23/02/2012



10 . PARQUES NATURAIS PORTUGUESES

 PARQUE NATURAL DAS
SERRAS DE AIRE E CANDEEIROS

O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros é uma área protegida criada em 4 de Maio de 1979 pelo Decreto-Lei Nº 118/79 e tem por objectivo a protecção dos aspectos naturais assim como a defesa do património arquitectónico existente nas serras de Aire e Candeeiros; possui uma área de 38 900 hectares, abrangendo os municípios de Alcobaça e Porto de Mós no Distrito de Leiria e Alcanena, Rio Maior, Santarém, Torres Novas e Ourém no Distrito de Santarém.

Geografia
O parque está enquadrado no Maciço Calcário Estremenho, abrangendo as duas serras que lhe dão o nome e ainda o planalto de Santo António e o planalto de São Mamede. Pode dizer-se que o parque abrange 3 unidades morfológicas de altitude:

Planalto de Santo António, localizado a sul e centro do parque
Serra dos Candeeiros, localizada a oeste
Planalto de São Mamede (a norte) e Serra de Aire (a leste)

Derivado das movimentações tectónicas e da modelação do terreno, estas unidades encontram-se delimitadas por unidades geológicas resultantes da formação de falhas: depressão de Alvados, polje de Mira-Minde e depressão da Mendiga.

Clima
A área abrangida pelo parque encontra-se numa situação de transição entre influências mediterrâneas e atlânticas. Por ano, o número de horas de sol descoberto é de cerca de 2350 horas. O valor mensal de insolação poderá ser três vezes maior no Verão, em relação aos meses de Inverno.

No que diz respeito à ocorrência de precipitação anual, esta varia entre 900 mm e 1300 mm. Durante cerca de dois a três meses do ano, poderão ocorrer geadas, normalmente entre o fim do Outono e o fim do Inverno.

Geologia
Grutas de Mira D'Aire
A rocha é um elemento sempre presente na paisagem do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros que ocupa mais de dois terços do Maciço Calcário Estremenho (no Maciço Calcário Mesozóico) que é a mais importante zona calcária de Portugal.



Ao longo do tempo, através de processos geomorfológicos, os elementos naturais foram modelando a rocha, sobretudo de origem calcária, dando origem a mais de mil e quinhentas grutas. À superfície, outros elementos geológicos de relevo são os algars, os campos de lapiás, as dolinas, as uvalas e os poljes. O Maciço, como qualquer formação montanhosa, teve origem nos movimentos tectónicos da crusta terrestre que, após milhares de anos de movimentações das placas continentais e oceânicas, emergiu da superfície.

Uma grande parte das estruturas geológicas existentes teve a sua origem no Jurássico Médio. Outras, de génese mais recente, são constituídas por materiais detríticos e sedimentares. É de referir ainda a presença de terra rossa, sobretudo em zonas de depressão.

Possui ainda das poucas salinas de origem não marinha existentes em Portugal. De especial relevo as salinas da Fonte da Bica, localizadas em Rio Maior.


Recursos hídricos
A água, pouco visível à superfície, abunda no subsolo, fazendo desta zona um dos maiores, ou mesmo o maior reservatório subterrâneo de água doce do país; este reservatório que vai de Rio Maior até Leiria e conta com cerca de sessenta e cinco mil hectares, é alimentado principalmente pela chuva que, infiltrando-se rapidamente no subsolo, forma ribeiras subterrâneas, restituindo depois o excedente à superfície, formando uma nascente cársica como é o caso das nascente dos Olhos de Água do Alviela, a mais importante de todas e alvo de captação por parte da EPAL para fornecimento de água a Lisboa desde 1880.

                   

Biodiversidade

 Fauna
 Mamíferos
Devido à existência de grande quantidade de grutas e outro tipo de cavidades rochosas, não é de estranhar que existam no parque algumas espécies de morcegos. Cabe salientar a presença das seguintes:

Morcego-de-peluche (Miniopterus schreibersii)
Morcego-lanudo (Myotis emarginatus) - (único local de reprodução no país)
Morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale)

As espécies de morcego permitem a subsistência de uma fauna específica nas cavidades rochosas em que se refugiam. 
SCHREIBERSII

São eles que fornecem alimento (em forma de matéria orgânica: fezes e outros) a esta fauna cavernícola (crustáceos, aracnídeos e vários tipos de vermes).

Em termos da presença de mamíferos cabe ainda salientar a presença da geneta (Genetta genetta), raposa (vulpes Vulpes), javali (sus srofa), texugo (meles meles), sacarrabos (herpestes ichneumon), gato bravo (felis silvestris) e o coelho bravo (oryctolagus cuniculus)Também cabe salientar a presença do Corço (capreolus capreolus) em algumas áreas do parque.

