16/02/2012



HOJE NO
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Santuário de Fátima 
quer entrar no mundo dos negócios
O maior santuário português vai aproveitar 60 hectares de olival para produzir azeite de marca

Desde 2005 – ano em que facturou mais de 17,2 milhões de euros –, que o Santuário de Fátima não apresenta contas publicamente. Mas nem por isso deixou de inovar e agora até está a preparar-se para entrar no mundo empresarial.

O maior santuário português da Igreja Católica vai passar a vender azeite. A marca ainda não tem nome, mas o administrador do espaço, o padre Cristiano Saraiva, garante que o lançamento está para breve e que o azeite será comercializado “com uma marca e em embalagens próprias”.

O azeite provém de um olival que é propriedade do santuário no Monte dos Valinhos e Aljustrel, onde terá acontecido a quarta aparição de Nossa Senhora. No total, são 60 hectares de terreno onde estão plantadas 4700 oliveiras. Só na campanha do ano passado – que decorreu entre 24 de Outubro e 5 de Dezembro – foram colhidos quase 20 mil quilos de azeitona, transformados em perto de 2500 litros de azeite. O processo de manutenção do olival tem sido assegurado, nos últimos anos, por sete trabalhadores e um engenheiro agrónomo.

Até aqui, o azeite era consumido apenas nas casas de retiro à volta do santuário, sendo o excedente vendido à Cooperativa de Olivicultores. “Mas dado que existe uma grande produção, em breve poderemos comercializar o azeite com marca própria”, acredita o padre Cristiano Saraiva. O santuário ainda não sabe quanto é que poderá lucrar com a venda do azeite, mas o administrador garante que a principal preocupação é outra: “O nosso objectivo primeiro é a preservação e a manutenção do olival e do monte onde se encontra”, diz, acrescentando que os Valinhos são “um pulmão em termos ambientais”. Por isso, explica, “tudo o que descaracterize o local é eliminado, fica a vegetação autóctone: as oliveiras, os carrascos, os pequenos arbustos”.

santuário não presta contas Resta saber se quando o santuário lucrar com a venda do azeite prestará contas aos fiéis e aos restantes portugueses – dado que há seis anos que não divulga publicamente a sua contabilidade.

Os últimos números conhecidos, de 2005, mostram que, no espaço de um ano, o maior santuário católico português conseguiu amealhar mais de um milhão de euros em “actividades comerciais”, mais de nove milhões em “ofertas” e 4,5 milhões de euros provenientes de “outras receitas”. Tudo isto somado ao lucro dos serviços de alojamento, “valorizações financeiras” e outros serviços, o espaço mariano rendeu, só nesse ano, mais de 17,2 milhões de euros.

O i tentou questionar o reitor do santuário e o bispo de Leiria-Fátima sobre o sigilo da contabilidade, mas nenhum dos dois se mostrou disponível para dar qualquer explicação. No entanto, o antigo reitor, Virgílio Antunes, defendeu-se em 2010 (depois de cinco anos sem prestar contas ao público) com a “ausência de regulamentação da Concordata”. Na altura, o padre – entretanto ordenado bispo – explicou que o Conselho Nacional para o Santuário de Fátima decidira “fazer uma pequena pausa” na divulgação dos resultados financeiros “até que estejam definitivamente regulamentados todos os aspectos que têm a ver com a relação entre a Igreja e o Estado ao abrigo da Concordata”. Virgílio Antunes acrescentava, há dois anos, esperar “que seja um período transitório, findo o qual as contas tornarão a ser públicas”.

De qualquer forma, a contabilidade do santuário tem continuado a ser apresentada e aprovada, anualmente, pelo bispo de Leiria-Fátima, como determinam as regras da Igreja. A divulgação das contas do santuário foi uma iniciativa do bispo emérito da diocese de Leiria-Fátima, D. Serafim Ferreira e Silva, e começou no ano 2000, com informação relativa ao ano anterior.

marca popular No entanto, a avaliar pela afluência de fiéis, o santuário não deverá estar em crise. O número de peregrinos que chegaram a Fátima no passado aumentou em relação a 2010. O santuário apresentou na semana passada – durante o encontro anual que promove com os hoteleiros e os representantes das agências de viagens com sede na cidade – as estatísticas das celebrações realizadas em 2011. Desde 2007 que a afluência de fiéis ao santuário mariano estava a diminuir, mas voltou a aumentar no ano passado, segundo mostra o relatório a que o i teve acesso.

Em 2011 participaram nas celebrações mais de 7,3 milhões de pessoas – mais 300 mil que no ano anterior. Mesmo assim, a afluência do ano passado continua aquém da verificada em 2007, quando compareceram em Fátima mais de 4,1 milhões de fiéis. O número de missas particulares – encomendadas por peregrinos e fiéis – também aumentou, de 4231 para 4533. E as celebrações particulares (onde se incluem os casamentos e baptizados, entre outras), aumentaram de 726 para 1151.

O que caiu consideravelmente foi o número de confissões: apenas 158 mil, enquanto que em 2010 os padres do santuário atenderam quase 166 mil crentes. Já os peregrinos que rumaram até Fátima aumentaram de 596 mil em 2010 para quase 674 mil no ano passado. A maioria continua a chegar de Espanha (um total de 33 821 fiéis em 2011). Além do país vizinho, a Itália (29 603), a Polónia (12421), os Estados Unidos (9709) e o Brasil (9065) foram os países que mais peregrinos trouxeram, no ano passado, ao santuário mariano.


* Tudo o que é igreja é negócio, seja a católica ou outra qualquer. Exceptua-se a fé absolutamente respeitável dos fiéis, vistos como clientes pelas hierarquias e inundados pelas maiores campanhas de marketing milagreiro.
Para o azeite sugerimos o nome de "Bendita Azinheira, Olive do céu"


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