil com umas fotos catitas. Isto é um reflexo da sua vida e uma ferramenta importante. Que pode dar para o torto de formas que nem se sonha.


 IN "DINHEIRO VIVO"
28/02/12

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