Aves
Derivado da heterogeneidade dos habitats existentes no parque, não é de estranhar a existência de uma diversidade de aves que se encontram adaptadas a condições particulares.

Gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) que nidifica somente nas inúmeras cavidades rochosas existentes no parque. Esta espécie também está dependente da existência de sistemas agro-pastoris, cada vez mais raros devido ao abandono progressivo das práticas agrícolas.
Bufo-real (Bubo bubo)
BUBO BUBO
Águia de asa redonda (buteo buteo)
Águia de Bonelli (hieraaetus fasciatus)
Águia cobreira (Circaetus gallicus)
Corvo (corvus corax)
Gavião (accipiter nisus)
Peneireiro (Falco tinnunculus)
Coruja das torres (tyto alba) 
Águia Calçada (Hieraaetus Pennatus)
ÁGUIA CALÇADA


Ógea (falco subteo)
Coruja do mato (strix aluco)
Mocho galego (Athene noctua )

 Répteis
Chalcides chalcides - Fura-mato ou cobra-de-pernas-tridáctila
Vipera latastei - Víbora-cornuda (presente em habitats rochosos)
VÍBORA CORNUDA

Nos ambientes aquáticos ocorrem ainda duas espécies de cobras-de-água:
Natrix natrix
Natrix maura.

 Anfíbios
O parque alberga uma quantidade apreciável de espécies de anfíbios (cerca de treze), que dependem da existência de charcos temporários e de lagoas (ex.: Lagoa de Alvados) para a sua reprodução. Algumas das espécies de anfíbios existentes no parque são:
Salamandra-de-fogo (Salamandra salamandra)
Salamandra-de-costelas-salientes (Pleurodeles waltl)
Tritão-marmoreado (Triturus marmoratus)
Sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes)
PLEURODELES WALTL

A grande diversidade biológica é sustentada pela existência de uma heterogeneidade de habitats. Os principais são os habitats aquáticos, rochosos e os arrelvados calcícolas.

Insectos e outros invertebrados
Este parque constitui um dos melhores locais em Portugal onde se podem observar muitas espécies de insectos associados a zonas calcárias e habitats calcícolas pela sua extensão e diversidade de locais. 
BRANCA PORTUGUESA

Assim, estão reconhecidas mais de 300 espécies de borboletas (Lepidoptera) entre as quais a rara Branca-Portuguesa (Euchloe tagis) cuja população aqui é a mais a Norte em Portugal; a Cupido lorquinii e a Crocallis auberti.


 Fauna cavernícola
A grande particularidade deste Parque Natural, prende-se com o facto de albergar espécies endémicas de vida subterrânea. Estes animais denominados troglóbios, vivem exclusivamente no ecossistema subterrâneo, composto pelas grutas e fissuras ao longo dos calcários. 
ARANHA CAVERNÍCOLA

Conhecem-se três espécies de escaravelhos cavernícolas do género Trechus: Trechus machadoi, Trechus gamae e Trechus lunai, endémicas da zona calcária incluída no Parque Natural das Serras d'Aire e Candeeiros. É também de salientar, que este é o único local do mundo habitado pela aranha cavernícola Nesticus lusitanicus.

Flora
Mais de seiscentas espécies vegetais podem ser encontradas no parque — o que representa cerca de um quinto do total das espécies em Portugal — e muitas delas não se encontram em mais nenhum local (são endemismos). Para além de 25 espécies diferentes de orquídeas, podem encontrar-se o narciso, o alecrim, a pimenteira, o carvalho ou a azinheira, entre muitas outras. A maior parte da superfície do Parque é ocupado por matagais, muitos deles considerados na Rede Natura 2000 como um tipo de habitat prioritário e exemplos únicos no mundo. Ao longo dos tempos, o coberto florestal original foi sendo substituído por outros tipos de vegetação. Actualmente ainda existem relíquias do coberto vegetal primitivo, sobretudo sob a forma de carvalhais constituídos por carvalho-cerquinho (Quercus faginea).

A zona do parque está sujeita, com menor ou maior intensidade, a fogos florestais. Muitas das espécies botânicas existentes estão dotadas de características que lhes permitem sobreviver mais adequadamente ao fogos. Algumas delas, como é o caso das orquídeas, têm a sua floração estimulada quando ocorre este tipo de evento.
Alguma da flora característica do parque.

Património
Pegadas de dinossáurios
O Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém/Torres Novas ou Monumento Natural das Pegadas dos Dinossáurios da Serra de Aire, mais conhecido apenas por Pegadas da Serra de Aire foi criado em 1996, pelo Decreto Regulamentar 12/96 de 22 de Outubro. Como o nome indica, situa-se na Serra de Aire, perto de Fátima, nos municípios de Ourém e Torres Novas e é parte integrante do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, ocupando uma área de cerca de 20 hectares

História do Monumento Natural
Vista da pedreira
No local onde hoje se encontram as pegadas de dinossáurio funcionava uma pedreira, a Pedreira do Galinha; em 4 de Julho de 1994, João Carvalho, da Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia, descobriu as pegadas que viriam a transformar a pedreira no monumento actual. O Museu Nacional de História Natural cria um grupo de trabalho que realiza dois relatórios que servem para demonstrar às entidades oficiais e científicas, a importância paleontológica do achado e consequente criação do monumento.
O monumento é aberto ao público em 1 de Março de 1997 e no mesmo ano é aberto o primeiro circuito autónomo de visita e de interpretação da jazida. Em 2002 é criado o Jardim Jurássico que tem o objectivo mostrar aos visitantes plantas actuais de grupos botânicos característicos no Mesozóico, a "Era dos Dinossáurios", e o Aramossáurio. O parque possui ainda uma área de animação, um Centro de Animação Ambiental, um parque de merendas, um grande painel ilustrativo da evolução da vida na Terra ao longo do tempo geológico e diversos painéis informativos ao longo dos cerca de 1000 metros do seu percurso.

Os 20 trilhos existentes são os maiores e os mais antigos trilhos de saurópodes de que há conhecimento (175 milhões de anos) mas também, dos mais bem conservados, sendo compostos por mais de 1000 pegadas.

Formação
Há 175 milhões de anos, no Jurássico Médio, onde hoje se encontra a Serra de Aire existia uma zona rasa e costeira com partes inundadas por marés. 

Nessa altura, a Europa ainda se encontrava ligada à América do Norte, formando o supercontinente conhecido por Pangea e entre a Ibéria e o actual Canadá, existia um mar pouco profundo e de águas límpidas e quentes que promoviam a precipitação do carbonato de cálcio (CaCO3) do calcário e propiciavam a formação de recifes de coral. O clima era quente e húmido e por isso, a vegetação era abundante.
Jardim Jurássico

No fundo dessas lagunas marinhas, depositava-se uma lama de calcário, onde ficavam marcadas com facilidade as pegadas dos animais que por ali passavam; entre eles, encontravam-se os dinossáurios saurópodes, animais herbívoros, e de grande porte, podendo chegar aos 30 metros de comprimento e 70 toneladas de peso, para quem, esta paisagem de floresta abundante, era o lar perfeito, sendo desta espécie, a maioria das pegadas encontradas.

Depois de seca a lama plástica carbonatada onde as pegadas haviam sido produzidas, as impressões eram cobertas por novos sedimentos carbonatados que mais tarde se viriam a transformar em rocha calcária, cuja extracção permitiu pôr a descoberto os trilhos dos dinossáurios. O estudo dessas pegadas é importantíssimo para o conhecimento dos hábitos e forma de viver dos dinossáurios, como se movimentavam, a que velocidade e se o faziam sozinhos ou em grupos ou manadas.

Polje de Mira-Minde
O Polje de Minde foi incluído, em 2 de dezembro de 2005, na Lista das Terras Húmidas de Importância Internacional no âmbito da Convenção de Ramsar. Trata-se de uma depressão cársica que, nos anos de maior pluviosidade, fica inundada durante vários meses.
                  

 UM PASSEIO NA SERRA DE AIRES

Cavidades cársicas
Na área do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros estão inventariadas mais de 1500 cavidades, resultantes da infiltração da água através de falhas e diaclases e consequente acção de meteorização química sobre a rocha calcária. 

Deste processo resulta uma vasta e complexa rede de cursos de água subterrâneos que vai abrindo galerias de desenvolvimento horizontal (grutas) e de desenvolvimento vertical (algares). 


A água que circula nestas galerias, acaba por depositar o calcário que precipita, originando uma variedade de espeleotemas que se traduzem em formas de grande beleza como estalactites, estalagmites, colunas e mantos calcíticos.


Cisternas
Devido à natureza calcária do solo, os poços não eram uma opção; essa dificuldade obrigou as populações a inventar outras formas de reter as águas pluviais. As cisternas eram construídas nas reentrâncias das rochas ou em pequenos algares, dada a sua impermeabilidade; nas habitações, a chuva era recolhida dos telhados e transportada para as cisternas através de caleiras.


IN "WIKIPÉDIA"

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